CINEMA

Faça Ela Voltar: o terror pela perda

Os irmãos Philippou horror nos cinemas, com "Faça Ela Voltar", só que dessa vez com uma agoniante metáfora sobre o luto familiar

Os irmãos Philippou horror nos cinemas, com "Faça Ela Voltar", só que dessa vez com uma agoniante metáfora sobre o luto familiar. Foto: Divulgação
Os irmãos Philippou horror nos cinemas, com "Faça Ela Voltar", só que dessa vez com uma agoniante metáfora sobre o luto familiar. Foto: Divulgação

Em 2023, os irmãos Danny Philippou e Michael Philippou surpreenderam o mundo com o terror “Fale Comigo”, uma fábula assustadora sobre uma mão sobrenatural que permitia o contato com o mundo dos mortos, e que era usada por jovens como uma droga. O trabalho inicial deles escondia um rico subtexto sobre espetacularização das redes sociais e a solidão adolescente.

Este ano, a dupla voltou ao horror nos cinemas, com “Faça Ela Voltar”, só que dessa vez com uma agoniante metáfora sobre o luto familiar e o apego excessivo à memória de quem já se foi, com algumas camadas importantes sobre os conflitos da juventude.

Para isso, a dupla não poupa o espectador da construção dramática baseada em um crescendo de angústias e cenas absolutamente aterrorizantes, de cravar os dedos na poltrona do cinema. Os dois confirmam o talento para o horror, alternando planos fechados da casa e ressaltando a opressão do único ambiente usado praticamente o filme inteiro, e outros mais abertos, revelando as reviravoltas do filme.

Dois irmãos adolescentes são enviados para um lar adotivo após a morte do pai, mas descobrem que a nova “mãe” adotiva esconde segredos sombrios. Importante mencionar o trabalho impecável de Sally Hawkins, que não cede aos maneirismos que uma personagem assim poderia expressar e transborda angústia e dúvidas na pele da mãe que se recusa a deixar a filha morrer física e espiritualmente. Novamente temos uma atuação marcante que, provavelmente, será ignorada pelas premiações por estar em uma obra de terror. Mas também é possível ressaltar o trabalho físico e emocional de todo o elenco jovem (como já ocorreu no trabalho anterior dos Philippou).

A obra trata de temas pesados em um ambiente macabro, com apenas alguns respiros de ternura, com personagens compartilhando perdas e traumas, mas sem abrir mão de ser um exemplar de gênero, com sustos, sangue e elementos de roteiro propositalmente soltos. Há alguns problemas na condução narrativa, com repetição de situações e ações injustificadas dos personagens, mas nada que afete o todo.

É mais um bom exemplar de terror, em um ano que tem se mostrado promissor para os fãs.

PARÁ EM GRAMADO

Fica aqui neste espaço também o registro da vitória do curta-metragem paraense “Boiuna”, da diretora Adriana de Faria, que venceu três prêmios kikitos no Festival de Gramado de 2025: Melhor Direção (Adriana), melhores atrizes para Jhanyffer Santos e Naieme (um empate entre as protagonistas do curta), e Melhor Fotografia para Thiago Pelaes. É mais uma prova que, diferente do que algumas pessoas consideram, nós temos sim gente competente tecnicamente fazendo bom cinema no Pará e em toda a Região Norte.