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Queimadas na Amazônia têm recorde


Para a WWF, o descontrole das queimadas está associado a um aumento do desmatamento e falta de fiscalização do Governo Federal. FOTO: Bruno Rocha / arena – Folhapress

Luiza Mello

Em agosto deste ano, as queimadas na Amazônia bateram recorde, superando todos os recentes registros, incluindo os resultados de agosto de 2010, considerado até então o pior momento de destruição na região dos últimos anos.

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que as queimadas – assim como o desmatamento associado a elas – estão fora de controle na Amazônia desde 2019. O Programa Queimadas do INPE revelou que, entre o início de janeiro e o fim de agosto, o bioma já acumula mais de 46 mil focos. Só no mês passado, foram 33.116 focos.

No acumulado do mês, agosto de 2022 supera até o número do mesmo mês em 2019, quando houve o “dia do fogo”, organizado por um grupo de produtores rurais que combinaram para o mesmo período a queimada de pastos e de áreas em processo de desmatamento. Até hoje, o “dia do fogo” é considerado o momento emblemático para a preservação do meio ambiente no Brasil, quando teve início a política de desmantelamento dos sistemas federais de proteção ambiental, segundo revela a WWF-Brasil, organização da sociedade civil brasileira, que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental.

De acordo com a organização, em todos os quatro anos que correspondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil entre janeiro e agosto. Já nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos no mesmo período foi de cerca de 28 mil focos. Para a WWF, essa é uma marca do governo de Jair Bolsonaro.

“O descontrole das queimadas observado nos últimos quatro anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período”, explica Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. “A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre associada a ações humanas – em especial ao desmatamento e à degradação florestal”, completa a gerente da WWF.

As queimadas, em geral, correspondem à última fase do desmatamento: depois de cortar as árvores, os desmatadores colocam fogo na floresta derrubada para “limpar o terreno”. Mas, a degradação florestal também contribui fortemente para o aumento do fogo. As áreas degradadas, embora não tenham sido totalmente devastadas pelo corte raso, têm menor número de árvores grandes, são mais suscetíveis aos efeitos das secas, acumulam mais biomassa seca e inflamável e, assim, ficam mais vulneráveis ao fogo.

A organização WWF explica que, assim como as queimadas, o desmatamento também explodiu nos últimos quatro anos. Entre o início de janeiro e o fim de julho, a devastação vem batendo recordes sucessivos desde 2019 e chegou a 5,4 mil km2 desmatados em 2022.

De acordo com o Sistema de alerta DETER, do INPE, entre 2016 – quando começa a série histórica – e 2018, a média anual de alertas de desmatamento na Amazônia Legal corresponde a 2,6 mil km2, no período entre janeiro e julho. No mesmo período, a média anual foi de 5 mil km2 entre 2019 e 2022.

“O governo Bolsonaro tem promovido uma política antiambiental”, afirma Raul Valle, especialista em Justiça Ambiental e Direito dos Povos do WWF-Brasil. Valle ressalta que inúmeras ações do governo de Jair Bolsonaro contribuíram para a escalada das queimadas nos últimos anos – e para o aumento do desmatamento e da degradação florestal. “Durante toda sua gestão, Bolsonaro repetiu – no Brasil e no exterior – que não há queimadas na Amazônia, negando dados incontestáveis, enfraqueceu os mecanismos de controle e comando na região e espalhou um clima de permissividade para os crimes de destruição, apoiando desmatadores e garimpeiros”, lembra o especialista.

Valle lembra ainda, que o governo Bolsonaro reduziu o orçamento e a capacidade de ação de órgãos como o IBAMA – que reduziu as operações de fiscalização e viu cair drasticamente o número de multas aplicadas a infratores ambientais.