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Paraense 'terrorista' é chamado de covarde por presidente da CPMI

Segundo ele, na época, o ato de terrorismo foi planejado por ele junto com outros manifestantes que estavam acampados no quartel-general do Exército na capital. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Segundo ele, na época, o ato de terrorismo foi planejado por ele junto com outros manifestantes que estavam acampados no quartel-general do Exército na capital. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Luiza Mello

Condenado a nove anos e quatro meses de prisão por planejar e tentar explodir um caminhão-tanque de com 63 mil litros de querosene para aviação no Aeroporto Internacional de Brasília, no dia 24 de dezembro do ano passado, o paraense George Washington de Oliveira Sousa participou ontem, 22, de oitiva da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura os ataques golpistas do dia 8 de janeiro.

Logo no início de seu depoimento, ele reivindicou o direito de ficar calado. A defesa do presidiário entrou com pedido de habeas corpus, concedido pelo ministro Luiz Fux, do STF. Ainda assim, ele respondeu de forma evasiva alguns questionamentos, e acabou se contradizendo sobre o fato de ter ou não colocado a bomba no eixo do caminhão tanque.

Antes do depoimento de Washington, peritos da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) declararam que a bomba foi acionada, mas não explodiu por erro de montagem. O DIÁRIO teve acesso ao depoimento prestado pelo paraense no dia seguinte à tentativa de atentado, em 25 de dezembro de 2022. Segundo ele, na época, o ato de terrorismo foi planejado por ele junto com outros manifestantes que estavam acampados no quartel-general do Exército na capital.

Na época, George Washington revelou que os atos estavam planejados com o objetivo de “dar início ao caos” o que levaria à “decretação do estádio de sítio no país” que poderia “provocar a intervenção das Forças Armadas” para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que acontece na próxima segunda, 1º de janeiro.

Ontem, durante a oitiva da CPMI, o empresário paraense foi, por diversas vezes, criticado e até chamado de “covarde”. “Sabemos que essa conduta odiosa, que o senhor cometeu, essa conduta vil, covarde, vergonhosa para o nosso país, essa conduta o senhor realizou porque é própria da natureza de pessoas como o senhor agir dessa maneira canhestra, escondida, falsa, como justamente os vermes se escondem no esgoto”, esbravejou o presidente da Comissão parlamentar Mista de inquérito, deputado Arthur Maia ((União Brasil-BA).

“O senhor é um criminoso”, continuou o presidente, que disse ainda que os fatos aos quais George Washington está ligado “envergonham a história” do Brasil. “O senhor envergonha esse país, o senhor envergonha o Brasil, o senhor envergonha a sociedade brasileira, a sua família. O senhor envergonha a todos”.

Antes da oitiva de Washington, quem prestou depoimento como testemunha dos fatos foi o diretor de Combate à Corrupção e Crime Organizado da Polícia Civil do Distrito Federal, delegado Leonardo de Castro. Ele afirmou que os condenados por participar do malsucedido atentado a bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, também estavam envolvidos na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, também na capital federal, em 12 de dezembro.

O diretor e os peritos da Polícia Civil Valdir Pires Dantas Filho e Renato Martins Carrijo, responsáveis pela elaboração do laudo sobre o atentado na véspera do Natal, confirmaram a motivação política do atentado, a partir dos depoimentos dos envolvidos. “Ele [George Washington] veio para Brasília em novembro – se eu não me engano, no dia 12 de novembro – para participar da manifestação contra o resultado das eleições”, afirmou Leonardo de Castro.

A Polícia Civil do Distrito Federal revelou que o terrorista paraense dirigiu desde Santarém, na região do Baixo Amazonas, até Brasília, tendo em sua posse um arsenal de armas e munições que incluem: duas espingardas, um fuzil, dois revólveres, três pistolas, centenas de munições e uniformes camuflados, além de cinco emulsões explosivas. Todo esse material foi apreendido pela Polícia Civil em um apartamento alugado na capital pelo empresário bolsonarista. No depoimento à Polícia Civil, o paraense revelou que os explosivos teriam vindo de pedreiras e garimpos no Pará.

Os peritos mostraram fotos do arsenal e dos artefatos que foram colocados no eixo traseiro do caminhão tanque, que estava estacionado próximo à entrada do Aeroporto Internacional de Brasília. Segundo eles, no dia, cerca de 37 mil pessoas circularam pelo terminal e arredores.

Visivelmente abatido, George Washington, que é de Xinguara, disse que há oito meses não vê a esposa e nem os filhos. Quando foi preso, em 24 de dezembro, o empresário declarou que as “palavras do presidente Jair Bolsonaro o encorajaram a adquirir o arsenal de armas”. Ele afirmou na época que gastou do próprio bolso, cerca de R$ 160 mil. “O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil” destacou, lembrando as palavras do ex-chefe do Executivo: “Um povo armado jamais será escravizado”.