DECISÃO

Padre Júlio Lancellotti cancela visita a Blumenau após ameaças

Religioso gravou vídeo agradecendo organizadores e citando clima de pressão: “Quem sabe poderemos remarcar”

Religioso gravou vídeo agradecendo organizadores e citando clima de pressão: “Quem sabe poderemos remarcar”
Religioso gravou vídeo agradecendo organizadores e citando clima de pressão: “Quem sabe poderemos remarcar”

A visita do padre Júlio Lancellotti à cidade de Blumenau, em Santa Catarina, que estava marcada para os dias 1º e 2 de outubro, foi oficialmente cancelada. O sacerdote participaria de uma missa ao lado do padre João Bachmann, responsável pela Cozinha Comunitária Bom Pastor, e também daria uma palestra no auditório T da Universidade Regional de Blumenau (Furb).

O cancelamento foi anunciado pelo próprio padre Júlio, em vídeo publicado nas redes sociais nesta quinta-feira (11). Ele agradeceu aos organizadores e justificou a decisão:

“Não poderia estar aí agora com vocês devido a pressões, ameaças e nesse momento e nessa conjuntura que vivemos. Mas logo, quem sabe, poderemos remarcar”, disse o religioso, que sinalizou a possibilidade de uma nova data no futuro.

Júlio Lancellotti, de 76 anos, é conhecido nacionalmente por sua atuação junto à população em situação de rua e por sua luta pelos direitos humanos. Desde a década de 1980, atua em São Paulo com foco em grupos vulneráveis. Fundou a Comunidade Povo da Rua São Martinho de Lima e as Casas Vida I e II, voltadas ao acolhimento de crianças com HIV.

Sua trajetória é marcada por enfrentamentos à aporofobia — o preconceito contra pessoas pobres — e por sua defesa de minorias, como a população LGBTQIA+, especialmente pessoas trans. Também teve papel fundamental na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Reconhecido dentro e fora da Igreja, recebeu diversos prêmios, como o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e o título de Doutor Honoris Causa pela PUC. Em 2023, uma lei sancionada pelo governo federal que proíbe a chamada “arquitetura hostil” em espaços públicos foi batizada com seu nome. Ele também recebeu apoio público do Papa Francisco, que o encorajou pessoalmente por telefone a continuar sua missão.