FOLHAPRESS
Quando a medicina esgota seus esforços no combate a uma doença, os cuidados paliativos entram em ação. Eles fazem parte de uma abordagem que não tem objetivo de cura, mas de oferecer bem-estar ao paciente, controlando sintomas físicos e emocionais.
Os cuidados atravessam diversas especialidades médicas e incluem enfermeiros e assistentes sociais. Acionados, esses profissionais compreendem a morte como um ciclo natural, sem antecipá-la nem adiá-la. O suporte se estende também à família, oferecendo amparo desde o diagnóstico até o luto.
O conceito de cuidados paliativos se modernizou nos últimos anos. Antes, o tratamento era entendido como um acompanhamento quando o paciente está sem alternativa de cura. Agora, a OMS afirma que o monitoramento das necessidades do paciente e o acolhimento à sua família deve ser feito a partir do diagnóstico.
O método se transformou em um planejamento, não sendo mais apenas um cuidado final visando a morte. Nos Estados Unidos, já existem doulas do fim da vida, com papel semelhante às que auxiliam grávidas a dar à luz, mas se dedicam ao momento da morte. Elas ajudam idosos a realizarem desejos finais, como fazer uma atividade específica ou morrer em casa, oferecendo apoio emocional e espiritual.
Segundo Daniel Forte, coordenador da área no Hospital Sírio-Libanês e presidente da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos), estudos também mostram que cuidados paliativos podem aumentar o tempo de vida dos pacientes.
Apesar de indicado para pacientes em fase terminal de várias doenças, o método paliativo é majoritariamente aplicado em pessoas com câncer. Principalmente em casos de metástase, quando o tumor deixa sua origem e se espalha por outras partes do corpo.
É o caso de Pelé, 82. Internado desde a última terça (29) no Hospital Israelita Albert Einstein, o craque não responde mais ao tratamento quimioterápico que vinha fazendo desde setembro do ano passado, quando foi operado de um câncer de intestino. No início do ano, foram diagnosticadas metástases no intestino, no pulmão e no fígado.
A Folha apurou que ele está em cuidados paliativos exclusivos, recebendo medidas de conforto para aliviar a dor e a falta de ar, por exemplo, sem ser submetido a terapias invasivas, como a quimioterapia.
Apesar de a OMS (Organização Mundial da Saúde) defender que os métodos paliativos sejam tratados como uma necessidade humanitária urgente para pessoas com doenças graves, segundo a ANCP, há só 177 equipes atuando na área no Brasil, tornando o acesso desigual.
Mais da metade das equipes está no Sudeste. Destas, a maioria fica na cidade de São Paulo. E, dentro da capital, a maioria dos grupos está na região da avenida Paulista, na região central.
“A avenida Paulista tem mais equipes de cuidado paliativo do que o Norte e o Nordeste”, diz Daniel Forte, coordenador da área no Hospital Sírio-Libanês e presidente da ANCP.
“O Brasil tem ilhas de excelência, mas tem também um mar sem esse serviço. Nossa situação está pior que a de países como Argentina, Uruguai e Zâmbia”, diz Forte.