CINEMA

Capitão América: Nem admirável e nem novo

O novo filme da Marvel põe a empresa em uma encruzilhada difícil de sair, seja pelo contexto político, seja pelo comercial

Anthony Mackie é um Capitão América certo no momento errado. foto: divulgação
Anthony Mackie é um Capitão América certo no momento errado. foto: divulgação

Marvel se pôs em uma encruzilhada difícil de sair. Primeiro, por elevar o patamar das bilheterias, tendo que suportar a pressão de ter de criar um sucesso atrás do outro. E depois, por criar uma geração de “nerds” acostumados a um padrão conservador de estrutura narrativa. Nada de “cultura woke”, como eles gostam de vaticinar, quando alguma obra tenta o mínimo de representatividade que seja nas suas histórias. Para piorar, a guinada ultradireitista da política americana ameaça sua própria produção cultural, em um retrocesso que deve demorar décadas para ser, no mínimo, superado.

E onde entra “Capitão América – Admirável Mundo Novo”, nesse imbróglio todo? Bem, primeiro que a bilheteria deve ser bem menor do que a subsidiária da Disney esperava. Os “nerds” rechaçarão e parte do público está cansado de mais do mesmo. A mesma estrutura narrativa, a fotografia comum, efeitos especiais qualquer coisa e uma trilha heroica mesmo em momentos nada heroicos. E tem o período de lançamento, após a eleição de Donald Trump, e as comparações com o filme são inevitáveis (ao invés de laranja, o presidente vira o Hulk Vermelho).

Não que o novo Capitão seja um filme ruim. Não é. Tem bons momentos, um clima de filme de espionagem interessante (principalmente até sua metade), um elenco se divertindo à beça (Harrison Ford e Anthony Mackie, além de tudo, esbanjam carisma). Mas peca por ter um design de produção pobre e uma trama que descamba para o sem sentido, quando deveria abraçar o simples e bem feito. Dá para perceber os momentos em que a produção foi retalhada com as sucessivas refilmagens, prejudicando o ritmo e desconstruindo a narrativa imposta até ali.

Mesmo assim, a Marvel já fez filmes piores que esse. E pesa a má vontade dos críticos de cinema com os filmes baseados em quadrinhos. Mas aí a gente volta para a questão inicial. Quem está interessado em pagar (caro) no cinema para ver o herói de novo? Até quando a empresa vai manter esse esquema seguro sem correr o risco de perder dinheiro (e já vem perdendo)? E a empresa vai deixar de abordar temas mais espinhosos ou atuais com medo de perder parte do público conservador nerd?.

No fim das contas, novamente, o fato do filme ser bom ou não é até irrelevante para parte do público. E o mundo proposto pela Marvel, no contexto de uma realidade de crise atual, já não é admirável e nem novo.