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Crítica: Noites Brutais

Crítica: Noites Brutais

Nos manuais de roteiro de Hollywood existem os chamados pontos de virada, que basicamente são os momentos onde a história muda seu curso, a partir de um “plot twist” no cenário, atos dos personagens ou estrutura narrativa, usados para surpreender o espectador e manter o interesse no filme. Se a gente parar para pensar, quase todos os produtos audiovisuais americanos famosos possuem esse esquema formulaico, principalmente em tramas de horror e suspense.

Noites Brutais (2022) não foge disso. Pelo contrário, tem no ponto de virada seu principal trunfo e, talvez por isso, foi incensado como um dos melhores exemplares de horror dos últimos anos, mas a verdade é que não há nada que justifique tamanho hype nos cinemas e agora nos streaming, já que a obra chegou no Star+.

É preciso dizer que a produção se sai bem no início da história, sobre uma produtora de cinema que aluga uma casa à noite em um bairro quase abandonado e descobre que existe outra pessoa na mesma residência. Há uma clima de tensão crescente pelo bom timing do diretor e roteirista Zach Cregger. Dá para sentir o desconforto da protagonista Tess (Georgina Campbell, um nome para ficar de olho) com a situação, mesmo com a boa vontade do inquilino errôneo (vivido pelo sempre “exótico” Bill Skarsgard). Cregger sabe filmar o pequeno cenário da casa e manter a agonia da situação entre a ameaçadora ou claustrofóbica.

Há uns furos básicos do roteiro, principalmente no fato de Tess se manter no local ao invés de procurar um hotel ou relatar a situação para a empregadora e ir embora, mas dá para manter a suspensão de descrença pela curiosidade do que ocorre a seguir. Mas é aí, depois da primeira meia hora do filme, que a coisa desanda completamente. A “revelação” do segredo do local dilui o embate psicológico dando vez para uma trama de monstro desnecessária e que funciona mais como um corte abrupto da narrativa do que um ponto de virada.

Tanto é que o diretor muda a condução para o ponto de vista de outro personagem, que até então não existia (Justin Long, especialista em sofrer nos filmes bizarros), só para fazer o enredo “render”. As camadas relacionadas ao machismo e violências contra a mulher trazem algum sentido ao trabalho, mas fica no raso, quando temos o tal clímax narrativo, que não se justifica nem como suspense e nem como humor, mesmo com mortes relativamente bizarras. E há um flashback que mais confunde que esclarece o que se passa em tela. Nesse momento, tudo fica no piloto automático, mesmo no embate final, totalmente genérico.

No fim das contas, não é um filme ruim, mas também não tem tantas qualidades para ser cultuado nos meios cinéfilos, ávidos por novidades. Com um pouco menos de exagero e ambição, funcionaria melhor. Vale uma sessão descompromissada. No Star+.