Uma operação conjunta das polícias Civil e Federal, da Promotoria e da Procuradoria do Rio de Janeiro, prendeu nesta quarta-feira (3) o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, 36, conhecido como TH Joias (MDB), por suspeita de realizar negociações para o Comando Vermelho.
A Polícia Civil disse haver “provas robustas” de que TH, além de usar o mandato para favorecer a facção, intermediava compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones.
Os antidrones eram usados para dificultar operações policiais, segundo denúncia do Ministério Público. A Promotoria afirma ainda que TH nomeou outros suspeitos de envolvimento em cargos na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
TH Joias foi preso em um condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A operação prendeu outras 13 pessoas, entre eles Gabriel Dias de Oliveira, suspeito de pertencer ao Comando Vermelho, e Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, assessor parlamentar de TH.
Assessores do deputado estadual foram procurados pela reportagem por mensagem e ligação na manhã desta quarta (3), mas não responderam até a publicação deste texto. O parlamentar não respondeu à tentativa de contato via redes sociais. A reportagem também não localizou as defesas de Oliveira e Gonçalves.
O presidente estadual do MDB, Washington Reis, afirmou que o partido decidiu expulsar o parlamentar. “TH, que já não seguia a orientação partidária em seus posicionamentos e votações na Assembleia Legislativa do Rio, não fará mais parte dos nossos quadros”, disse por mensagem.
TH Joias já havia sido preso em 2017. A investigação da época apontava que ele atuava recebendo informações de policiais, como data de operações, e repassava para diferentes facções, recebendo R$ 11.000 por semana. Ele ficou nove meses preso.
Antes de ser empossado como deputado, em 2024, TH Joias era conhecido por fazer joias personalizadas para celebridades, como cantores e jogadores de futebol.
Ele recebeu 15.015 votos nas eleições de 2022 e conseguiu a vaga após a morte do deputado estadual Otoni Moura de Paulo. O suplente imediato, Rafael Picciani (MDB) decidiu continuar na secretaria de Esportes, abrindo vaga para TH.
OPERAÇÕES SIMULTÂNEAS MIRAM BRAÇOS DO CV
Duas operações simultâneas são realizadas nesta quarta: a Bandeirantes, com investigações da Polícia Civil e da Promotoria, e a Zargun, da Polícia Federal. Ambas miram suspeitos de envolvimento com o Comando Vermelho.
A denúncia da Promotoria indica vínculos dos acusados com o Comando Vermelho, especialmente nos complexos da Maré e do Alemão. Nesta investigação, a Promotoria aponta que TH Joias nomeou suspeitos para cargos na Alerj, intermediou compra e venda de drogas, armas de fogo, aparelhos antidrones e fez pagamentos a traficantes.
Segundo a Polícia Civil, instituições financeiras emitiram alertas sucessivos sobre as empresas ligadas a TH, o que reforçaria, de acordo com a investigação, a suspeita de lavagem de dinheiro.
“Estamos diante de uma investigação que comprova a infiltração direta do crime organizado dentro do parlamento fluminense”, afirmou o secretário de Polícia Civil Felipe Curi, em material divulgado pelo órgão.
Além de TH, dois denunciados são acusados de fazer o controle financeiro do grupo, guardando dinheiro, e um outro seria o fornecedor do antidrone.
Já a investigação da PF mira agentes públicos, entre eles um delegado da própria PF que atua no aeroporto internacional do Rio, além de policiais militares, um ex-secretário municipal e estadual e o deputado TH Joias. A PF aponta que o grupo acessava informações sigilosas e se aproveitava dos cargos públicos para garantir impunidade. Eles também são suspeitos de importar armas do Paraguai e antidrones da China.
A Justiça Federal determinou afastamento dos agentes públicos e a suspensão de atividades de empresas usadas, supostamente, para lavagem de dinheiro.
As polícias Civil e Federal não divulgaram o período em que os supostos crimes teriam ocorrido.
A operação da PF cumpre 18 mandados de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão, um deles na sede da Alerj, no centro do Rio. O TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) também determinou o bloqueio de bens dos investigados, em valor que chega a R$ 40 milhões.