Gareth Evans despontou no cinema de maneira curiosa. Ele dirigiu o cultuado sucesso de ação indonésio “Operação Invasão” e sua também ótima continuação. Porém, mais de uma década depois, não conseguiu se manter na crista da onda, dirigindo episódios de séries e um filme curioso, “O Apóstolo”, apenas.
Assistir “Havoc – Caos e Destruição” deixa a sensação amarga de ver um talento desperdiçado em mais um dos genéricos que se espalham aos borbotões no streaming, tentando ser um novo John Wick. Dessa vez, o que atraiu minha atenção para assistir foi o crédito de Evans, que já havia demonstrado grande competência para o cinema de ação, além do elenco encabeçado por Tom Hardy, que faz um policial corrupto que decide enfrentar a máfia japonesa e a própria polícia para proteger jovens enrascados.
Se a premissa já não é lá essas coisas, daria para aproveitar melhor o ambiente pós-punk da cidade onde a história se passa e a mitologia mafiosa local, mas o que temos é uma trama aborrecida, disfarçada em um frenesi cansativo e uma fotografia horrorosa, sem vida (mais um sintoma do algoritmo que domina as plataformas de filmes).
Para piorar, Hardy está cada vez mais atuando no piloto automático, como quem só quer acabar o dia de trabalho e ir para casa. Nem o elenco secundário, que possui veteranos, como Forest Whitaker e Timothy Olyphant ajuda, já que são personagens tão rasos, que nem lembramos que eles têm alguma coisa para fazer na maior parte do filme.
Se há um ponto positivo é o trabalho do diretor nas cenas de ação. Evans tem um certo domínio do espaço e usa um artifício interessante, que é manter a câmera em movimento, acompanhando o ritmo da narrativa. O problema é que o negócio fica tão repetitivo, que cansa já antes na longa sequência final, onde o gore e o CGI ruim dominam.
Há uma questão, ainda, na suspensão da descrença quando todos os personagens parecem ninjas e franco atiradores, com muitas habilidades de luta e manejo de armas, mesmo quando são adolescentes infratores, ou barmans. Ou seja, não há hiper-realismo ou crueza gráfica que resista a esse pastiche, que funcionaria bem se a intenção do filme fosse essa. Mesmo aqueles que seriam profissionais de luta se perdem em coreografias que soam estranhas e que se prolongam excessivamente.
E quando um filme de ação mais cansa do que diverte, há sempre algo de errado que ficou pelo caminho.