CURSO DE MEDICINA

Somente seis cursos de medicina alcançaram a nota máxima no Enade

O Enade 2023 avaliou 9,8 mil cursos. Uma parte deles é avaliada a cada três anos, e em 2023, as engenharias e as formações ligadas à saúde passaram pelo teste.

O Enade 2023 avaliou 9,8 mil cursos. Uma parte deles é avaliada a cada três anos, e em 2023, as engenharias e as formações ligadas à saúde passaram pelo teste.
O Enade 2023 avaliou 9,8 mil cursos. Uma parte deles é avaliada a cada três anos, e em 2023, as engenharias e as formações ligadas à saúde passaram pelo teste.

Os cursos de Medicina pioraram de desempenho no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2023, na comparação com a última avaliação, feita em 2019. Os resultados do exame apontam que 20% dos cursos de Medicina tiveram notas 1 e 2, numa escala que vai até 5. Os patamares são considerados insuficientes pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2019, as piores notas foram obtidas por 13% dos cursos.

Mesmo com esse avanço negativo, a Medicina é a área em que mais graduações conseguiram as melhores faixas de qualidade: 30% tiveram nota 4 e 15%, nota 5. Em 2019, os percentuais foram de 39% com 4 e 12% com 5.

O Enade 2023 avaliou 9,8 mil cursos. Uma parte deles é avaliada a cada três anos, e em 2023, as engenharias e as formações ligadas à saúde passaram pelo teste. A prova é aplicada a todos os formandos, que precisam responder 40 questões: dez de conhecimentos gerais e 30 de conteúdos específicos da sua área.

Participaram 309 cursos de Medicina, sendo 196 privados. Entre as instituições particulares, a proporção que alcançou as piores faixas de desempenho foi maior que a geral, chegando a 28%. Nas públicas, o percentual foi apenas de 6,1%. Fizeram a avaliação 31.054 pessoas, de 23.579 instituições privadas e 8.101 públicas.

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Sandro Schreiber de Oliveira afirma que há uma preocupação da comunidade acadêmica com o crescimento desenfreado de instituições de ensino na área, e isso pode explicar a queda de desempenho na avaliação de 2023.

– Sempre foi um receio nosso de que essa inflação dos cursos pudesse afetar a qualidade. Esse resultado pode reforçar o alerta de que é preciso qualificar essa regulação – afirma Schreiber, professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande.

O número de faculdades de medicina no país quintuplicou desde 1990, e grande parte dessa ampliação ocorre no setor privado. A preocupação cresceu especialmente desde 2016, quando esse processo se acelerou. Dois anos depois, o Ministério da Educação suspendeu novos editais para criação de cursos na área durante cinco anos, assim como aumento de vagas em cursos já existentes, argumentando que as metas para expansão já haviam sido atingidas. No entanto, as instituições de ensino recorreram à Justiça e muitas conseguiram liberar as vagas com liminares.

– Só com as decisões judiciais, esses cursos foram abertos com critérios muito flexíveis em diversos casos – diz o diretor da Abem.

Atualmente, há 390 faculdades de medicina no país, sendo 80% privadas, que são ajudadas pela forte concorrência para o ingresso nas faculdades públicas. Atualmente, 175 mil estudantes estão nos cursos particulares, que movimentam cerca de R$ 26,4 bilhões por ano, o equivalente a 40% do mercado de ensino superior.

Uma nova metodologia de análise dos dados apontou que apenas 13% dos formandos de Medicina não atingiram o desempenho esperado para estudantes nesta etapa de formação. A metodologia consistiu em reunir, antes da prova, docentes da área que, com a análise de conteúdos específicos, determinaram o resultado que deveria ter sido esperado. O método tem sido aplicado também nas avaliações da educação básica e nos próximos anos deverá ser a base de uma mudança mais profunda no Enade.

Além de Medicina, áreas como Enfermagem (34% dos cursos entre os piores níveis de desempenho), Fonoaudiologia (42%) e Odontologia (35%) também foram avaliadas. Na Saúde, o pior desempenho foi Biomedicina, com 48% das graduações tirando as notas 1 e 2.

O curso de Engenharia Mecânica teve o pior desempenho de todos avaliados. Mais da metade (51%) dos cursos tiraram notas 1 e 2. Apenas 18% conseguiram obter os maiores patamares de desempenho, 4 e 5.

Com o Enade, o Inep também divulgou o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) – uma escala de qualidade que também vai de 1 (piores) a 5 (melhores). Entre as 254 universidades públicas avaliadas, 146 (57,5%) obtiveram os conceitos 4 e 5, considerados acima da média. Somando as que receberam conceito 3, o número sobe para 243 instituições (96%). Nenhuma universidade federal ficou abaixo da média. A Universidade Federal de Minas Gerais teve a melhor posição.

Ao todo, entre as 2.101 instituições de ensino superior avaliadas, apenas 66 (3,1%) tiveram nota máxima, metade delas pública e metade privadas. Outras 402 universidades privadas obtiveram conceitos 4 e 5, o que representa cerca de 22% das 1.847 que fizeram parte do exame.

– O Enade cumpre um papel estratégico ao oferecer uma oportunidade para que as instituições que não atingiram conceitos satisfatórios possam aprimorar seus processos formativos e pedagógicos – afirma Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior.

O IGC é baseado na nota que a Capes atribui a cada curso de pós-graduação da instituição e na média de cada um no Conceito Preliminar de Curso (CPC) do Inep. O índice é o indicador mais importante sobre a qualidade de universidades, faculdades e centros universitários.

O CPC também é uma reunião de variáveis diferentes. O Enade tem 20% do peso; a porcentagem de professores com mestrado ou doutorado, 30% da nota. A percepção do estudante sobre o curso, 15%. O Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado, que mede a evolução do aluno comparando a nota dele do Enem com a do Enade,35%.

Fonte: Agência O Globo