À espera de uma anunciada retaliação do Irã pelo ataque contra sua cúpula militar e programa nuclear na madrugada desta sexta por Israel, moradores do Estado judeu adotaram um tom entre o deboche e a ansiedade.
“Vamos nós de novo”, brincou o analista de TI Rafi Kummer, morador de Tel Aviv, por mensagem de texto. Ele disse que a principal cidade do país está calma, com pouco movimento nas ruas. “Estamos prontos para um longo fim de semana”, disse.
Em Israel, a folga começa na tarde de sexta, nos preparativos para o shabat, o resguardo semanal do trabalho. Usualmente, cidades mais religiosas, como Jerusalém, ficam bastante desertas até a noite de sábado -o domingo é a segunda-feira por lá.
“Só tem bastante gente na fila do mercado”, disse Yonatan Chaim, que trabalha como tradutor em Jerusalém. Ele e Kummer relataram a mesma percepção: o ataque do Irã será inevitável, mas se repetir a dose das duas ações diretas contra Israel no ano passado, tudo está bem.
A Folha presenciou em Jerusalém a segunda, no dia 1º de outubro, quando Teerã lançou 200 mísseis balísticos rumo a bases militares. Eles riscavam os céus e os alarmes aéreos fizeram as pessoas correr aos abrigos, mas rapidamente a rotina estava restabelecida.
Pelo sim, pelo não, as pessoas estão estocando água e alimentos, agora sem correria. Por óbvio, essa é uma expectativa calcada na confiança nos sistemas antiaéreos de três camadas de Israel e também no fastio com quase dois anos de alarmes diários.
Recentemente, o problema maior vinha dos houthis do Iêmen, que chegaram a atingir pontos próximo do principal aeroporto do país, o Ben Gurion, em Tel Aviv. “Mas a verdade é que ninguém entra muito em pânico faz tempo”, diz Kummer.
O setor aéreo é um dos mais afetados pela disrupção da guerra. Ben Gurion está fechado por tempo indeterminado, e empresas locais como a El Al levaram alguns de seus aviões para fora do país -mapas de sites de rastreamento mostraram Chipre com um destino preferencial.
Praticamente todo o entorno do Oriente Médio está com seu espaço aéreo com restrições, e a grande maioria das companhias parou de voar para Tel Aviv, Beirute, Amã e Teerã. Mesmo a gigante árabe Emirates, que costumava ser das últimas a parar de operar, fez como as aéreas europeias e cessou voos para a região.
Isso tudo pode piorar muito se a guerra de fato se tornar aberta. Um ponto de especial preocupação é o estreito de Hormuz, o gargalo por onde passa boa parte da produção de petróleo do mundo: um corredor no golfo Pérsico que tem meros 39 km de largura entre Irã e a península Arábica no seu trecho mais apertado.
O Irã tem múltiplas capacidades para cessar o tráfego marítimo por lá, e autoridades navais britânicas e gregas já emitiram alertas para evitar a região nesse momento. Isso já se reflete no preço do petróleo, o que pode tornar as filas nos mercados israelenses uma nota de rodapé da crise, a depender de sua evolução.
*Texto de IGOR GIELOW