ÚLTIMO ADEUS

Lula presta homenagem a Pepe Mujica e exalta legado político

Em Montevidéu, presidente brasileiro comparece ao velório e destaca a grandeza do ex-líder uruguaio como símbolo de generosidade.

Foto: Ricardo Stuckert/PR
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou nesta quinta-feira (15/05) a Montevidéu, no Uruguai, para participar do velório do ex-presidente José “Pepe” Mujica, falecido recentemente. Lula fez questão de interromper sua agenda internacional na China e viajou por mais de 25 horas para prestar uma homenagem pessoal ao amigo e líder latino-americano. A primeira-dama Janja Lula da Silva também esteve presente na cerimônia.

Emocionado, Lula destacou que Mujica transcendeu a política, tornando-se uma referência ética e moral para várias gerações. “Pepe Mujica é um ser humano superior, alguém cuja generosidade, mesmo após 14 anos de prisão e tortura, nunca deu lugar ao ódio. Isso é uma dádiva de Deus, e são poucos no mundo com a sua grandeza”, afirmou.

Lula ressaltou que Mujica deixa um legado de esperança, simplicidade e compromisso com os mais pobres. “Uma pessoa como Pepe Mujica não morre. Suas ideias continuam vivas. Ele foi um exemplo raro de como a política pode ser feita com dignidade, respeito e humanidade.”

O presidente também relembrou os encontros marcantes com Mujica ao longo dos anos, incluindo a visita do uruguaio à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, em 2018, quando Lula estava preso, e o apoio explícito de Mujica à sua candidatura nas eleições de 2022. Em dezembro de 2024, Lula concedeu a Mujica a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria brasileira a estrangeiros.

Trajetória de um símbolo da política progressista

José “Pepe” Mujica nasceu em Montevidéu, em 20 de maio de 1935, e completaria 90 anos na próxima terça-feira. De origem humilde, entrou para a política como integrante do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, um grupo guerrilheiro de esquerda que combateu a ditadura uruguaia entre os anos 1960 e 1970.

Preso em 1972, Mujica passou 14 anos encarcerado, período no qual sofreu torturas e isolamento extremo. Foi libertado em 1985, com o retorno da democracia e a aprovação de uma anistia política. Anos depois, foi deputado, senador, ministro da Agricultura e, em 2010, eleito presidente do Uruguai.

Reconhecido mundialmente como o “presidente mais pobre do mundo”, Mujica viveu de forma simples em um sítio nos arredores de Montevidéu, dirigindo seu próprio Fusca e doando grande parte do seu salário a projetos sociais. Seu governo foi marcado por políticas progressistas, como:

  • Legalização da maconha;
  • Descriminalização do aborto;
  • Lei do casamento igualitário, incluindo a adoção por casais homoafetivos.

Após deixar a presidência, retornou ao Senado até 2020, quando se afastou por motivos de saúde. Em abril de 2024, revelou ter sido diagnosticado com câncer no esôfago, o que o levou ao afastamento definitivo da vida pública.

Um último adeus com respeito e admiração

Durante a cerimônia de despedida, Lula fez um apelo à continuidade do legado de Mujica: “Espero que ele e o Papa Francisco, que também nos deixou recentemente, possam do céu continuar nos guiando, abençoando e inspirando uma política mais fraterna, generosa e solidária.”

A presença de líderes como Gabriel Boric (Chile), Yamandú Orsi (Uruguai) e diversas autoridades internacionais reforçou o impacto de Mujica como figura essencial da democracia e da justiça social na América Latina e no mundo.