FRATERNIDADE

Caminhos de solidariedade: a missão dos voluntários da igreja

O trabalho dos voluntários é parte importante nas missões religiosas de acolher e dar assistência aos necessitados.

O trabalho pastoral na Igreja Católica abrange um conjunto de atividades voluntárias e organizadas que fazem referência à missão de Jesus Cristo, ao evangelizar e, ao mesmo tempo, servir à comunidade em diversas realidades sociais.
Belém, Pará, Brasil. Cidade. Diácono Silvio Ataíde - Coordenador da Pastoral Social. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Recém-chegado como voluntário na Catedral Metropolitana de Belém e já membro da Guarda de Santa Maria de Belém, o taxista Silvio Ataíde, 64 anos, se empenhou na missão de recolher donativos para preparar as atividades em alusão ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Como de costume, levou os ofícios a comerciantes do entorno da igreja para pedir contribuições e foi em uma tradicional loja de velas que ele ouviu a pergunta que mudaria a sua vida.

“Chegando na loja de velas dessa senhora, que não me conhecia, ela falou que ia dar a ajuda que eu estava pedindo, mas disse que queria fazer uma pergunta: ‘O que é que vocês fazem de caridade na igreja?’”.

Aquela pergunta chegou aos ouvidos de Silvio como um chamado. Dali em diante, a busca por entender melhor o que poderia fazer para contribuir com o próximo acabou desenhando o caminho que levou à estruturação da Pastoral Social da Catedral Metropolitana de Belém, uma história de voluntariado que se repete, guardadas as particularidades de cada caso, nas diferentes pastorais espalhadas pelas igrejas em Belém.

Hoje diácono, Silvio Ataíde lembra que foram vários os fatores que acabaram lhe acompanhando nessa missão. “Aquela pergunta me inquietou e, na época, eu fui conversar com o Padre Gonçalo, que hoje é cônego, e perguntei o que a gente tinha de caridade na igreja. Ele falou sobre o grupo dos Vicentinos, sobre as Senhoras Amigas que se reúnem e compram o enxoval para as crianças e vão deixar na Santa Casa. Ele foi me falando das caridades, mas quase tudo era fora daqui da Paróquia. Então, não tinha um serviço organizado aqui na Paróquia. E ele me deu toda a liberdade para fazer alguma coisa neste sentido”.

Inicialmente, Silvio e outros voluntários decidiram fazer uma ação de distribuição de sopa para pessoas em situação de rua, com o objetivo não apenas de alimentá-los, mas de resgatá-los para o convívio social. A intenção era levar o projeto para a Praça Frei Caetano Brandão, mas o projeto não vingou. “Ainda não era o que Deus queria”.

Depois, inspirado em uma ação que Silvio tinha visto na Praça da Bandeira, organizada pelo Tribunal Regional Eleitoral, foi iniciado um trabalho de organização de uma ação de cidadania voltada para a oferta de emissão de documentos, atendimento à saúde, corte de cabelo. Esse projeto, sim, vingou e entrou para o calendário da paróquia, já sendo realizado há quase 20 anos. Mas Silvio ainda não estava satisfeito.

Até que veio a pandemia e, sem conseguir trabalhar como taxista, Silvio começou a ajudar as pessoas que não podiam sair de casa para comprar remédio, máscaras, luvas. A missão de ajudar neste período de grande dificuldade se estendeu pelo período mais crítico da pandemia. E quando as atividades presenciais já haviam retornado, aos poucos, se observou a necessidade de retornar com a distribuição do sopão que hoje é uma grande marca da atuação da Pastoral Social. “As pessoas tinham praticamente tudo em casa, mas não tinham como fazer, estavam doentes. Então nós pensamos em criar a sopa só para as pessoas irem buscar”, lembra. “A gente conseguiu doações de supermercados que jogavam muita coisa fora e fizemos a sopa. As famílias vinham buscar e foi uma alegria pra gente”.

Diácono Silvio Ataíde – Coordenador da Pastoral Social. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Para que a distribuição seja possível até hoje, uma equipe de cerca de 40 voluntários dedica parte do seu tempo para preparar e distribuir a sopa, além de se dedicar às demais atividades da pastoral, que envolvem também a entrega de donativos para crianças que fazem hemodiálise na Santa Casa de Misericórdia, a ação de cidadania, a organização de um bazar e a acolhida a quem procura por ajuda diretamente na Catedral.

Diante de tanto trabalho e da dedicação a ajudar pessoas que nem se conhece, Silvio destaca uma motivação: “A satisfação de ver uma pessoa feliz”, resume. “É seguir o Evangelho de Jesus. Todas as igrejas têm os seus serviços sociais, de colocar realmente em prática o evangelho como é citado e ir ao encontro do necessitado”.

