Desde o início da revolução cubana, com a queda do regime ditatorial em 1959, Cuba passou por uma interessante transformação cultural, principalmente associada ao cinema. Além de se tornar um polo de formação acadêmica no setor (com a criação, por exemplo, do ICAIC – Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos), também legou diversas obras e realizadores importantes para o audiovisual e para a história mundial.
Parte desses trabalhos podem ser conferidos no streaming da Filmicca, que apresenta entre os meses de maio e junho, obras de diretores da ilha em versões restauradas. No mês passado, por exemplo, a plataforma disponibilizou a obra da diretora Sara Gomez, que morreu precocemente em 1974, aos 31 anos, mas deixou um legado de importância, se tornando a cineasta mais importante do país.
São 15 filmes, em versões restauradas, que abordam a história do povo cubano, através retratos íntimos de pessoas comuns e com temas sobre o trabalho, a cultura afro-cubana, questões sociais e a saúde da mulher, em meio a um sentimento de pertencimento pulsante que aquele povo vivia nos anos pós-ditadura. É um retrato importante para entender esse processo que resiste até hoje.
Já em junho, estarão disponíveis mais seis filmes fundamentais para entender o cinema cubano. “A Morte de um Burocrata” (1966), traz uma sátira comandada por Tomás Gutiérrez Alea. Também de Alea, entram mais dois filmes: “Memórias do Subdesenvolvimento” e “A Última Ceia”. O primeiro é considerado como sua obra-prima máxima. Na trama, um homem revisita suas memórias enquanto a ameaça da invasão estrangeira se intensifica em Cuba e o resto de sua família se muda para Miami. O segundo mostra um piedoso dono de plantação tentando ensinar o cristianismo a 12 de seus escravos, os colocando para participar de uma encenação da Última Ceia. O filme recebeu o Prêmio do Público na Mostra de São Paulo.
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Já no dia 20 de junho, será disponibilizado outro filme do mesmo realizador: “Os Sobreviventes”, que competiu pela Palma de Ouro no Festival de Cannes, sobre uma família burguesa que vai regredindo dentro da própria estrutura social por não aceitar a revolução que ocorria no país.
No mesmo dia estreia “Morango e Chocolate”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, que segue até hoje com a única indicação de Cuba ao prêmio. Realizado por Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío no início dos anos 90. O filme recebeu o Prêmio Teddy e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Berlim.
Completando os lançamentos do cinema cubano clássico, “Lucía” estreia no dia 27 de Junho. A obra-prima do realizador Humberto Solás é um retrato em episódios na vida de três mulheres, todas com nome de Lucía, através de três períodos históricos diferentes em Cuba: 1890, 1930 e 1960. Prêmio de Melhor Filme no Festival de Moscou.
Essa deveria ser (também) a essência de um streaming: oferecer experiências de todo o mundo a clique de distância e não apenas experiências pasteurizadas para engordar catálogos.
