O futebol é um universo à parte. Isso vale para o que acontece nas arquibancadas, no gramado e nos bastidores. Tudo o que é proibido ou condenável no mundo real ganha um salvo-conduto generoso se a artimanha tiver alguma ligação com o mundo da bola. Não à toa, a Fifa pune qualquer clube que ouse entrar na Justiça comum para deliberar sobre uma decisão. Tudo começa — e deve morrer — ali, na sombria esfera esportiva.
O mundo da bola se modernizou, é verdade. Mas certos vícios seguem firmes. Um deles — o principal, talvez — é a ausência de um código de conduta que responsabilize dirigentes que colocam as finanças dos clubes em risco. Algo como uma Lei de Responsabilidade Fiscal do Futebol. Prestação de contas obrigatória e formas de reparar lambanças ou decisões tomadas de forma leviana. Só assim se reduziria o número de barbeiragens, como o recente caso Keffel, no Paysandu.
Na ocasião, a diretoria da época imaginou ter encontrado uma mina de ouro. Compraram metade dos direitos econômicos do jogador, apresentado como o novo Roberto Carlos da lateral-esquerda. Keffel jogou apenas um tempo — o suficiente para deixar claro que não colocaria sequer uma das meias do ex-jogador do Real Madrid e da seleção brasileira. Resultado: o clube não pagou o valor acordado ao Portimonense, de Portugal. O calote custou caro. O Papão foi denunciado à Fifa e agora está impedido de realizar contratações até quitar o débito — de algumas centenas de milhares de reais. E ainda fazem vaquinha com a torcida.
Quer dizer: alguém tem a brilhante ideia de gastar o que não tem numa aposta de alto risco — e quem paga o pato é o torcedor?
O clube tem um Conselho Fiscal e conselheiros que deveriam cobrar explicações sobre esse caso. Mas isso não vai acontecer. Cobrar pode significar retaliações futuras ou a perda de algum privilégio. E assim, segue o baile.
Não será o último caso. Veremos outros se repetirem com Paysandu, Remo e tantos clubes país afora — tudo sob a sombra de uma cortina quase eterna da impunidade.
Voltamos a qualquer momento…