Quatro policiais militares que deveriam estar escoltando do empresário Vinicius Gritzbach, assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos, estão sendo investigados por não terem acompanhado a vítima após seu desembarque. Os homens alegam que atrasaram para a tarefa porque o carro que usavam, um Amarok, teria quebrado.
Quando Gritzbach foi morto por disparos de fuzil, os únicos dois policiais presentes eram aqueles que estavam dentro de um outro carro, um Trail Blazer, com um familiar do empresário. Eles aguardavam a chegada da vítima estacionados numa das pistas da zona de desembarque.
“Segundo relatos dos policiais militares, o veículo não conseguiu acessar a área do desembarque, pois apresentou um problema mecânico e permaneceu no posto de combustíveis Ipiranga”, afirma o boletim de ocorrência que registrou o crime.
Após estranhar a ausência do restante da equipe de segurança em questão, os investigadores encarregados do caso apreenderam os celulares dos outros quatro PMs e os encaminharam para interrogatórios.
“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, afirmou hoje a Secretaria de Segurança Pública de Segurança de São Paulo (SSP) em comunicado.
“A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores. As corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso mencionado.”
Segundo a polícia, o carro que era usado pelos PMs está sendo periciado em busca de evidências de que sabotado ou avariado intencionalmente. O carro que os atiradores usaram durante a abordagem, um Gol preto, foi abandonado no bairro de Vila Barros, em Guarulhos, e também foi apreendido para investigação.
Detalhes do crime
O boletim de ocorrência não descreve com detalhe onde estaria o terceiro carro, o Trail Blazer, no momento do assassinato. A polícia afirma que o carro tinha deixado a área de desembarque na hora que investigadores chegaram, mas não especificam se isso ocorreu antes ou depois dos tiros. O vai-e-vem da equipe de escolta, da namorada e do filho de Gritzbach nos momentos que antecederam o crime ainda estão sendo esclarecidos.
Um amigo que acompanhava Gritzbach no desembarque e testemunhou o assassinato, saiu ileso, e disse em depoimento que momentos antes do desembarque estava contatando os policiais da escolta por telefone para tentar localizá-los.
Foi nesse momento que os dois assassinos, vestindo balaclavas, pularam para fora de um carro empunhando fuzis e atiraram contra o empresário. A polícia se os criminosos tinham informantes próximos ao empresário, porque provavelmente sabiam do horário do desembarque. Gritzbach voltava de uma viagem ao Nordeste (o boletim de ocorrência não especificou de qual cidade).
O ataque a tiros, no qual os agressores mataram o empresário com tiros na cabeça e no abdômen, deixou outras três pessoas feridas e marcas de tiros em carros e objetos na área do crime.
“Na ação, dois homens e uma mulher ficaram feridos”, afirmou a SSP no comunicado. “Os dois homens, de 39 e 41 anos, permaneceram internados no Hospital Geral de Guarulhos. Já a mulher, de 28, recebeu atendimento médico e foi liberada. Ela foi ouvida pelos policiais no local.”
Os investigadores que trabalham no caso estão agora buscando imagens de câmeras de segurança fora do aeroporto, inclusive no posto de gasolina, para tentar entender melhor o contexto do acontecimento. Quando o carro dos PMs sofreu supostamente uma pane, um dos policiais teria seguido em direção ao terminal de desembarque sozinho, enquanto os outros três teriam ficado junto do veículo.
Uma das hipóteses que a polícia apura é a de que os PMs tenham sido cooptados ou coagidos pelos criminosos para deixar a vítima desprotegida no momento em que fariam a abordagem. Investigadores afirmam que o modus operandi dos dois assassinos é coerente com o que a organização criminosa PCC costuma usar.
A ousadia da abordagem, os calibres/modelos das armas e o planejamento cuidadoso da ação foram características, por exemplo, do assassinato de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, um ex-líder da quadrilha morto no Ceará após desavenças internas.
Gritzbach, que foi colaborador do PCC, era visado por líderes da quadrilha por ter colaborado com a polícia na investigação de lavagem de dinheiro do grupo criminoso.
Texto de: Rafael Garcia e Aline Ribeiro (AG)