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Vitimização de mulheres no último ano é recorde, aponta pesquisa

As mulheres vítimas de agressões relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência nos últimos 12 meses. Confira!

Dados mostram os altos índices de violência contra as mulheres.
Dados mostram os altos índices de violência contra as mulheres. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Em sua 5ª edição, a pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), registrou a maior prevalência de mulheres que relatam ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses: 37,5%, o que corresponde, por projeção, a 21,4 milhões de mulheres.

Desde a primeira edição da pesquisa, em 2017, a proporção de agressões praticadas pelo marido, namorado ou companheiro mais que dobrou: foi de 19,4% para 40% dos casos.
O levantamento ouviu 1.040 entrevistadas com idades a partir de 16 anos em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte de todo o país entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2025. Dessas, 793 responderam às questões específicas sobre vitimização, cuja margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.

As mulheres vítimas de agressões relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência nos últimos 12 meses, o que evidencia não só a complexidade da violência contra a mulher mas também a recorrência das agressões enfrentadas.

Algumas foram foram alvo de insultos, humilhações e xingamentos (31,4%), outras de batidas, empurrões ou chutes (16,9%). Há aquelas que sofreram ameaças de apanhar, chutar ou empurrar (16,1%), perseguição ou amedrontamento (16,1%) e ofensa sexual ou tentativa forçada de ter relação sexual (10,4%).

Mulheres brasileiras também foram alvo de lesão provocada por objeto atirado (8,9%), espancamento ou tentativa de estrangulamento (7,8%), ameaça com faca ou arma de fogo (6,4%) e tiro ou esfaqueamento (1,4%). Esta última foi a única de todas as categorias que não apresentou aumento desde a última pesquisa, de 2023.

Mais da metade das mulheres (57%) relata que a violência ocorreu dentro de casa, enquanto 67% delas afirmam que as agressões foram praticadas pelo parceiro ou ex-parceiro íntimo.
Segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, há vários fatores que podem ter influenciado a alta da vitimização e as mudanças no perfil das agressões.

Ela cita com primeiro fator o aumento do reconhecimento do que é violência, tanto pelas mulheres como pelas instituições. “Houve uma mudança cultural que promoveu o debate público sobre o tema, que tem sido objeto de outras tipificações penais, como a Lei do Stalking [14.132/2021]. Isso pode influenciar na forma como as mulheres se reconhecem numa situação de violência que antes era naturalizada”, avalia.

A pandemia é outro fator que parece ter catalisado várias formas de violência para dentro das casas, seja com a mulher seja com crianças. Ao mesmo tempo, o desfinanciamento de políticas para mulheres tem retirado recursos humanos e financeiros cruciais para lidar com o problema.

“Estamos falando de políticas que dependem do acesso das mulheres à delegacia mas não tem nenhuma medida para incentivar essa mulher a procurar a delegacia ou para melhorar o atendimento de quem busca ajuda na polícia militar ou civil. Sem recursos humanos e financeiros, não tem milagre”, aponta.

A pesquisa aponta que a maior parcela de mulheres alvo de violência no último ano (47,4%) não procurou ajuda nem responsabilização depois de viver um episódio grave de agressão. Já 19,2% procuraram ajuda da família, 15,2% procuraram a ajuda de amigos, 14,2% foram a uma Delegacia da Mulher, enquanto 6% buscaram ajuda na igreja.

Por último, a diretora-executiva do Fórum cita o crescimento do extremismo violento e o avanço de uma pauta conservadora. “Há interdição do debate sobre gênero nas escolas, disseminação de canais redpills e afins que pregam discursos misóginos, machistas e violentos e legitimam práticas de violência contra as mulheres. Não podemos dissociar essa expansão de uma possível repercussão na vida doméstica das mulheres.”