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Coronel Mostarda, na biblioteca, com o castiçal: “Os sete suspeitos” é fiel ao espírito do clássico jogo de tabuleiro “Detetive”

Lançado no Brasil final dos anos 1970, “Detetive” é um dos jogos de tabuleiro mais populares da história, cuja criação, em 1943, à época da Segunda Guerra Mundial, foi fortemente inspirada nos livros policiais de Agatha Christie e Raymond Chandler. Esses escritores eram os favoritos do músico e compositor inglês Anthony Ernest Pratt, que trabalhava durante o conflito em uma fábrica de peças para tanques, e foi quem teve a ideia de criar o jogo para distrair seus colegas. Desde então, algumas modificações foram feitas no modelo original, mas a essência continuou a mesma: o objetivo era descobrir o assassino, o cômodo da casa e a arma do crime.

Trata-se de uma premissa simples e intrigante, que divertiu gerações de famílias e amigos, e até hoje tem o seu público. Muito pelo clima de mistério que o envolve, de excitação, de aventura descompromissada. Não à toa, o jogo recebeu uma excelente adaptação cinematográfica em 1985, a década perfeita para combinar todos esses elementos na tela, pois a criatividade estava em alta, com um apreço muito grande pelo aspecto do entretenimento no cinema, com uma qualidade ímpar, reunindo grandes nomes, seja atrás ou à frente das câmeras, e resultando em verdadeiros clássicos. “Os sete suspeitos”, com certeza, é um deles, embora pouco lembrado.

Com direção de Jonathan Lynn, roteiro deste em parceria com o mestre John Landis, e produção da não menos genial Debra Hill, “Os sete suspeitos” já mostra a que veio de cara. Com uma trilha sonora incidental de tom sombrio e, ao mesmo tempo, farsesco, soa familiar, como um típico thriller oitentista, enquanto revela que estamos na verdade em 1954. Um contraste que só dá mais graça ao que veremos dali em diante, pois permite brincar com todos os clichês possíveis e os diálogos mais banais ganham uma comicidade extraordinária. Quando surge a mansão, por exemplo, uma personagem pergunta: “Por que o carro parou?”. E o outro responde: “Está assustado”. Brilhante.

A partir do momento em que somos apresentados aos personagens, a coisa toda só melhora, já que entramos de cabeça na trama do jogo – e do filme. Em cena, seis estranhos, convidados para um jantar na mansão: o Professor Black, Coronel Mostarda, Senhorita Rosa, Dona Branca, Sr. Marinho e Dona Violeta. Ao lado deles, temos o mordomo Wadsworth, que conta que todos ali estão sendo chantageados pelo anfitrião, o Sr. Pessoa. Este último faz uma proposta: dá uma arma a cada um (revólver, faca, corda, chave-inglesa, castiçal e cano) e diz para matarem o mordomo que assim os seus segredos serão preservados. Mas, quando a luz apaga, é o Sr. Pessoa quem está morto. E agora, qual a solução do mistério?

O clássico jogo marcou várias gerações e rendeu uma excelente adaptação cinematográfica – Foto: Divulgação

Isso vai permear todo o filme. E a habilidade com que a trama é costurada pelos realizadores é um dos pontos altos, pois eles conseguem equilibrar bem o suspense e a comédia, tendo como base um elenco sensacional, o que é fundamental, já que atores menos talentosos poderiam arruinar o projeto, se levando muito a sério ou se entregando ao pastiche. Mas não se corre esse risco quando se é capitaneado por Tim Curry. O seu mordomo é sagaz, cínico. O seu trabalho ali parece ser confundir e fazer todos desconfiarem de todos. E Curry consegue fazer isso com gestos e olhares. Muitas vezes, ele parece funcionar como a nossa representação dentro do “jogo”. Mas, claro, existe aquela máxima: o mordomo é sempre o culpado, então ele também não pode ser excluído do rol de suspeitos. Fora Christopher Lloyd, Madeline Kahn e Lesley Ann Warren, que também têm seus momentos, com tiradas preciosas e ferinas.

O legal nessa adaptação é que nenhuma cena está fora de lugar. Todas têm sua importância para o desenrolar do filme. Ou seja, é preciso atenção do início ao fim se você quiser matar a charada antes do letreiro subir. Bem ao espírito do jogo de tabuleiro, o filme te dá pistas ao longo dos seus 96 minutos. E aqui entra o fabuloso design de produção, assinado por John Robert Lloyd, especialmente quando os personagens começam a vasculhar a mansão após a onda de assassinatos ter início. É tudo que esperamos de uma casa em estilo vitoriano, portentosa, com passagens secretas, além, é claro, de servir como passaporte às locações do jogo em si: o salão de jogos, a biblioteca, a cozinha, etc.

É raro vermos um filme respeitar tão fielmente o espírito do seu material original. Ainda mais quando se trata de um jogo de tabuleiro. Não existe trama para seguir, então, em princípio, qualquer coisa poderia ser feita em cima de “Detetive”. Mas não. Nós realmente temos a sensação de estarmos assistindo a uma adaptação do jogo. Especialmente no aspecto das possibilidades que ele fornece durante uma partida. Você se sente parte, tem uma espécie de interação.

Portanto, faça a sua aposta. Quem matou? Onde? Com qual arma? Calma, não fique com medo de errar. Afinal, o filme te dá três chances para adivinhar. Na época do lançamento, cada sala exibia um final alternativo. Uma estratégia bem inventiva para dar um nó na cabeça do público e fazê-lo ir mais uma vez ao cinema conferir o outro final. O melhor? Todos fazem sentido. Sinal de que o roteiro foi bem amarrado. Claro que, no streaming, você pode assistir a todos os finais e escolher aquele que achar o mais plausível – ou o mais absurdo, se assim preferir. O importante é entrar na brincadeira.

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ONDE ASSISTIR?

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