RIO (AG) – Há 11 anos o agente administrativo Victor Coutinho, de 31 anos, tem na vira-lata Sansa um remédio antimonotonia:
– A paz de receber a festa que ela faz, ao me ver no final de um dia exaustivo e estressante, é curativa.
A importância de Sansa na vida de Coutinho reflete um sentimento disseminado entre os brasileiros. Uma pesquisa da Quaest para a empresa Petz mostrou que sete em cada dez pessoas no país têm animais de estimação, e é quase unânime a constatação de que os bichinhos trazem felicidade, apoio emocional e segurança para seus tutores. Mas retribuir esse amor pode ser difícil, por causa dos gastos com veterinários, o maior problema apontado pelos entrevistados para manter essa relação.
No caso de Victor, que adotou Sansa quando a cadela tinha dois meses de idade, o desafio é o tratamento para dirofilariose, doença conhecida como parasita do coração do cão. A condição exige alimentação própria para cachorros idosos, medicação para as articulações e exames a cada seis meses para Sansa. Por mês, o agente administrativo gasta cerca de R$ 340, fora as consultas, que variam de R$ 100 a R$ 250.
– Algumas vezes adiamos consultas rotineiras em meses que estamos mais apertados. Mas sempre corremos ao veterinário ao primeiro sinal de qualquer alteração na saúde da Sansa. Apesar de ser um gasto alto, a Sansa é família, encontro muita reciprocidade no carinho dela – diz.
De acordo com a pesquisa, 94% dos brasileiros têm ou já tiveram um animal de estimação: 72% dos entrevistados possuem um pet, e 22% contaram que já tiveram um (apenas 6% dos que responderam disseram nunca ter tido). Com isso, o Brasil tem a terceira maior população de pets do mundo, de 149, atrás apenas da China e dos EUA.
O levantamento destaca que metade dos tutores adotou seu pet. Desses, 42% resgataram o animal na rua. Os que compraram foram 22% (quase metade apontou o desejo por ter uma raça ou um animal específico como motivo para isso), e 28% disseram que ganharam o animal de presente.
Para o engenheiro Lucian Anchieta, de 28 anos, o “filho” Sloan, um buldogue francês de 4 anos, chegou de forma inusitada, mas como um “presente divino”. Em plena pandemia, após anunciar nas redes sociais uma câmera profissional, um rapaz ofereceu em troca o filhote, que hoje é xodó da família e tem dois gatos como “irmãos”. Por sofrer de dermatite, Sloan precisa comer ração específica e conta com atendimento veterinário semanal em casa. Por mês, os gastos ultrapassam R$ 500.
– Nunca deixei de dar esse suporte ao Sloan. Ele é o meu grande amigo, fiel escudeiro – diz Lucian.
Cerca de 55% dos tutores tendem a gastar até R$ 300 por mês com seus animais de estimação – apenas 23% disseram gastar menos de R$ 100. Em relação aos cuidados veterinários, a pesquisa revela que 71% dos tutores recorrem a veterinários particulares em caso de doença, enquanto 20% tratam seus animais em casa. Entre os tutores que ganham até dois salários mínimos, 19% nunca levaram seus animais de estimação a um veterinário.
Metade dos tutores já deixou de realizar algum tratamento no animal por falta de dinheiro, como é o caso da designer de moda Victória Tavares, de 32 anos. “Mãe” da Madalena, Magnólia e Marieta, autênticas por suas personalidades protetora, medrosa e caçadora, respectivamente, ela conta que o tratamento para tártaro ainda não foi feito no trio por falta de verba.
– A Madalena operou uma artrose no cotovelo no ano passado que foi R$ 6 mil. Estamos estudando a melhor forma de realizar o procedimento dentário porque sabemos que pode afetar o coração também. Elas são a tradução perfeita do que é o amor e todo cuidado é pouco – explica.
A pesquisa da Quaest mostrou que há potencial para mais animais ganharem uma casa. Quase 30% dos entrevistados que nunca tiveram um pet disseram desejar ter um. Os principais motivos para não ter um animal são a falta de espaço em casa (20%), o alto custo (16%) e questões de saúde (16%).
A imensa maioria (96%) acredita que um plano de saúde poderia facilitar os cuidados veterinários, com boas clínicas, atendimento emergencial e praticidade. Mas 85% dos entrevistados nunca contrataram um plano para seus pets, e 7% chegaram a ter, mas tiveram de cortar o gasto.
O gatinho Romeu, de 5 anos, é um dos que terá plano de saúde em breve, para auxiliar nos exames e vacinas periódicos:
– O Romeu é minha melhor companhia há dois anos. Meus gastos com ele giram em torno de R$ 150 ao mês, e mesmo ele não tendo problemas de saúde, eu me interesso em contratar um plano de saúde para ele ter mais suporte em caso de emergência – afirma a tutora Fernanda Leite, de 25 anos.