ANTIJOGO VIROU REGRA

Mundial expôs o que falta ao futebol brasileiro: compromisso e respeito

O Mundial mostrou como o futebol deveria ser jogado: com intensidade, compromisso, combatividade. Que o Brasil aprenda.

Remo e Chapecoense foi marcado também por uma intensa prática de antijogo. Foto: Samara Miranda/Remo
Remo e Chapecoense foi marcado também por uma intensa prática de antijogo. Foto: Samara Miranda/Remo

Depois de algumas semanas de curtição com um bom Mundial de Clubes da FIFA — com jogos empolgantes, a ponto de nem mesmo a trilha sonora repetitiva estragar a experiência —, é hora de encarar novamente o futebol brasileiro. Bem que os nossos jogadores e treinadores poderiam se inspirar naquilo que foi apresentado nos campos norte-americanos. Não estou falando da qualidade técnica do espetáculo em si — estamos longe disso. Não temos jogadores de nível altíssimo nem treinadores tão estratégicos quanto os europeus. O abismo existe, sim.

Mas o Mundial mostrou como o futebol deveria ser jogado: com intensidade, compromisso, combatividade. E esse, talvez, seja o principal problema do futebol brasileiro atual: a falta de compromisso de jogadores e comissões técnicas com o produto que entregam em campo. Pior ainda é o desrespeito com quem paga ingresso. O torcedor, por ser passional, até releva se o time apenas “amassou” ou “deu baile”. Quer a vitória, custe o que custar. Mas quem gosta de analisar o jogo — de qualquer esporte — quer ver algo minimamente bem apresentado.

Afinal, ninguém gosta de receber um presente de aniversário embrulhado em saco de supermercado. Da mesma forma, quem curte o futebol de verdade gostaria de ver partidas bem jogadas.

Hoje, porém, a tradição brasileira parece ter abandonado essa essência e passa a valorizar mais a malandragem em campo. É raro vermos jogos com ao menos 60 minutos de bola rolando. Isso é impensável. Toda catimba é aceita. A cera virou regra. Cada defesa de goleiro é seguida de uma “cãibra” ou dedo estalado — claro, se o time estiver vencendo. O cai-cai se tornou um recurso banalizado.

Se o futebol é mesmo uma arte, o jogador que se submete ou pratica esse tipo de expediente mereceria vaias, como resposta imediata de uma plateia mais exigente. É hora de rever conceitos. De punir, com rigor, quem adota o antijogo, antes que a prática fuja de vez ao controle — o que, infelizmente, já parece estar acontecendo.

Um exemplo recente foi a reação do técnico português António Oliveira, logo após o empate entre Remo e Chapecoense. Ele reclamou do antijogo com o árbitro, e foi surpreendido por uma resposta destemperada do técnico adversário, Gilmar Dal Pozzo, que chegou a chamá-lo para uma discussão fora de campo.

Tomara que António mantenha essa disposição e, mais importante, consiga orientar sua equipe a combater esse cenário lastimável. Alguém precisa começar a mudança.

Clayton Matos

Diretor de Redação

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.