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EXCLUSIVO: A tragédia na Turquia vista pelos olhos de um paraense

Radicado naquele país desde 2011, o publicitário e gerente de vendas Daniel Queiroz conta sobre o drama vivido pelos cidadãos turcos. Foto: Divulgação
Radicado naquele país desde 2011, o publicitário e gerente de vendas Daniel Queiroz conta sobre o drama vivido pelos cidadãos turcos. Foto: Divulgação

Luiz Flávio

O sentimento é de luto coletivo… É o mesmo sentimento da época da Covid. É tudo muito triste… A gente fica abalado emocionalmente…”. O relato do paraense Daniel de Queiroz Pereira, 35, residente em Istambul, capital da Turquia, revela todo o sofrimento e o medo de quem vive no país, não foi atingido diretamente pelo terremoto, mas convive cotidianamente a dor das famílias das dezenas de milhares de mortos resultantes do acidente geológico ocorrido no último dia 6.

Daniel estudou design industrial por 2 anos, se formou em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), se especializou em gerenciamento de produtos digitais e hoje trabalha na indústria do turismo em uma holding, onde atua como diretor de vendas. Ao chegar na Turquia, em novembro de 2011, o publicitário se instalou na cidade de Bursa, onde ficou até maio de 2012. Em seguia se mudou para a cidade de Istambul, onde permanece até hoje, morando na área central.

“A princípio eu vim só para passar 6 meses em um intercâmbio profissional. Entre algumas alternativas de países a Turquia era a melhor opção por estar entre a Europa e Ásia. O intercâmbio acabou, e fui prorrogando a minha volta… Aí encontrei uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, e fui me enraizando por aqui”, relembra.

TENSÃO

Ele conta que não sentiu os tremores onde mora, como ocorreu na Capadócia, Pamukkale, Éfeso e outras localidades. “Eu cheguei em casa de viagem depois das 18h, depois dos tremores mais graves… Mas os relatos foram todos ao vivo e a cores. Foi tudo muito tenso… Sentimos aqui na pele tudo o que vem ocorrendo no país. No dia seguinte fui trabalhar e encontrei todos os meus amigos e colegas chorando. É muito difícil…”, comenta.

INCERTEZAS

Daniel conhece alguns sobreviventes das áreas atingidas. “Dois deles estão com a família desde segunda-feira dormindo dentro do carro. Ainda não soube de mais notícias de outras pessoas conhecidas, se morreram… Ainda estão chegando as notícias, mas vários amigos e conhecidos perderam familiares ou simplesmente tudo! Istambul sendo a capital econômica reúne gente de toda a Turquia, daí que todos conhecemos alguém que nasceu, ou morou nas áreas atingidas e que está de luto agora e com todas as incertezas de como será a vida agora. Nunca tínhamos vivenciado uma situação dessas! E os números de mortos só crescem…”, lamenta.

 

Sobreviventes precisam de ajuda humanitária urgente

Daniel, assim como milhares de outras pessoas espalhadas pelo país estão participando de campanhas humanitárias para ajudar os desabrigados. “Eu pessoalmente já enviei powebanks (baterias) e aquecedores para a área do epicentro do terremoto junto com um dos ônibus da empresa que trabalho, que saiu daqui levando mantimentos, doações e voluntários. Continuo dando voz a pedidos de doações também. A situação é muito crítica no sudeste da Turquia, precisa de ajuda e atenção de todo o mundo. E com o inverno rigoroso que estamos tendo a situação fica ainda mais dramática. São muitas crianças órfãs chegando a todo momento que perderam todas as suas famílias”, relata.

PAÍS FORTE

O publicitário afirma já ter presenciado 2 ou 3 tremores de terra na capital, mas não chegou a sentir porque estava dormindo ou porque foram mais fracos. “Mas nos meus 10 anos morando e trabalhando com turismo aqui já vi protestos, tentativa de golpe militar, terrorismo, pandemia, ondas de imigrantes, guerras nos vizinhos… E nós aqui seguimos firmes e fortes, a Turquia não perde o brilho que tem, e segue sendo um país lindo e dos mais visitados do mundo”, diz, sem perder a esperança.

Segundo ele o país não está inteiramente devastado. “A economia tem condições de seguir girando, inclusive com o turismo. A tristeza é grande, mas a gente espera poder se recuperar logo. A verdade é que mesmo com esse otimismo, ainda que eu não tenha sido afetado diretamente por essa tragédia, realmente tenho me sentido bastante abalado emocionante, por todo o meu entorno. Mas aos poucos vai passando…”, acredita.

Apesar do risco constante de tremores e terremotos, o gerente de vendas diz que em algum momento pensa em se mudar da Turquia, mas para iniciar um novo ciclo na sua vida. “Mas por enquanto permaneço sim aqui, onde me sinto em casa”.