Teatro Nazareno Tourinho só no nome; artistas reclamam de má estrutura

Artistas reclamam da estrutura do Teatro Nazareno Tourinho, ligado à Prefeitura de Belém, que não tem nem cadeiras.
Artistas reclamam da estrutura do Teatro Nazareno Tourinho, ligado à Prefeitura de Belém, que não tem nem cadeiras.

Wal Sarges

O Teatro Popular Nazareno Tourinho foi inaugurado em dezembro do ano passado, pela Prefeitura de Belém, via Fundação Cultural de Belém (Fumbel). Mas, um ano depois, o espaço que atenderia a uma expectativa antiga de um teatro municipal tem sido alvo de críticas da classe artística de Belém. De acordo com personalidades do teatro paraense, o local não tem a mínima estrutura cenotécnica para comportar uma plateia e nem ambiente adequado para as apresentações artísticas. Segundo os relatos, faltam até mesmo cadeiras e equipamentos de iluminação e de som.

Conhecida antes como Casa Amarela, o espaço fica localizado na Cidade Velha, na Praça do Carmo, bem no coração do centro histórico da cidade. De acordo com as informações da própria Prefeitura de Belém, divulgadas em seu portal oficial de notícias, a Agência Belém, as obras para a implantação do teatro foram feitas pela Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), com valor total de R$ 98.699,70. Mas um ano depois, o espaço não oferece condições para apresentações.

O ator e diretor Alberto Silva Neto, nome bastante atuante na cena teatral paraense e professor da Escola de Teatro e Dança da UFPA, passou pela situação de ter que cancelar as apresentações que faria de seu espetáculo “Momo” no local, que deveriam ocorrer entre os dias 8 e 10 de dezembro.

Ele recebeu uma notificação de que teria de emprestar cadeiras para que acomodasse seu público. O ator ficou indignado com a situação que encontrou, porque já estava em campanha de divulgação do evento nas redes sociais. Depois do ocorrido, precisou reprogramar o espetáculo para a Casa da Linguagem, onde fará sua temporada nas mesmas datas, sempre às 20h.

“Como meu ato poético ‘Momo’ prescinde de tal estrutura, resolvi propor uma temporada lá, em dezembro. Procurei a direção do lugar e fui orientado a formalizar o pedido em ofício, o que fiz. Só depois disso fui informado de que o ‘teatro’ não possuía sequer cadeiras — que ‘poderiam ser emprestadas pela Fumbel, desde que não houvesse outro evento no mesmo dia’ — e que apenas um ar condicionado, entre seis, estava funcionando. Diante da situação, até constrangedora, não tive outra alternativa senão cancelar o pedido já autorizado, em que pese já ter iniciado a divulgação nas redes sociais”, explica o ator.

Alberto Silva Neto conta que ficou tão frustrado com a falta de organização dos gestores municipais que simplesmente comunicou informalmente sua desistência. “Embora grave, esta situação é apenas uma entre inúmeras questões que fazem desta uma péssima gestão municipal para a cultura, que não a diferencia das anteriores. Não consigo entender como a prefeitura, via Fumbel, tenha sido capaz de inaugurar aquele espaço chamando-o de teatro, e, para piorar, ainda o mantenha desaparelhado minimamente para receber um evento cênico, um espetáculo teatral mais convencional. Mais honesto seria chamá-lo de espaço multiuso, ou coisa parecida. Teatro mesmo, aquilo ali não é. Nem será. Só de nome”, diz.

INDIGNAÇÃO

Com quatro décadas de carreira artística, atuando como ator, diretor, cineasta e produtor cultural, Claudio Barros também ficou indignado com o que observou no Teatro Nazareno Tourinho. “Aquele lugar não tem condições nem estrutura física interna e técnica para ser teatro ou sequer um teatro experimental. Não tem grid de luz, por exemplo, nem equipamento de iluminação, não tem nem cadeira para receber o público. Se não tem iluminação para eu fazer a luz técnica do meu espetáculo, não tem equipamento de som para eu colocar a trilha sonora, então não tem nada, não tem teatro. É uma mentira, é um engano. Além disso, é um desrespeito ao nome do Nazareno Tourinho, que foi um dramaturgo e que tem a sua importância na história do teatro desse lugar”, aborda.

Ele faz duros questionamentos e pede que alguém seja responsabilizado. “Gostaria de perguntar ao prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, o que é isso? E depois, quem foram os técnicos responsáveis pela construção e pela criação de luz? A gente precisa saber quem foram os profissionais, os técnicos que ganharam dinheiro para projetar aquilo? Foram pagos para construir um teatro e não construíram”, afirma Claudio Barros, para quem a Prefeitura poderia ter se valido de muitos nomes da classe artística de Belém para chegar a um projeto que atendesse às necessidades reais de um teatro.

“Tem técnicos, mestres, doutores em teatro que poderiam muito bem fazer uma consultoria para que a Prefeitura não passasse vergonha com esse espaço que inaugurou. É vergonhoso chamar de teatro um lugar em que não dá para fazer teatro”, aponta Claudio Barros.

Para Alberto Silva Neto, a situação reflete a falta de estrutura, de um modo geral, no que diz respeito a espaços públicos destinados ao fazer teatral. “O Pará todo, incluindo Belém, infelizmente é muito mal aparelhado no que diz respeito a equipamentos artístico-culturais públicos. Nesse contexto, a criação de um teatro municipal é imprescindível e, por isso, sempre foi uma reivindicação dos artistas da cena. Porém, este espaço que a atual gestão inaugurou nunca será um teatro minimamente digno de cumprir tal função, reparando essa dívida histórica. Acho um desrespeito, quase um escárnio, considerá-lo um teatro”, critica.

A reportagem entrou em contato com as assessorias de comunicação da Fumbel e da Prefeitura de Belém, por e-mail e mensagens de texto de aplicativo (WhatsApp), ao longo da última semana, solicitando posicionamento sobre o assunto. No entanto, até o fechamento desta matéria, não houve nenhum retorno.