
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta quinta-feira (20), que os municípios têm competência para criar leis que regulamentem a atuação das guardas municipais em ações de segurança urbana. A decisão, tomada por maioria, estabelece que as normas municipais devem respeitar os limites constitucionais, sem sobrepor-se às atribuições das polícias Civil e Militar, cujas funções são definidas pela Constituição Federal e por leis estaduais. O entendimento do STF tem repercussão geral, o que significa que servirá de diretriz para todos os casos semelhantes no país.
O julgamento ocorreu no Recurso Extraordinário (RE) 608588, que questionava uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). O TJ-SP havia invalidado uma lei municipal que concedia à Guarda Civil Metropolitana de São Paulo poderes para realizar policiamento preventivo, comunitário e prisões em flagrante. Para o tribunal paulista, a norma municipal invadia a competência do estado em legislar sobre segurança pública.
No STF, o relator do caso, ministro Luiz Fux, destacou que as guardas municipais integram o Sistema de Segurança Pública, assim como as polícias Civil e Militar. Ele ressaltou que a competência para legislar sobre segurança não é exclusiva dos estados e da União, mas também dos municípios. Fux foi acompanhado pela maioria dos ministros, que defenderam uma atuação ampliada das guardas municipais, desde que em cooperação com os demais órgãos de segurança pública e sob fiscalização do Ministério Público.
Limites e atribuições das guardas municipais
De acordo com o entendimento firmado pelo STF, as guardas municipais não têm poder de investigação, mas podem realizar policiamento ostensivo e comunitário, além de agir em situações que envolvam condutas lesivas a pessoas, bens e serviços públicos. A atuação desses agentes está limitada às instalações municipais, e eles podem realizar prisões em flagrante. No entanto, qualquer atividade de polícia judiciária foi excluída da competência das guardas.
O ministro Alexandre de Moraes, que votou com a maioria, afirmou que “não podemos afastar nenhum dos entes federativos no combate à violência”. Ele defendeu que as guardas municipais não se restrinjam apenas à proteção do patrimônio público, mas atuem de forma integrada com os demais órgãos de segurança. O ministro Flávio Dino também apoiou uma interpretação ampliada do papel das guardas, reforçando a necessidade de cooperação entre as esferas de governo.
Divergências no STF
Apesar da maioria, houve divergência no tribunal. Os ministros Cristiano Zanin e Edson Fachin votaram contra a decisão, argumentando que a razão que motivou o recurso havia perdido o sentido, já que uma nova lei municipal substituiu a norma invalidada pelo TJ-SP. Eles também buscaram estabelecer limites mais claros para o policiamento ostensivo das guardas, mas seus entendimentos não prevaleceram.
Tese de repercussão geral
A decisão do STF estabeleceu a seguinte tese de repercussão geral, que deverá ser aplicada em todos os casos semelhantes:
“É constitucional, no âmbito dos municípios, o exercício de ações de segurança urbana pelas guardas municipais, inclusive o policiamento ostensivo comunitário, respeitadas as atribuições dos demais órgãos de segurança pública previstas no artigo 144 da Constituição Federal e excluída qualquer atividade de polícia judiciária, sendo submetidas ao controle externo da atividade policial pelo Ministério Público, nos termos do artigo 129, inciso 7º, da Constituição Federal.”
Além disso, o STF reforçou que as leis municipais devem observar normas gerais fixadas pelo Congresso Nacional, conforme previsto no artigo 144, parágrafo 8º, da Constituição.
Impacto da decisão
A decisão do STF libera a tramitação de 53 ações pendentes no tribunal que tratam do mesmo tema. Com o entendimento firmado, espera-se que os municípios passem a regulamentar com mais clareza as atribuições das guardas municipais, sempre em conformidade com os limites constitucionais e em cooperação com as polícias estaduais e federal. A medida visa fortalecer a segurança pública em âmbito local, sem desrespeitar a divisão de competências entre os entes federativos.