Cintia Magno
Desde o ataque surpresa do Hamas à região Sul de Israel no último sábado (07), a situação de tensão vivenciada no país vem aumentando e já chega ao outro extremo do território israelense. Apesar das investidas do Hamas terem se concentrado inicialmente na região próximo à Faixa de Gaza, os ataques já se espalham por vários locais dentro de Israel e, nesta segunda-feira (09), cidades do Norte do país também já vivenciam o risco de conflitos. Em muitos casos, a população é orientada a recolher mantimentos e se dirigir aos abrigos.
Brasileiro que vive em Israel há mais de 30 anos, o engenheiro junto à indústria aeroespacial de Israel, Mário Roberto Melo, de 63 anos, relata o aumento da tensão em Nahariya, cidade que fica ao Norte de Israel, já na fronteira com o Líbano, e onde ele vive com a família.
“A rotina em Nahariya, que fica longe do massacre do Hamas, que aconteceu no Sul de Israel, estava normal até ontem (domingo), mas o Hezbollah atirou em uma cidade daqui do Norte, distante 40 km de Nahariya, e Israel revidou. Agora, como a gente se encontra próximo ao Líbano, toda essa faixa está sobre aviso e já fomos orientados a levar mantimentos para os abrigos, bem como bebidas, para no mínimo 72 horas”, explica, ao citar o grupo libanês Hezbollah, que se posiciona como aliado do Hamas.
Diante do estado de alerta, Mário Roberto, que é pernambucano, conta que o comércio já está praticamente fechado em Nahariya e as aulas foram suspensas. Mesmo seguindo as recomendações das autoridades, o brasileiro relata que ele e a esposa seguem muito preocupados, principalmente com a segurança dos filhos: uma filha do casal mora em Tel Aviv, cidade que foi alvo de ataques de foguetes, e o filho presta serviço militar obrigatório.
“A minha filha mora em Tel Aviv, mas como Tel Aviv está sendo atingida, ela acaba de chegar em nossa casa porque pensava que aqui iria ficar tranquilo, mas já estamos bem preocupados com a possibilidade de uma guerra generalizada”, aponta Mário Roberto Melo.
“O meu filho está no serviço militar obrigatório e veio para casa na sexta-feira (06/10), antes de começar a guerra no Sul do país, porque estava contundido no pé, mas ao invés de ir para o médico foi chamado novamente para ficar de prontidão lá no Sul do país. Eu acredito que Israel entrará por terra também para aniquilar a organização terrorista do Hamas e isso, sem dúvida, nos deixa muito, muito preocupados”.
Apesar de toda a situação, Mário aponta que a família não pensa em deixar Israel, sobretudo ao considerar que o seu filho não poderia fazer o mesmo.
“Jamais passou por nossa cabeça, tanto minha, quanto de minha esposa e também da minha filha, deixar o país num momento de guerra. Seria uma traição”, considera. “
Além do mais, como poderíamos deixar o país, sabendo que nosso filho é impedido de deixar o país em guerra porque ele está em serviço militar obrigatório?”.
Diante, sobretudo, da surpresa que foi o ataque e as proporções do massacre ocorrido no sábado, Mário aponta que o país está assustado.
“Israel está aterrorizado com a perversidade do Hamas, bem como decepcionado com o serviço de inteligência que, dessa vez, falhou e falhou feio. Foi a primeira vez que o serviço de inteligência de Israel falha e isso deixa o orgulho do israelense bem abaixo do padrão normal”, avalia. “O exército vai se recuperar e vai vencer essa batalha porque é muito mais forte que o Hamas, não há o que comparar. Eu lamento por palestinos de idoneidade e inocentes que não querem esse derramamento de sangue pagarem um preço tão alto e, às vezes, até mesmo morrerem porque os terroristas usam os próprios palestinos como escudo e gostam muito de divulgar para o mundo que Israel mata civil inocente”.
ENTENDA
*No último sábado (07), homens armados do Hamas atravessaram a cerca de Gaza e promoveram um ataque surpresa que deixou mais de 700 israelenses mortos e resultou na captura de dezenas de reféns. Os ataques ocorreram tanto por terra, quanto por ar. Centenas de jovens foram mortos em uma festa ao ar livre.
*Desde o ocorrido, Israel realizou ataques de retaliação na Faixa de Gaza, área que é controlada pelo Hamas, e que já resultaram na morte de cerca de 500 pessoas.
*Ainda no domingo (08), o gabinete de segurança de Israel declarou oficialmente estado de guerra no país.