O Pará foi um dos estados mais afetados pela queda nas vendas do setor de bares e restaurantes em setembro, de acordo com o Índice Abrasel-Stone, divulgado nesta segunda-feira (20). O levantamento mostra que o estado teve uma retração de 9,9% — a segunda maior do país, atrás apenas de Roraima, que registrou queda de 11,5%.
A crise nacional em torno da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, com epicentro em São Paulo, repercutiu em todo o país e provocou uma redução média de 4,9% nas vendas do setor em relação a agosto. No Pará, o impacto foi especialmente sentido pelos estabelecimentos especializados em coquetelaria e drinques autorais.
Em Belém, o empresário Marcelo Lima, proprietário do Manga Pub, localizado no bairro de Nazaré, relata que o faturamento chegou a cair quase 20%. “A venda de drinks despencou quase 50%. Para driblar essas perdas, apostei muito no esclarecimento corpo a corpo com os clientes mais frequentes, mostrando que nossas bebidas têm procedência garantida e vêm de distribuidores oficiais”, explica.
Ele afirma que o trabalho de reconstrução da confiança tem sido intenso: “Estamos buscando parceiros para promoções e eventos, tentando desmistificar essa questão. Ainda bem que isso aconteceu perto do Círio e da COP30, porque esses eventos devem ajudar a reaquecer o movimento”, completa Marcelo, que também anunciou uma agenda de shows e atrações locais para atrair o público.
O impacto também foi sentido no Muamba, bar de coquetelaria também no bairro de Nazaré. O empresário Yvens Pena diz que a preocupação com o metanol gerou um pânico silencioso entre os consumidores: “Mesmo sem um único caso registrado no Pará, as pessoas ficaram com medo. A semana do Círio, que costuma ser a melhor do ano, foi muito abaixo do normal. Houve um pânico quase irracional, porque essa crise foi muito mais midiática do que real na nossa região”, afirma.
Impacto no Setor de Coquetelaria
Para Yvens, o setor de coquetelaria foi o mais atingido porque depende diretamente do consumo de destilados. “Dos 100% dos bares no Brasil, uma parte muito pequena é especializada em coquetelaria. Então sentimos mais o impacto, enquanto bares que servem comida, vinho ou cerveja tiveram mais alternativas para segurar o público”, explica.
Os dados nacionais confirmam a percepção local: além do Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraíba e Sergipe também registraram quedas acima de 7%. Segundo a Abrasel, a crise do metanol somou-se ao cenário de inflação alta e endividamento das famílias, o que reduziu o consumo fora de casa.
Reações e Perspectivas
Para o economista Guilherme Freitas, da Stone, “a contaminação por metanol foi um fator pontual de incerteza”, mas as medidas de fiscalização devem restabelecer a confiança do público. Já o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, avaliou que “o medo se espalhou e afetou o consumo em todo o país, mesmo em estados onde não havia qualquer registro de contaminação”.
A expectativa é que, com a normalização da confiança dos consumidores e o calendário de eventos de grande porte — como o Círio de Nazaré e a COP30, em novembro —, os bares e restaurantes paraenses consigam recuperar parte das perdas acumuladas.
Editado por Fábio Nóvoa