Notícias

GERSON NOGUEIRA: Futebol & samba: onde a folia esfriou?

Foto:  Lucas Figueiredo/CBF
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Carnavalizar o futebol ou futebolizar a folia? Eis o dilema que se impõe à pátria de chuteiras e sapatilhas, que se divide – pelo menos em fevereiro – entre gramados e sambódromos. Pode-se discorrer horas sobre essas duas forças motrizes da cultura brasileira, tão fortemente enraizadas na alma da população ao longo do tempo e igualmente tão castigadas pela incúria dos que detêm poder.

Pode-se dizer, com alguma condescendência, que o samba se modernizou, para desilusão de muitos, sentimento que o gênio Paulinho da Viola nunca nem disfarçou. Ocorre que a força da grana mudou por completo o conceito carnavalesco que prevalecia até os anos 1960.

O carnaval das escolas gigantes, com suas alas recheadas de turistas, é a realidade de hoje. Produto de entretenimento, embora não menos expressivo de uma cultura que se alastra hoje por vários segmentos sociais. O preço que a geração nutella paga para desfilar é também a garantia de sobrevivência das escolas tradicionais.

A indústria do entretenimento funciona assim, em dupla face, tanto para os brincantes endinheirados quanto para quem passivamente contempla o “maior espetáculo da terra” aboletado no sofá de casa.

O futebol vive realidade não menos desplugada das massas, consolidando-se cada vez mais como um simples negócio, às vezes cruelmente distanciado de suas origens mais dignas.

Gerido e pensado para dar lucros milionários, o esporte alcançou limites estratosféricos em relação ao passado recente, tanto em salários quanto em faturamento com direitos de transmissão e exploração da marca.

As grandes ligas europeias confirmam a milenar máxima de que o dinheiro pode tudo, permitindo que os times se transformem em verdadeiras legiões estrangeiras no esforço para se tornarem imbatíveis. Alguns são mais poderosos que a maioria das seleções, pois reúnem a nata do futebol, colocada à disposição dos melhores técnicos do planeta.

E o Brasil, em meio a isso, como fica? Ora, o país pentacampeão do mundo vive na aflitiva condição de sonhar com um mercado rentável, observando com inveja a movimentação dos clubes mais ricos, impotente para impedir que os jogadores mais promissores permaneçam por aqui.

Vinícius Jr., Rodrygo, Neymar, Martinelli, Richarlyson e agora Endrick saíram daqui porque não havia como ficar.

Apesar disso, o êxodo de atletas de qualidade rumo ao Velho Continente vem diminuindo a cada temporada, coincidindo não por acaso por um movimento inverso: o do eterno retorno de veteranos sem mercado lá fora.

Para cada Vinícius ou Endrick que parte, o país vê a farra de contratações de atletas em fim de carreira, já em plena decadência, mas ainda capazes de encantar dirigentes especializados em iludir torcedor. E tome David Luiz, Paulinho, Renato Augusto, Hulk e Filipe Luís descendo do avião.

Mesmo com a vocação exportadora, é inegável que a presença de craques nacionais encolheu nas ligas europeias. Vai longe a era da fartura, que legou ao mundo gente do porte de Zico, Falcão, Romário, Bebeto, Djalminha, Ronaldo, Rivaldo, Giovanni, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano, Roberto Carlos, Cafu e outros.

Kaká, aliás, foi um dos últimos moicanos. É dele a última Bola de Ouro conquistada por um craque brasileiro. Brilhou em 2007, superando Lionel Messi e Cristiano Ronaldo na corrida pelo cobiçado Fifa World Player of the Year. Kaká havia sido um dos condutores do Milan na conquista da Liga dos Campeões 2006/2007.

Foi o último brilho brazuca no cenário dos maiorais. Depois dele, ninguém mais sequer se igualou aos melhores futebolistas do mundo. Messi e CR7 dominaram a cena, deixando o Brasil na arquibancada, observando a passagem do desfile das grandes agremiações.

É claro que, para quem legou ao futebol seus traços de mais alegria, através de gênios do drible e dos gols, como Pelé, Tostão, Romário e Ronaldinho, o papel de coadjuvante é duro de aceitar. Nenhum ranking atualizado põe brasileiros em destaque na prateleira europeia.

Vinícius é uma exceção que confirma a fase de estiagem. Nem ele, porém, foi capaz de brilhar na grande apoteose do futebol. A Copa do Mundo do Qatar celebrou o apogeu de Messi, cracaço argentino, melhor de sua geração e a anos-luz dos demais, incluindo os brasileiros mais talentosos.

Pode-se perguntar, em meio a esse cenário de dispersão, onde e por que atravessamos o samba? De país-berço de talentos, o Brasil se contenta em assistir o brilho alheio. As Copas também revelam essa realidade. Desde 2002, a Seleção não mais conseguiu chegar à final. Em 2014, foi à semifinal, mas saiu sob circunstâncias vexatórias. Nas outras edições, eliminações dolorosas, sempre para europeus.

O samba precisa voltar a ser samba, da mesma forma que o futebol tem que se reinventar – nem que seja pela batuta de um comandante estrangeiro. Há alguns anos, a simples ideia iria soar como suprema heresia. Hoje, talvez seja a única alternativa para fazer a escola brasileira de futebol voltar a brilhar na avenida.

 

Bola na Torre

Em ritmo de telecoteco, Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h30, na RBATV. Na bancada de analistas, Valmir Rodrigues e este escriba baionense. Em pauta, o Campeonato Paraense, a Copa Verde e a Copa do Brasil. A edição é de Lourdes Cezar.

 

Japiim abre Copa Verde para os representantes paraenses

O Castanhal joga hoje, em casa, às 15h, abrindo a participação de clubes paraenses na Copa Verde 2023. Recebe o Real Ariquemes, de Rondônia, clube fundado em 2011 e com pouquíssima tradição no futebol nortista.

O Japiim, ao contrário, é acostumado a disputar competições nacionais e interestaduais. É favorito para conquistar a vaga, mas, obviamente, não pode subestimar o adversário.

Caso passe pelo Ariquemes, vai enfrentar o Paysandu, em jogo previsto para a próxima semana, na Curuzu.