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M3gan: Você quer brincar?

M3gan: Você quer brincar?

Quem acompanha esta coluna, sabe que admiro o trabalho de James Wan, por criar sucessos no gênero de horror e ser um bom diretor, principalmente ao trabalhar com expectativas e espaços fechados, extraindo tensão de situações absolutamente corriqueiras e sem apelar para sustos fáceis. Além, é claro, de arrancar risos nervosos em momentos chaves dos filmes e criar criaturas memoráveis, inserindo algumas delas no panteão no gênero, como Annabelle e a Freira.

                O grande problema dele é quando assume o cargo de produtor, botando seu nome em coisas ruins ou medianas, como nos filmes solos da Freira e da Annabelle, além de horrorosos como “Spiral- Legado de Jogos Mortais” e “A Maldição da Chorona”. Com “M3gan”, ele não foge dessa queda de qualidade, ainda que a produção tenha algumas virtudes.

                De cara, é interessante notar como Wan e sua equipe (incluindo a roteirista Akela Cooper, que trabalhou com ele no bom “Maligno”) conseguem criar, mais uma vez, uma antagonista boa. A boneca-robô tem um design baseado na estranheza e que causa medo de cara, além de trejeitos que conseguem emular os movimentos cibernéticos, acrescentando traços animalescos e demoníacos, graças ao bom trabalho corporal da atriz Amie Donald e da equipe de efeitos especiais.

                Gerard Johnstone prova ter talento para a direção, mostrando que entende de profundidade de campo e enquadramento, além de dar alguns sustos no momento certo. Toda vez que quer mostrar desconfiança na boneca, ele centraliza a imagem nos seus olhos expressivos, por exemplo.

                O maior problema do filme, a meu ver, é a falta de definição sobre o que pretende ser: um terror puro ou uma comédia de horror. Para garantir uma censura mais branda, Johnstone evita mortes violentas ou as põe fora de tela, um movimento completamente contrário do “gore” de “Maligno”. M3gan até tenta imitar a histeria do seu antecessor, em cenas para arrancar algumas risadas, mas estas soam fora de contexto, e falham por causa dos diálogos rasos, construção narrativa cheia de buracos e do elenco caricato. Além, claro, de ser uma cópia meio descarada do remake ruim de “Brinquedo Assassino”. Há alguma crítica social também sobre consumo infantil, mas fica tão no raso que é melhor ignorar.

                Aliás, o roteiro é bem qualquer coisa, não justificando os atos da pequena vilã (que começa protegendo a “dona”, mas depois mata indiscriminadamente) ou as atitudes dos outros personagens. É preciso apostar muito na “suspensão da descrença” para aceitar que a criadora do robô ande com ela para cima e para baixo, ou que uma empresa apostaria no lançamento de um brinquedo que valeria 50 mil dólares e sem nenhuma linha de produção montada. Vale conferir se você gosta do “Invocaverso” (derivados de Invocação do Mal) ou de um terror praticamente inofensivo. Deve ganhar sequências.