
O que filme precisa ter para lhe emocionar? Um elenco conhecido? Uma trilha sonora marcante? Efeitos especiais? E que tal um gatinho preto? O barato do cinema é esse, não precisa de muito para envolver o espectador, basta uma boa história e um protagonista carismático. No caso de “Flow” (2024), acompanhamos um simpático bichano, que em um mundo onde a humanidade já não existe mais, precisa sobreviver a uma enchente se juntando a outros animais de espécies diferentes.
Merecido vencedor do Oscar de Melhor Animação, a produção dirigida por Gints Zilbalodis, se beneficia por ser uma produção independente para ressaltar suas qualidades em meio à falta de recursos, criando assim uma atmosfera ao mesmo tempo bonita e real, e também onírica, com cada frame parecendo quadros desenhados à mão, mesmo sendo feitos em computação gráfica. É impressionante o trabalho da diminuta equipe de produção com texturas e luzes, principalmente com a água como um dos elementos principais.
Com um roteiro simples e direto, Zilbalodis traz o espectador para dentro da jornada do gatinho e seus amigos, dando personalidade para cada um, mas sem antropomorfizar os animais ou explicar demais o contexto onde tudo se passa. Cada um age com seu instinto particular, mas ao mesmo tempo, agregando sentido ao tempo juntos dentro de um barco ou em terra firme.
Sempre mantendo a câmera na altura da curiosidade do gato e em planos sequências que lembram jogos de videogame, com a imagem acelerada ou lateralizada em vários momentos, o diretor promove um passeio por cenários devastados e também minimalistas, sem abrir mão de uma estrutura narrativa calcada na jornada do herói.
Assim, quando nós já estamos completamente envolvidos com nosso novo amigo felino, a ponto de sentirmos medo e alegria por ele, Zilbalodis traz para a soma catártica temas profundos como união, perda e resignação, caminhando para um final que, mais do que aberto, permite interpretações múltiplas, mas carregadas de esperança e amor entre os diferentes. Assim como o fluxo da vida, que segue a corrente imaginária do tempo, ou literal, como ocorre aqui.
Flow teve como um dos concorrentes “Robô Selvagem” (2024), que também traz animais e o temas de amor e companheirismo, mas com a abordagem mais frenética e no padrão Dreamworks de humor escrachado e excesso de mensagens. É outra ótima animação, mas tinha o pequeno concorrente da Letônia na busca da estatueta dourada.
Para ver e rever sempre que possível.
CONFIRA O TRAILER DE FLOW: