LUCAS LACERDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após 50 dias de buscas, os fugitivos da penitenciária federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram capturados nesta quinta-feira (4) em Marabá, no sudeste do Pará, a uma distância de 1.640 km de carro da cidade potiguar.
A fuga durante o Carnaval, inédita no sistema penitenciário federal, abriu a primeira crise da gestão de Ricardo Lewandowski à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, empossado dias antes.
Entre buscas com centenas de agentes e prisões em outras cidades, confira a linha do tempo do caso, da fuga à captura nesta quinta.
14 DE FEVEREIRO: A FUGA
Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Martelo, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Tatu ou Deisinho, fogem da penitenciária federal em Mossoró na madrugada.
A principal suspeita inicial é que os dois presos, ligados ao Comando Vermelho, tenham usado materiais de uma obra do pátio da penitenciária como instrumentos na ação. Os detentos teriam aberto um buraco no teto da cela e conseguido escapar do local, durante o banho de sol.
Além da revisão de protocolos nas penitenciárias federais e do afastamento da direção da penitenciária de Mossoró, o ministério inicia as buscas com mais de cem agentes federais.
Para o juiz federal Walter Nunes, corregedor do Penitenciária Federal de Mossoró, o episódio é, “sem dúvidas”, o mais grave da história dos presídios de segurança máxima do país.
15 DE FEVEREIRO: O COMEÇO DAS BUSCAS
Após pedido do ministério no dia anterior, Rogério e Deibson são incluídos no sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras. Depois, passam para a vermelha.
O governo espera encontrar a dupla ainda no Rio Grande do Norte e amplia a fiscalização nos estados, além de realizar ações à noite.
Em Mossoró, o secretário nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça, André Garcia, diz que, se os protocolos de segurança tivessem sido seguidos rigorosamente, as fugas não teriam acontecido. Ele não descarta relaxamento da segurança ou facilitação da fuga. O ministério suspende banhos de sol, visitas sociais e de advogados e atividades de assistência no sistema federal.
16 DE FEVEREIRO: FUGITIVOS AVISTADOS E FAMÍLIA REFÉM
Moradores na região do presídio afirmam ter visto os fugitivos. São encontradas pegadas e roupas atribuídas à dupla. As buscas, segundo a polícia, se concentram em um perímetro de 15 km do presídio ao centro da cidade. Durante a tarde, investigadores afirmam que cães farejadores detectaram, mais de uma vez, rastros de Rogério e Deibson.
Segundo investigadores, eles fizeram uma família refém à noite. Familiares disseram que a dupla fez várias ligações por WhatsApp, algumas para o Rio de Janeiro, se alimentou e fugiu quatro horas depois com mantimentos.
17 DE FEVEREIRO: LULA SUGERE CONIVÊNCIA PARA FUGA
Enquanto as buscas continuam em áreas após o avistamento dos fugitivos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que pode ter havido conivência na fuga. “Parece que teve conivência com alguém do sistema lá dentro, mas não posso acusar ninguém”, afirmou o presidente em Adis Abeba, capital da Etiópia, durante viagem a países africanos.
19 DE FEVEREIRO: LEWANDOWSKI EM MOSSORÓ
Após desembarcar em Mossoró no dia anterior, Lewandowski anuncia o uso da Força Nacional nas buscas pelos fugitivos. São enviados 100 homens e 20 viaturas para a região. Cerca de 500 agentes, entre policiais estaduais e federais, já trabalham nas buscas.
20 DE FEVEREIRO: SERVIDORES DE MOSSORÓ AFASTADOS
A corregedora-geral da Secretaria Nacional de Políticas Penais, Marlene Inês da Rosa, afasta cautelarmente os servidores de inteligência, de segurança e da divisão administrativa da penitenciária até a conclusão das apurações.
