Pelo que foi possível acompanhar, pelo menos nas situações públicas, só os técnicos não irão gostar de uma constatação óbvia e eloquente: Esli García é o grande herói da campanha de permanência do Paysandu na Série B. Da metade do campeonato em diante, o time travou uma luta difícil, angustiante e às vezes sofrida para evitar o rebaixamento.
Gostem ou não seus comandantes, o atacante venezuelano de 24 anos desempenhou um papel fundamental na trajetória do PSC: marcou oito gols, mais de um quinto dos 38 marcados pelo time em 36 rodadas.
Um aspecto valoriza ainda mais essa façanha. Ele fez gols mesmo jogando apenas os trechos finais das partidas. Raras foram as ocasiões em que foi escalado como titular e, quando isso aconteceu, simplesmente arrebentou em campo. Como na vitória de 5 a 3 sobre o Ituano, quando deu passes preciosos e assinalou um golaço, com classe e precisão.
Aliás, Esli só fez gols bonitos. Não há um gol de bola rebatida, de sururu na área ou de lances acidentais. Seu papel na missão de manter o Papão na Série B veio emoldurado por jogadas de categoria explícita.
Foi esse talento que o torcedor enxergou ainda nos jogos do Campeonato Paraense. Sempre que entrava em campo, tornava-se sensação instantânea, pelos dribles e finalizações. A sabedoria da torcida não pode ser menosprezada. É uma das lições mais certeiras do futebol.
Apesar de todo o sucesso junto à Fiel bicolor, Esli não encontrou jeito de agradar seus superiores imediatos. Primeiro a expor uma antipatia explícita, Hélio dos Anjos chegou a defini-lo como um jogador de “lances ocasionais”, de baixa estatura e resistência insuficiente.
Esli respondeu sempre em campo, marcando gols e dando à torcida o espetáculo que ela mais gosta. Como no lance magistral contra o Botafogo-SP, no Mangueirão. Fintou dois marcadores e encobriu o goleiro.
Depois que Hélio foi demitido esperava-se que a vida melhorasse para ele. Ledo engano. Márcio Fernandes assumiu e logo repetiu a estratégia de barrar Esli. O ponto mais absurdo foram os quatro jogos de castigo, antes da partida com a Ponte Preta, em momento delicado da competição.
Apesar dos riscos óbvios de insistir na exclusão do atacante, as diversas combinações ofensivas sempre deixavam Esli de lado. Mas, contra a Ponte, após entrar aos 25 minutos do 2º tempo, o baixinho abusado entrou e decidiu a parada, após bela jogada de Borasi.
O PSC estava com um jogador a mais desde o final do 1º tempo, mas não saía de um empate em 1 a 1. Esli, objetivo e letal, mudou esse panorama com o gol que verdadeiramente garantiu o Papão na competição.
Na segunda-feira, 11, a história se repetiu – não como farsa, mas como realidade óbvia. Esli García, cujo nome foi cantado pela torcida nas arquibancadas da Curuzu, entrou naquele momento que os locutores costumam chamar de crepúsculo da partida.
Borasi foi novamente o garçom que contribuiu para o goleador deixar sua marca, aos 35 minutos, quebrando outra vez a monotonia de um empate quase certo. Esli foi abraçado e aclamado, mas as imagens da TV revelaram alguns companheiros seus de expressão fechada no banco de reservas, aparentemente insatisfeitos com aquele instante de glória.
A saga do artilheiro em desgraça – não se sabe bem porquê – dentro de seu próprio time ainda aguarda por detalhes mais precisos, mas quem acompanha futebol sabe que é inaceitável brigar com os fatos. Um bom jogador, artilheiro ainda por cima, não pode jamais ser boicotado. Por sorte, deu tudo certo, mas a lição está aí, aos olhos de todos.
Belém e o Novo Mangueirão abraçam a Seleção
A Seleção Brasileira faz hoje, no estádio Jornalista Edgar Proença, seu treino final para o jogo com a Venezuela – quarta-feira, em Maturin, pelas Eliminatórias Sul-Americanas. O palco não poderia ser outro. E não apenas pela logística que oportunizou a nova passagem por Belém. Há na escolha uma indisfarçada preocupação em desfrutar do alto astral que a apaixonada torcida paraense passa ao escrete. (Além das instalações modernas da arena Fifa que é o nosso Mangueirão hoje).
Os mais desavisados irão perguntar qual é mesmo a importância de treinos que não contou nem com a presença da torcida. Ora, é simples explicar. Para Belém, é fundamental ser reconhecida como rota oficial da Seleção Brasileira, depois de anos de distanciamento – o que era plenamente justificável pela falta de um estádio apropriado.
Há, ainda, a dívida com a capital paraense, criminosamente alijada de sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, por obra e graça da pilantropia que então dominava a CBF de Ricardo Teixeira e a Fifa de Joseph Blatter.
Para a Seleção, o reencontro, mesmo fugidio de agora, é um carimbo da sorte. Belém faz bem à Seleção. A estreia aqui, em setembro do ano passado, contra a Bolívia é reveladora desse positivismo. Goleada de 5 a 1 e última apresentação decente de Neymar com a camisa canarinho.
Que o jogo de amanhã reflita as vibrações desta breve visita. E que logo a Seleção esteja de volta, para um jogo de verdade aqui.
Punição dura e à altura das arruaças na Arena MRV
Caso sejam mantidas as primeiras sanções aplicadas pelo STJD, estamos diante de uma nova postura dos órgãos competentes em relação à violência desmedida que certas torcidas praticam nos estádios e em torno deles. O que rolou domingo, na Arena MRV, do Atlético-MG, foi inaceitável.
Aconteceram explosões de bombas no gramado, houve hostilidade aos torcedores visitantes e ficou demonstrada explicitamente a falta de esportividade (aspecto mais grave de todos) diante da derrota. Não se pode conceber que torcedores não aceitem perder. Perder é do jogo.