Se colocar à disposição do outro também é o centro do trabalho desenvolvido pelo grupo de voluntários da Paróquia da Santa Cruz. Localizada na avenida Almirante Barroso, a igreja todos os anos vê passar os milhares de romeiros que se deslocam de outros municípios, rumo à Basílica Santuário, para agradecer ou fazer algum pedido a Nossa Senhora de Nazaré. Mais do que ver, a igreja faz questão de acolher esses fiéis em um trabalho que se mantém ativo 24 horas por dia durante a semana que antecede o Círio.

Membro da Guarda da Paróquia da Santa Cruz, Carlos Sestito participa da acolhida aos romeiros há 15 anos e lembra que o trabalho iniciou por incentivo do padre Paulo Falcão. “A gente começou com poucos membros, mas hoje a gente consegue envolver todos os movimentos da Paróquia e pessoas que também vêm para nos ajudar a acolher, inclusive pessoas de outras religiões que entendem o objetivo principal que é cuidar do próximo”.

Para além dos voluntários que fazem parte da comunidade da paróquia, Carlos conta que, todos os anos, alunos de faculdades como a Unama e a Unip, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membros da Cruz Vermelha se unem para somar forças para atender aos romeiros que já chegam a Belém bastante cansados da jornada. E mesmo os que não se fazem presentes no momento da acolhida, como os diversos doadores e alguns patrocinadores, também engrossam a ação de solidariedade que tem uma única motivação: ajudar. “É um trabalho muito prazeroso. Nós começamos na terça-feira que antecede o Círio, quando já passam algumas romarias, e ficamos até o sábado. Ficamos em atividade 24 horas por dia, revezando as equipes. E especialmente na quinta e na sexta-feira, a madrugada é tomada por um mundo de gente”.

Além de oferecer a troca de curativos, a possibilidade de ir ao banheiro, água e alimentação, a ação também coloca à disposição dos romeiros a possibilidade de ouvir as suas histórias. Parte essa, inclusive, que é a mais gratificante para Carlos. “A gente consegue ter uma gratidão por estar servindo, acima de tudo, porque não é só dar alguma coisa. Às vezes eles só querem conversar. Então, a gente ouve relatos de milagres que a gente fica muito impressionado”, conta. “São pessoas que caminham de tão longe por uma graça alcançada, então, é muito comovente. Eu sempre digo para o pessoal: ‘A gente tem que ouvir’ porque muitas vezes eles não querem que a gente fale nada. Eles só querem contar o milagre que aconteceu na vida deles através do intermédio de Nossa Senhora”.

Nessa acolhida permeada pela escuta, Carlos considera que, muitas vezes, quem mais recebe é quem se dispôs a ajudar. “O mais gratificante é a pessoa contar esse momento de fé para você. É um momento muito especial na vida dela que ela está compartilhando com você, então, a gente deve ouvir com atenção para nos reforçar também na nossa espiritualidade. Às vezes a gente acha que o nosso problema é o maior de todos e quando a gente ouve esses relatos, a gente percebe que o nosso problema, às vezes, é tão pequeno. Mas a superação que essa pessoa teve é gratificante pra gente, nos conforta e encoraja a acreditar que a gente também pode superar o nosso problema que a gente achava que era tão enorme”.

A acolhida e a escuta, em alguma medida, também são exercidas pela Pastoral Familiar da Catedral Metropolitana de Belém. Através do trabalho voluntário, os membros da pastoral se dedicam a organizar encontros, fazer acompanhamentos e levar orientações para famílias que estão em formação ou que estão passando por algum momento de dificuldade. “A pastoral familiar surgiu a partir da vinda do Papa João Paulo II aqui no Brasil. Vendo a realidade das famílias e as muitas mudanças que estavam acontecendo na sociedade, ele viu a necessidade de ter uma pastoral para cuidar das famílias”, conta a coordenadora arquidiocesana da Pastoral Familiar Francinete Ferreira, que atua em conjunto com o esposo Virgílio Ferreira.

“A pastoral familiar está dividida em três setores: o pré-matrimonial que a gente dá atenção e cuida desde a vida intrauterina até o último fôlego de vida que existe no ser humano, o setor pós-matrimonial e o de casos especiais que são aquelas famílias que estão passando por situações mais delicadas. E se a gente identifica a necessidade, indicamos para as demais pastorais, a Pastoral da Criança, a Pastoral da Pessoa Idosa, e elas indicam pra gente. É isso que a igreja quer, que a gente consiga trabalhar em conjunto para superar as dificuldades, aumentando a nossa fé e se fortalecendo no amor de Deus”.