22 DE FEVEREIRO: POLÍCIA PRENDE SUPOSTOS COLABORADORES
A polícia anuncia que prendeu três pessoas sob a suspeita de ajudar Rogério e Deibson fora do presídio. O primeiro, detido em 21 de fevereiro, tinha um mandado de prisão aberto contra ele, e um carro também foi apreendido na ação em Quixabeirinha, em Mossoró. Outros dois foram presos em flagrante com armas. As prisões reforçam a hipótese de ajuda fora do presídio.
23 DE FEVEREIRO: IRMÃO DE FUGITIVO PRESO
A Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado) no Acre prende durante a manhã o irmão de um dos fugitivos do presídio. Ele já tinha condenação por roubo e participação em organização criminosa e estava com mandado de prisão em aberto. No dia seguinte, a Polícia Federal oferece recompensa de R$ 15 mil por cada preso a quem der informações que levem à captura deles.
26 DE FEVEREIRO: POLÍCIA PRENDE DONO DE SÍTIO
O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, 38, é preso. Ele é dono do terreno onde os dois fugitivos da penitenciária federal ficaram escondido por quase oito dias. Segundo a polícia, ele recebeu cerca de R$ 5.000 para abrigá-los.
29 DE FEVEREIRO: ÚLTIMAS PISTAS E PRISÕES EM OUTROS ESTADOS
Em 29 de fevereiro, policiais fazem buscas na zona rural de Baraúna, na divisa entre o Rio Grande do Norte com o Ceará, atrás da última pista recebida até ali: os detentos teriam invadido uma casa em 25 de fevereiro, e teriam sido vistos na madrugada, por volta da 1h.
Enquanto isso, na região metropolitana de Fortaleza (CE), a sexta pessoa suspeita de ajudar os presos após a fuga é presa. Ele seria um parceiro forte dos fugitivos, mas os agentes não divulgam detalhes da ajuda.
3 DE MARÇO: INVASÃO DE GALPÃO
Rogério e Deibson invadem um galpão na zona rural de Baraúna (RN) na madrugada. Os fugitivos agridem um agricultor após ele dizer que não tinha arma ou celular, e fogem com alimentos. Dois dias antes, a polícia havia encontrado munição de fuzil no esconderijo deles no sítio de Ronaildo Fernandes.
8 DE MARÇO: MAIS UM PRESO
Mais uma pessoa é presa em Fortaleza (CE), e o número de detidos por darem apoio aos fugitivos chega a sete. A prisão ocorreu em cumprimento a um mandado de prisão preventiva expedido pela 8ª Vara federal de Mossoró.
14 DE MARÇO: UM MÊS DE BUSCAS
Depois de trinta dias de buscas, os fugitivos já haviam mantido uma família como refém, sido avistados em comunidades diversas, se escondido em uma propriedade rural e agredido um indivíduo na zona rural de Baraúna. Ao longo de março, investigações apontaram que os detentos foram ajudados por uma rede de apoio que estaria sendo bancada por integrantes do Comando Vermelho.
Os suspeitos ainda estão na região de Mossoró, segundo declaração do ministro Ricardo Lewandowski no dia anterior.
3 DE ABRIL: OITAVO SUSPEITO DE COLABORAÇÃO PRESO
A polícia anuncia a prisão da oitava pessoa suspeita de apoiar Rogério e Deibson após a fuga do presídio federal. O homem foi preso em 1º de março em Fortaleza. Ele estava em uma pousada na praia do Futuro. Enquanto isso, o ministério da Justiça e Segurança Pública continua a descartar corrupção na fuga dos presos.
4 DE ABRIL: A CAPTURA
Após 50 dias de buscas, uma ação que envolveu a PF e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) terminou com a captura de Rogério e Deibson em Marabá, no sudeste do Pará, a 1.641 km de Mossoró. De carro, a viagem levaria um dia inteiro.
A dupla foi encontrada perto de uma rodovia federal com outras quatro pessoas, em um comboio de três carros. Foram apreendidos oito celulares e um fuzil com dois carregadores.
Segundo Lewandowski, as investigações continuam, com foco em toda a estrutura de apoio aos fugitivos. O ministro disse que eles tiveram ajuda externa de organizações criminosas e estavam a caminho do exterior.