GIULIANA MIRANDA
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Considerado o maior evento internacional da Igreja Católica, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) começou nesta terça-feira (1º) em Lisboa com clima de festa nas ruas e o centro da cidade tomado por peregrinos.
O encontro deste ano, o primeiro após a pandemia de Covid e com presença do papa Francisco, deve atrair cerca de 1 milhão de pessoas à capital lusa, o que representa o dobro de sua população. Os efeitos da “invasão” da juventude católica se fazem sentir por toda a cidade.
A agitação começa já no metrô, principal meio de transporte para o evento e onde os inscritos podem andar gratuitamente, com peregrinos cantando músicas de louvor e entoando orações diversas, em uma mistura frenética de idiomas e sotaques.
Além da camiseta e da mochila oficiais da JMJ, outro acessório tem dominado a paisagem: as bandeiras. De países a times de futebol, passando por grupos de escoteiros e símbolos regionais, elas estão em toda parte.
Enrolado no emblema brasileiro enquanto assiste à missa inaugural da jornada, que vai até o domingo (6), o estudante de engenharia civil Felipe Veloso, 21, conta que veio de Camacã, na Bahia, para ser voluntário no encontro.
“Sempre tive vontade de participar de uma Jornada Mundial da Juventude, e agora surgiu essa oportunidade para trabalhar e ajudar esse encontro belíssimo, que reúne jovens do mundo todo com o mesmo propósito. Está sendo uma experiência incrível.”
Também voluntário, o professor universitário Sérgio Moraes, 29, está em sua segunda JMJ. Natural de Patos, na Paraíba, ele diz que a mensagem de acolhimento e de inclusão do papa Francisco é particularmente inspiradora para os jovens e está ajudando a mudar positivamente a Igreja Católica.
“O papa Francisco deu [à Igreja] uma abertura imensa, e não só para a juventude.”
Como muitos dos peregrinos inscritos no evento, a dupla brasileira está hospedada na rede de alojamentos disponibilizada pela organização, que vai desde estadias em escolas e paróquias até acolhimento em casas de família.
Esta edição da jornada bateu, aliás, o recorde de nacionalidades representadas. Segundo a organização, houve inscrições de todos os países, com exceção das Maldivas.
Ponto central dos primeiros dias da festa, o palco instalado no parque Eduardo 7º fica em uma área majoritariamente descampada. As opções de árvores e sombras são disputadas. Sob o calor do verão português, os jovens faziam o que podiam para se refrescar. Um dos chafarizes do parque acabou virando uma piscina improvisada.
Ainda que o protagonista do encontro, o papa Francisco, só desembarque em solo português na quarta-feira (2), Lisboa já está tomada de eventos vinculados à JMJ.
Localizado cerca de 2,5 km do palco principal, o Festival da Juventude promove shows de grupos musicais católicos, entre outras atividades. Instalado em um tradicional ponto de encontro da comunidade imigrante asiática, o palco atraiu um pequeno público em seu dia de estreia.
Enquanto isso, acompanhada por milhares de pessoas no recinto principal, a transmissão da missa inaugural da JMJ, celebrada por Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, angariou pouca atenção no telão do palco do festival.
A poucos metros dali, a avenida Almirante Reis foi transformada em uma espécie de corredor de protestos contra o evento. Colados nas paredes dos prédios, diversos cartazes relembram o relatório de uma comissão independente que identificou pelo menos 4.815 casos de abuso sexual de menores perpetrados por membros da Igreja Católica em Portugal.
A via é a mesma onde, no começo de julho, a Câmara Municipal de Lisboa (equivalente à Prefeitura) foi acusada de remover pessoas em situação de rua antes da visita papal. As autoridades rechaçaram essas afirmações, destacando que realizam operações periódicas de limpeza na região.
Outro alvo de críticas entre os portugueses é o investimento público na jornada. O custo total ainda não foi contabilizado. O governo luso previu gastar cerca de R$ 187,9 milhões, enquanto a Câmara de Lisboa disse que investirá no máximo outros R$ 182,7 milhões.