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Oposição quer derrubar aumento de IR para mais ricos

Bolsonaristas não querem que contribuintes com maior renda paguem mais imposto para compensar isenção para os mais pobres

a proposta já foi aprovada em comissão especial e está pronta para ser votada no plenário da Câmara, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Foto: Divulgação
a proposta já foi aprovada em comissão especial e está pronta para ser votada no plenário da Câmara, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Foto: Divulgação

A oposição e parte do centrão se movimentam no Congresso para alterar o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, tendo como principal alvo a proposta de compensar a perda de arrecadação com a ampliação da cobrança sobre o estrato mais rico da população.

Apontado como uma das principais bandeiras de Lula (PT) na tentativa de se reeleger em 2026, a proposta já foi aprovada em comissão especial e está pronta para ser votada no plenário da Câmara, o que deve ocorrer nas próximas semanas.

O texto atual, relatado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), eleva a faixa de isenção do IR de R$ 3.036 para R$ 5.000, com desconto parcial para rendas de até R$ 7.350. A compensação se dará pela criação do imposto mínimo para quem ganha a partir de R$ 50 mil mensais (cerca de R$ 600 mil anuais), com alíquota de 10% para quem ganha a partir de R$ 1,2 milhão ao ano.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou nesta quarta-feira (27) que o partido irá apresentar emenda para derrubar toda a proposta de compensação feita pelo governo e que o movimento tem apoio do centrão.

“Nós somos a favor da isenção até R$ 10 mil e vamos apresentar destaque [emenda] para o PT botar digital lá de que é contra. E vamos apresentar emenda para não ter compensação. O Partido Liberal é a favor de redução de imposto e não de aumento”, disse o parlamentar.
Questionado se o projeto como um todo não seria inviabilizado caso a compensação caia, Sóstenes disse que esse é um problema do governo e “ele que se vire”.


O líder do partido de Jair Bolsonaro afirmou ainda não temer ser alvo da campanha que o PT e o governo patrocinaram nas redes sociais –e que prometem repetir agora na votação– de que os contrários ao projeto querem defender ricos e privilégios em detrimento do alívio no bolso dos mais pobres e da classe média.


“Eu tenho certeza que o Centrão virá conosco e não vai ter compensação. Não estamos preocupados com isso [campanha ricos x pobres]. ‘Ah, estão defendendo os ricos’. Nós defendemos que o brasileiro paga imposto demais. Pobre, rico, classe média, milionário. Tem que reduzir impostos.”


Os presidentes do União Brasil, Antônio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira, são outros que defendem ou a derrubada ou alterações que minimizem o impacto para a parte mais rica da população.


Rueda tem se manifestado contra a criação do imposto sobre rendas mais altas, mas integrantes do partido dele dizem que é preciso conversar antes porque não dá para derrubar a medida sem colocar outra forma de compensação, como defende o PL.


O PP chegou a propor aumentar de R$ 50 mil para R$ 150 mil a faixa de cobrança dos mais ricos, mas abandonou a proposta. O partido, no entanto, defenderá mudanças no plenário.
A sigla vai pedir que seja votada uma emenda do deputado Cláudio Cajado (PP-BA) para aumentar a CSLL (Contribuição Sobre o Lucro Líquido) dos bancos com faturamento superior a R$ 1 bilhão por ano, de 21% para 25%, como forma de elevar a faixa de renda que terá desoneração. Além disso, irá propor a elevação do teto de isenção parcial de R$ 7.350 para R$ 7.590. “Aí alcançaremos cinco salários mínimos”, diz Cajado.


Apesar das movimentações, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), manifestou nesta quarta defesa de aprovação do texto em plenário, sem modificações de relevo.


“A aprovação por unanimidade [na comissão] demonstra que o trabalho foi bem feito. Claro que teremos emendas e destaques que queiram mudar algo, mas, pela construção feita, entendo que o texto da comissão possa vir a ser mantido. Temos que aguardar, a política é dinâmica, é uma Casa plural, vamos enfrentar os destaques e as iniciativas para aumentar a bondade do pacote, mas a Câmara vai ter responsabilidade”, disse durante evento do grupo Globo.


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também se disse otimista com a votação após encontro com Motta nesta quarta. “O apoio à taxação dos super-ricos é maior que a isenção porque a sensação é que há muita injustiça no Brasil e os super-ricos precisam contribuir com uma justa parte.”


Integrante do governo que participa das negociações diz acreditar que o projeto será aprovado sem grande alterações já que a votação servirá de teste de autoridade de Motta, que teve a imagem abalada no episódio do motim bolsonarista na Câmara, além de a taxação dos super-ricos ser popular, segundo essa avaliação.


O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), por exemplo, afirmou que a ideia é reativar nas redes o discurso de que os deputados que encampam a medida protegem os ricos.


O deputado afirmou ainda que será estabelecido um calendário de votação a partir de uma reunião entre Motta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). A ideia é dar liberdade para que tanto o Senado quanto a Câmara alterem o texto, mas com a aprovação final até 30 de setembro.


Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, nesta quarta, o ministro Rui Costa (Casa Civil) disse que será difícil para a oposição se colocar contra a medida.


“Oposição é para dificultar a vida de governo, é assim em qualquer lugar do mundo. Às vezes, em alguns lugares, ganha irracionalidade. (…) O que eles podem fazer é isso, é votar o projeto e eventualmente tentar que não tenha compensação, o que criaria dificuldade de manter escolas, hospitais, porque em qualquer governo do mundo precisa de recursos para manter os serviços públicos funcionando.”

RANIER BRAGON, RAPHAEL DI CUNTO, CAROLINA LINHARES, MARIANA BRASIL E ADRIANA FERNANDES