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Ronnie Lessa diz que ganharia US$ 10 milhões pela morte de Marielle Franco

Lessa está preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo,
Lessa está preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo,

FRANCISCO LIMA NETO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-policial militar Ronnie Lessa contou, em sua delação premiada, que o acordo fechado com os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) lhe renderia US$ 10 milhões.

A declaração consta em vídeo da delação, obtido pela TV Globo e exibido no Fantástico deste domingo (26), em que Lessa assume a autoria do crime e dá detalhes do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes. Segundo ele, em troca do crime, ele e o comparsa Edimilson de Oliveira -também ex-PM, conhecido como Macalé e assassinado em 2021- se tornariam sócios em dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio de Janeiro.

“Ninguém recebe uma proposta de receber 10 milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa. Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle como um assassino de aluguel, não. Eu fui chamado para uma sociedade”, afirma, no vídeo.

O ex-PM afirma que se tornaria um dos donos dos loteamentos irregulares que seriam implantados em Jacarepaguá. Lessa, que foi preso em março de 2019 sob acusação de executar o homicídio, não disse na delação quando esses loteamentos seriam criados.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, ele falou em R$ 100 milhões, e realmente as contas batem, R$ 100 milhões o lucro dos dois loteamentos. São 500 lotes de cada lado. Na época, dava mais de 20 milhões de dólares”, afirmou.

Lessa afirmou que o grupo estava interessado na exploração de serviços e pensava também em reflexos na política.

“A gente assumia [o loteamento] e ia criar uma milícia nova. Ali teria exploração de ‘gatonet’, exploração de kombis, a exploração de qualquer outra coisa que a milícia explora, exploração do gás. A questão valiosa ali é depois, a manutenção da milícia, porque vai trazer voto”, disse.

O ex-policial reafirmou que os mandantes do crime, segundo ele, são os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão -eles estão presos desde 24 de março. Segundo Lessa, Marielle teria se tornado um empecilho para os planos dos Brazão porque vinha fazendo reuniões na região e orientando a população a não aderir a novos empreendimentos ligados à milícia.

Domingos é conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Rio de Janeiro); Chiquinho é deputado federal e foi expulso do União Brasil após a prisão. Os dois negam as acusações.
Lessa afirmou ter tido três encontros com os irmãos. Dois antes e um após o crime ter sido executado.

Marielle Franco não teria sido a primeira opção dos irmãos. De acordo com Ronnie Lessa, Marcelo Freixo, então no PSOL, era um alvo de interesse dos criminosos.

“Eles falavam sempre do Marcelo Freixo, falavam do Renato Cinco, o Tarcísio Motta. E demonstravam, assim, um interesse diferenciado por essas pessoas, pelas pessoas do PSOL”, disse.

PLANO
Segundo a Polícia Federal, o plano de execução da vereadora foi planejado pelo então diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio, delegado Rivaldo Barbosa, também preso em março.

Rivaldo teria aderido ao crime antes mesmo de Ronnie Lessa e Macalé, diz a PF, passando a ser um dos arquitetos do assassinato com os irmãos Brazão.

O relatório aponta que o delegado chegou a fazer uma “exigência fundamental” que seria repassada aos executores, de que a morte não poderia ocorrer após a saída da vereadora da Câmara Municipal, a fim de afastar a ideia de crime político. O objetivo de Rivaldo com a exigência era manter as investigações sob sua alçada.

Na delação, Ronnie Lessa disse que sua primeira reunião com os irmãos Brazão ocorreu por volta de setembro de 2017, quando foi acertado o assassinato de Marielle. Segundo Lessa, Domingos descreveu todo o serviço e avisou que havia colocado um infiltrado no PSOL para levantar informações e monitorar a vereadora.

O CRIME

A vereadora foi assassinada no bairro Estácio, centro do Rio, por volta das 21h30 do dia 14 de março de 2018. Foto: Reprodução

A vereadora foi assassinada no bairro Estácio, centro do Rio, por volta das 21h30 do dia 14 de março de 2018. Foto: Reprodução

Seu veículo foi atacado a tiros quando ela voltava de um encontro com mulheres negras na Lapa, também no centro, a cerca de 4 km dali.

Marielle estava no banco de trás com sua assessora, que sofreu ferimentos leves. Na frente estava o motorista Anderson Gomes, 39, que também morreu. Após os disparos, os criminosos fugiram do local em disparada, sem roubar nada.

Os suspeitos negam envolvimento no crime. O deputado Chiquinho Brazão afirmou que tinha “ótima relação” com Marielle quando era vereador e minimizou a divergência apontada pela PF em relação a um projeto dele para flexibilizar regras de regularização de terras no Rio.

A defesa de Domingos Brazão diz, em nota, que “delações não devem ser tratadas como verdade absoluta -especialmente quando se trata da palavra de criminosos que fizeram dos assassinatos seu meio de vida” e que “aguarda que os fatos sejam concretamente esclarecidos”.