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Empresas discutem redução da jornada de trabalho para 4 dias

Estudos feitos em escala ainda reduzida mostram que empregados ficam mais satisfeitos e felizes, além de mais produtivos, trabalhando menos semanalmente. Mas debate ainda depende de muitos fatores
Estudos feitos em escala ainda reduzida mostram que empregados ficam mais satisfeitos e felizes, além de mais produtivos, trabalhando menos semanalmente. Mas debate ainda depende de muitos fatores

Luiz Flávio

A Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a unidade Brasil da 4 Day Week Global, divulgou em abril a parcial de uma pesquisa feita com 21 empresas brasileiras voluntárias sondadas sobre os efeitos da jornada 4×3 (4 dias de trabalho semanal por 3 dias de folga). O estudo mostrou que 74% empregados em média, ficaram muito satisfeitos, felizes e mais criativos no local de trabalho. Conhecido internacionalmente como “four-day workweek” (semana de trabalho de quatro dias), esse tema está em alta e desperta a atenção dos trabalhadores.

O estudo mostra que houve melhora significativa na interação entre setores e na produtividade: 61,5% de melhoria na execução dos projetos, 82% dos empregados com mais energia para a realização das tarefas, 64% de redução das reclamações de exaustão por causa do trabalho e 78% declaram que aumentou a energia para estar com amigos e familiares. O estudo mostrou que existem grandes melhorias no clima de uma forma geral.

O fato é que a jornada de 4 dias de trabalho com 3 dias de folga ainda é uma realidade distante em nosso país, mas que poderá revolucionar o mundo corporativo, possibilitando formas alternativas de trabalho, mais humanizadas. Estudos piloto no Brasil, apontam importantes impactos positivos no trabalho, no bem-estar e saúde do trabalhador, influenciando positivamente em aspectos sociais.

“Estudos como essa pesquisa da FGV mostram redução de estresse no trabalho, aumento no engajamento, melhoria na produtividade, melhor foco e entrega das demandas, melhoria da qualidade de vida e interação familiar e com amigos”, destaca Graciete Maria Barros Corrêa, administradora e bacharel em Psicologia.

Graciete Maria Barros Corrêa, administradora e bacharel em Psicologia.

Ela ressalta que não há qualquer legislação que normatize a jornada 4×3. “A legislação trabalhista é muito específica ao tratar de jornada de trabalho e determina o limite de 44 horas semanais, o que daria uma jornada mensal de 220 horas”, diz Graciete, que também é diretora de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), secção Pará.

A própria Constituição da República, em seu artigo 7º, inciso XIII, inclui, entre os direitos dos trabalhadores, a “duração do trabalho normal, não seja superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, lógico, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”. E o inciso XIV prevê a “jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, o que normalmente totaliza uma jornada de 180 horas em média, salvo negociação coletiva”.

A distribuição desta jornada, diz a especialista em RH, é definida internamente pela empresa, respeitando também os limites diários de 8 horas normais de trabalho. “A empresa organiza escalas e jornadas diárias conforme sua necessidade, sempre respeitando os limites definidos por lei. Pode ocorrer acordos entre empresa x empregado ou empresa x sindicato para negociar jornada, desde que no limite da lei, 220 horas mensais”. Algumas profissões regulamentadas já determinam a jornada como, por exemplo, os fisioterapeutas, que possuem 150 horas mensais. Já os médicos têm jornada de 120 horas mensais e os assistentes sociais, 180 horas.

Existem impactos trazidos por essa modalidade de trabalho que precisam ser mensurados. “Para as empresas, há o custo de implantação, o aumento do número de gestores para sustentar a gestão, a necessidade de maior atenção para a capacidade de gestão de múltiplas equipes diluídas, da gestão do tempo, da maior exigência na gestão do tempo das entregas compartilhadas e da criação de mais cargos chefia e supervisão”, detalha a diretora da ABRH. “Para o empregado, a princípio, não há prejuízos, pois, os períodos de folgas também são remunerados. Só há benefícios para o empregado a meu ver”, diz.

Antes de implantar a modalidade 4×3, Graciete recomenda um estudo de viabilidade detalhado, pensando no trabalhador, porém, com uma visão de sustentabilidade real, “pois não adianta ter um projeto lindo que não se irá se sustentar ao longo do tempo”. Ela entende que há um movimento mundial em buscar maior humanização nas relações entre empresa x empregado, focando mais na saúde e bem-estar do empregado”.

O movimento no sentido de mudança na direção essa nova jornada existe no Brasil, porém ainda muito tímido. O tema já vem sendo debatido em congressos e fóruns de RH pelo país. “Percebo as empresas preocupadas sim, buscando alternativas de bem-estar. Vejo uma evolução no trabalho em home-office e na implantação de benefícios como plataforma de academias (gympass), plano de saúde e odontológico, plataformas de apoio psicológico, jurídico e contábil, entre outros, que são excelentes benefícios, porém, ainda não nesta magnitude de redução de jornada”, afirma.

 

Pesquisa indica busca por qualidade de vida

Sete em cada dez brasileiros acredita que o governo deveria incentivar as empresas a adotar a semana de trabalho de quatro dias. E a maioria da população acredita que uma carga horária menor iria melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Os dados fazem parte de uma pesquisa do Instituto Data Senado sobre jornada de trabalho e qualidade de vida.

O estudo mostra que 73% dos brasileiros acreditam que o governo deveria oferecer incentivos às empresas que adotassem a semana de trabalho de quatro dias. Para 54% da população, uma carga horária menor iria melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e que isso ocorreria principalmente por afetar positivamente a saúde mental das pessoas. Já 34% avaliam que não faria diferença enquanto que 9% acreditam que a situação pioraria. Os demais não souberam ou preferiram não responder.

Dentre os cidadãos e as cidadãs que acreditam que a redução da jornada de trabalho pioraria a qualidade de vida dos trabalhadores, a maior preocupação é com a possível diminuição da renda.

Porém, quando perguntados especificamente sobre a redução do expediente de cinco para quatro dias, sem redução de salário, cerca de metade dos brasileiros (51%) acredita que tal iniciativa seria benéfica.

Se por um lado, há confiança da população de que a redução da jornada traria uma melhoria na qualidade de vida do trabalhador, as opiniões se dividem no quesito produtividade. Para 35%, a produtividade aumentaria, enquanto que para 21% diminuiria e para 40% dos brasileiros a redução de jornada não faria diferença na produtividade do trabalhador.

Resultados semelhantes são encontrados na percepção sobre os impactos que a redução de jornada traria para as empresas: para 40% dos cidadãos a redução da jornada de trabalho não afetaria as empresas, para 21% traria lucros e para 33% prejuízos.