O território digital tem se consolidado como um dos principais espaços de violação de direitos de crianças e adolescentes. Essa é a reflexão central do episódio final do podcast Cria Histórias, que estreou nesta primeira semana de julho, trazendo à tona relatos reais, depoimentos de especialistas e propostas de resistência frente aos abusos online. O conteúdo está disponível gratuitamente no site criacoragem.com.br/podcast e nas principais plataformas de áudio.
Intitulado “Onde conecta?”, o episódio denuncia a facilidade com que crianças são expostas a conteúdos extremistas, aliciamento, exploração sexual e discursos de ódio por meio de redes sociais e jogos online. Segundo a pesquisadora Flávia Gasi, uma simples busca por termos como “Minecraft” ou “Roblox” pode levar, em apenas três cliques, a vídeos com teor extremista. “O começo da radicalização da extrema-direita acontece aos onze anos”, alerta.
Casos reais e o impacto das plataformas
O episódio rememora casos recentes que chocaram o país, como a morte da menina Sara Raíssa Pereira, de oito anos, após participar do chamado “desafio do desodorante” no TikTok. A ficção também é usada como alerta: a série Adolescência, da Netflix, retrata a influência do ambiente digital em crimes cometidos por jovens.
Jorge André Barreto, investigador da Polícia Civil, relata como criminosos migraram da deep web para redes sociais populares como TikTok e Kwai. “Eles se aproveitam da busca por curtidas e notoriedade. As crianças produzem conteúdos supervisionados pelos pais, mas que são usados por abusadores para fins criminosos”, afirma.
Depoimentos e alternativas de enfrentamento
Com participação de jovens, educadores e psicólogos, o podcast constrói uma narrativa que vai além da denúncia e propõe saídas concretas. O educador e designer de jogos Rafael Braga compartilha sua experiência pessoal de aliciamento em um jogo online e hoje trabalha com educação crítica digital nas periferias. “A gente vai hackeando o sistema com as ferramentas que temos. O tambor, o pincel, o game: tudo isso são tecnologias”, diz.
A jornalista Juliana Gonçalves apresenta o conceito de “Bem Viver” como estratégia de cuidado coletivo. “Cuidar das infâncias é cuidar do tempo, da saúde, do descanso. A internet também pode ser um lugar de encontro e pertencimento”, afirma.
A condução do episódio é feita por Luiza Akimoto, que convida o público à reflexão: “Já sabemos da potência da internet para manter o sistema, mas cadê as revoluções, as contra-narrativas?”
Cria Histórias: infâncias potentes e protegidas
A série Cria Histórias é uma produção da iniciativa Cria Coragem, do Instituto Çarê, com realização da Bruta Mirada e apoio do Instituto Galo da Manhã. A primeira temporada tem quatro episódios e busca recontar a história do Brasil sob a perspectiva das infâncias, abordando temas como trabalho infantil, resistência estudantil e vivências digitais. A classificação indicativa é 16 anos.
O conteúdo combina entrevistas, trilha sonora original e materiais educativos que podem ser utilizados por escolas e redes de proteção.
Como ouvir
A série está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e no site oficial criacoragem.com.br/podcast.