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Motociclista que transporta passageiros ganha entre 60% e 75% mais, diz pesquisa

Estudo da Secretaria Nacional de Trânsito mostra também que motocicletas e motonetas são o transporte preferencial dos usuários em alguns estados da Federação
Estudo da Secretaria Nacional de Trânsito mostra também que motocicletas e motonetas são o transporte preferencial dos usuários em alguns estados da Federação Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

CRISTIANE GERCINA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em meio aos debates sobre a regulamentação do trabalho de transporte por aplicativo no país, estudos encomendados pela 99Moto apontam o impacto da atividade na renda dos motociclistas, na ocupação e no PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Os levantamentos –feitos por Datafolha e FGV (Fundação Getulio Vargas)– foram divulgados no início de março e nesta quarta-feira (10), respectivamente. Os estudos mostram que quem transporta passageiros ganha entre 60% e 75% mais na comparação com o motociclista que trabalha apenas com delivery de alimentos ou produtos.
Além disso, apontam que a atividade foi responsável por movimentar R$ 5,6 bilhões do PIB em 2023, com geração de 114,2 mil vagas não formais no ano passado.
Segundo pesquisa Datafolha, 66% dos usuários de motos que contratam a 99 usam esse tipo de transporte para ir ao trabalho ou chegar ao ponto de ônibus ou metrô. A maioria deles é mulher –6 em cada 10–, tem renda de até R$ 2.000 (57%) e utiliza a moto por causa do valor, 30% menor do que nos aplicativos de transporte por quatro rodas, como Uber.
Os horários em que os clientes mais utilizam a 99Moto é entre 5h30 e 9h e, depois, no fim da tarde, das 17h às 20h. Dados da empresa mostram que as corridas percorrem uma distância média de 6 km e têm duração média de 11 minutos.
Sobre os ganhos –até 75% maiores na comparação com quem trabalha com entrega– a explicação está ligada à dinâmica da própria atividade, segundo Luis Gamper, diretor de duas rodas na 99.
“Se você for olhar a jornada de um motorista de passageiros, o que ele faz? Ele atende o pedido, vai até a pessoa, dá o capacete, a pessoa sobe na garupa, vai até o destino final e depois sai. Ele pega o capacete de volta e já está pronto para o novo pedido”, detalha.
“Quando vai fazer uma entrega, não. Você tem que chegar até o local, esperar a pessoa chegar com a entrega, depois dirigir até o destino final, esperar a pessoa receber, ou seja, a duração da experiência total de um motorista de passageiros versus entrega é muito diferente. Isso resulta nesses ganhos muito maiores”, diz.
Segundo ele, o valor mínimo pago pela empresa é de R$ 4,50 por hora, mas pode chegar a R$ 4,60 em alguns municípios.
O trabalho dos motoristas de transporte por aplicativo no setor de duas rodas não faz parte da regulamentação da categoria apresentada em projeto de lei do governo no início de março deste ano. Construído após nove meses de reunião entre o setor público, as empresas de app e os trabalhadores, não houve consenso na área de motocicletas.
Sobre o projeto do governo, Gamper não comenta, mas diz acreditar que o debate tem que seguir sendo feito, além de que afirmar ser importante manter a atividade na categoria de trabalho autônomo. “A gente tem a nossa indústria de flexibilidade de trabalho, de conseguir trabalhar o horário que quer, no dia que quer.”
Em nota, a 99 diz que “caso o Congresso Nacional decida abordar essa questão no projeto de lei, a 99 está aberta para contribuir com as conversas sobre o assunto”.
EMPRESA SE PREPARA PARA TENTAR INICIAR ATIVIDADES NA CAPITAL PAULISTA
Fundada em 2022, a 99Moto atua em quase 3.400 municípios brasileiros, incluindo as maiores capitais. Esse tipo de transporte, no entanto, ainda não está presente na cidade de São Paulo, a maior cidade do país, mas atinge o entorno, com presença em todas as cidades da Grande SP.
A meta da empresa é entrar em atividade na capital paulista, algo que chegou a ser anunciado no ano passado, mas foi barrado pela prefeitura por conta de falta de regulamentação legal. Com o estudo da FGV, a 99Moto pretende mostrar o impacto econômico.
Os dados apontam para injeção de R$ 820 milhões no PIB, R$ 28 milhões em impostos e geração de ao menos 11 mil postos de trabalho autônomos.
Para calcular a movimentação econômica, a FGV levou em conta toda a cadeia afetada pela atividade, que vai desde a compra da moto até a manutenção do veículo, usando como base as cidades onde o trabalho de transporte de moto por aplicativo já foi implantado, especialmente o Rio de Janeiro.
“Antes da ocorrência das corridas da 99Moto, foi necessário que o motorista cadastrado induzisse uma série de transações econômicas, como a aquisição da motocicleta, manutenção do veículo, abastecimento, pagamento de aluguel (quando a moto é alugada), pagamento de seguros e IPVA”, diz relatório da FGV, explicando a metodologia do estudo.
Em São Paulo, a atuação seria uma aposta. As pesquisas da empresa apontam que a atividade é muito bem aceita em cidades que já tinham o serviço de mototáxi como um dos principais no transporte, como é o caso de Manaus (AM), Belo Horizonte (MG) e Recife (PE). O Nordeste e o Norte têm sido os maiores mercados.
A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da 99 em março.