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Crítica: Fale Comigo

Crítica: Fale Comigo

É muito difícil dizer que algo é realmente original, em qualquer manifestação artística, afinal temos uma infinidade de produções feitas frequentemente, em todas as partes do mundo e o cinema não escapa disso. Mesmo quando falamos de filmes de horror, onde os mais absurdos plots já foram explorados em seus subgêneros, do mais “artístico” ao trash total. Por outro lado, é interessante ver produtos que tentam trazer ideias novas, mesmo em tramas que não sejam exatamente originais.

É o que ocorre com “Fale Comigo”, o filme de horror mais comentado do ano até aqui pelos seus elementos narrativos e sua produção quase independente, mas que prende o espectador justamente por isso, além do ótimo trabalho de direção dos irmãos Danny e Michael Philippou. É uma proposta simples, sobre um grupo de jovens que arranja uma mão engessada (sabe-se lá de onde veio) que pode conjurar espíritos, que são “convidados” a incorporar nas pessoas e dão uma sensação que os fazem querer sempre mais, além de querer registrar todo o “barato” nas redes sociais. Mas há uma regra simples: a incorporação só deve durar 90 segundos ou os espíritos podem se recusar a voltar para o mundo dos mortos.

De cara, a premissa simples indica um paralelo interessante sobre a curiosidade e o efeito nocivo das drogas, substituídas por possessões. Além, claro, da exposição excessiva da internet. Junte-se a isso a eterna curiosidade da juventude em querer fazer besteira e temos um prato cheio para um horror simples, bem amarrado e com várias nuances.

Outro acerto é não focar nos sustos baratos e sim na construção das situações e dos personagens. O roteiro é inteligente em estabelecer essa cumplicidade, e quando as coisas começam a dar errado, em uma cena sangrenta e agonizante, ficamos claramente preocupados com o destino daqueles personagens. Mantendo o foco nisso, não precisamos saber determinadas origens do elemento envolvedor do roteiro (a mão cheia de inscrições) e nem uma visão aprofundada do que seria o limbo onde os mortos circulam. Afinal, estamos ocupados demais com os personagens principais, com as tolices da juventude, procurando maneiras de sobreviver.

O elenco é outro achado, com destaque para Sophie Wilde, com seus olhos expressivos e gestos marcantes. É ainda mais surpreendente perceber que os diretores (que são irmãos gêmeos) estão estreando no cinema com o pé direito, mostrando que não é preciso muitos cenários ou design de sons previsíveis para prender a atenção dos espectadores por uma hora e meia. “Fale Comigo” pode não ser um filme espetacular, como foi pintado por parte da imprensa mundial, mas é um thriller de horror eficiente e bem feito, pronto para agradar a audiência. Uma sequência já foi anunciada, o que era meio óbvio diante do bom final desse que está em cartaz nos cinemas. Vale o ingresso.