Atualmente preso em regime domiciliar por “reiterado descumprimento das medidas cautelares” impostas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia enfrentado problemas com a Justiça antes mesmo de iniciar sua carreira política.
Em 1986, aos 31 anos, quando ainda era paraquedista do Exército, Bolsonaro foi detido por 15 dias em um quartel no Rio de Janeiro. A punição foi motivada por um artigo publicado na revista Veja, intitulado “O salário está baixo”, em que criticava os baixos vencimentos da tropa e alertava para uma crise na instituição.
No texto, o então capitão denunciava a fuga de cadetes devido à crise financeira que atingia oficiais e sargentos. Segundo ele, havia uma “crise de falta de perspectiva funcional” nas Forças Armadas. Em tom crítico, escreveu:
“A situação é dramática. Os oficiais estão abandonando o Exército. (…) Um Exército desprestigiado é um país vulnerável. E o Brasil, com sua dimensão continental, não pode ser um país vulnerável.”
O artigo, que marcou seu primeiro confronto direto com a hierarquia militar, trazia uma das frases que ele viria a usar como slogan em sua campanha presidencial: “Brasil acima de tudo”.
“Corro o risco de ver minha carreira de devoto militar seriamente ameaçada, mas a imposição da crise e da falta de perspectiva que enfrentamos é maior”, concluiu na publicação.
A repercussão foi imediata. A prisão disciplinar provocou mobilização entre colegas de farda. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo na época, houve tentativa de divulgar um manifesto de apoio assinado por cerca de 300 capitães e manifestações de esposas de oficiais.
Suspeita de plano de atentado em 1987
No ano seguinte, em 1987, Bolsonaro voltou a ser alvo de polêmica. Uma reportagem da revista Veja o acusava de, junto a outro oficial, planejar a colocação de bombas-relógio em unidades militares no Rio de Janeiro como forma de protesto contra os salários baixos.
O caso foi julgado pelo STM (Superior Tribunal Militar) em 1988, e Bolsonaro foi absolvido por 8 votos a 3, por falta de provas. A decisão permitiu que permanecesse no Exército.
Ainda em 1988, iniciou sua trajetória política ao ser eleito vereador do Rio de Janeiro pelo PDC (Partido Democrata Cristão).
Reconhecimento de indisciplina
Segundo documentos do STM divulgados pela Folha de S. Paulo em 2017, o então capitão admitiu, em 1987, ter cometido atos de indisciplina e deslealdade com seus superiores.
Assim como ocorre hoje, os episódios daquela época também provocaram desconforto nas Forças Armadas e envolveram Bolsonaro em tensões políticas e institucionais.
Com informações da CNN Brasil