A Polícia Federal indiciou nesta sexta-feira (8) o ex-candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB) por divulgar um laudo médico falso contra Guilherme Boulos (PSOL) em tentativa de associá-lo ao uso de drogas, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais.
Marçal prestou depoimento por cerca de duas horas nesta sexta na Superintendência Regional da PF em São Paulo. Ele chegou no local por volta das 11h20.
A PF concluiu que o laudo divulgado por Marçal é falso a Polícia Civil também já havia chegado a essa conclusão.
A imagem, divulgada em rede social no dia 4 de outubro pelo autodenominado ex-coach, mostrava um prontuário médico. O documento fraudulento era atribuído à clínica Mais Consulta e afirmava que Boulos teria sido atendido em janeiro de 2021 na unidade do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, em surto psicótico. O laudo falso também afirmava que o acompanhante do deputado do PSOL teria levado um exame toxicológico que apontaria a presença de cocaína.
Na véspera da eleição, o juiz responsável pelo processo de natureza criminal negou pedido de prisão, que tinha sido feito por Boulos, mas determinou, ainda naquele dia, a suspensão por 48 horas de perfil de Marçal.
A filha do médico que aparecia na assinatura do laudo falso afirmou que ele nunca trabalhou na clínica e entrou com processo contra Marçal. O profissional morreu em 2022.
A atitude do então candidato do PRTB uniu em repúdio rivais da disputa eleitoral em São Paulo. Ricardo Nunes (MDB) disse que se tratou de um “ato criminoso”, e Tabata Amaral (PSB) afirmou que o influenciador representava “um perigo”.
Só no Instagram, a publicação falsa chegou a atingir mais de 7 milhões de visualizações no post original do candidato.
O candidato do PRTB disse, em diferentes ocasiões, que não sabia que se tratava de um laudo falso. “Vocês podem falar com o Tássio Renam [advogado]. Ele que postou, na hora da postagem eu estava no [podcast] Inteligência Limitada. Ele mesmo postou. E a gente está 100% em paz”, afirmou a jornalistas após votar no dia da eleição.
Sua defesa, em ação eleitoral, afirmou no dia seguinte ao primeiro turno que a divulgação do laudo estava “amparada pelo direito à livre manifestação do pensamento”. “Se a propaganda veiculada tivesse causado danos ao equilíbrio do pleito, fatalmente o representante não teria avançado para o segundo turno”, afirmou na ocasião.
Uma pessoa investigada passa à condição de indiciada quando o inquérito policial aponta indícios de que ela cometeu determinado crime.
A partir do indiciamento, o Ministério Público receberá o inquérito e avaliará se apresenta denúncia (acusação formal), se pede mais investigações ou se recomenda o arquivamento do caso. O indiciado vira réu apenas a partir do momento em que a Justiça receber eventual denúncia.
A Justiça Eleitoral também investiga o caso do laudo falso. No dia do primeiro turno, o desembargador Silmar Fernandes, presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, disse que se Marçal for condenado pode ter os direitos políticos suspensos, o que deixaria o influenciador inelegível.
Também há outras acusações relacionadas à candidatura do PRTB sob apuração. Uma delas, apresentada pelo PSB, questiona a realização de sorteios e falas contra a Justiça Eleitoral, argumentando que teria havido uma “violação contínua, sistemática, reiterada e programada” de diversos pontos da legislação eleitoral.
Marçal foi derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo no primeiro turno após registrar 28,14% dos votos válidos, contra 29,07% de Boulos e 29,48% de Ricardo Nunes (MDB).
FLÁVIO FERREIRA E VICTÓRIA CÓCOLO/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Colaborou o UOL