
Um confronto inesperado entre dois magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) movimentou os corredores da Corte nesta quarta, 16. Durante um intervalo de sessão plenária, os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux se envolveram em uma violenta troca de provocações — algo raríssimo em caráter público, ainda que o atrito tenha ocorrido nos bastidores.
De acordo com a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o motivo do desentendimento foi a decisão de Fux de suspender o julgamento de um recurso do ex-juiz e senador Sérgio Moro. O processo visava reverter decisão que tornou Moro réu por calúnia contra Gilmar Mendes.
Já havia um placar desfavorável a Moro — 4 a 0 — quando Fux solicitou vista, interrompendo temporariamente o julgamento. Essa manobra desagradou profundamente Gilmar, que encarou o colega e disparou: “Vê se consegue fazer um tratamento de terapia para se livrar da Lava Jato.”
Em seguida, Gilmar foi mais ácido e teria aconselhado Fux a “enterrar o assunto do Salvador”, referindo-se a José Nicolao Salvador, ex-funcionário do gabinete de Fux demitido em 2016 e que apareceu em delação premiada.
O contra-ataque de Fux
Não se intimidando, Fux rebateu que solicitou vista justamente para estudar melhor o processo. Argumentou ainda que vinha sofrendo críticas veladas do colega em diferentes contextos.
O clima esquentou ainda mais quando Gilmar qualificou Fux como “figura lamentável” e criticou o voto que o ministro proferiu no julgamento da trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro — especialmente por condenar o tenente-coronel Mauro Cid, auxiliar do ex-presidente.
Fux, por sua vez, defendeu que seu voto era necessário diante do que via como “massacre judicial” contra os acusados do episódio do golpe.
Silêncio e tensão
Enquanto as farpas voavam, outros ministros chegaram a se aproximar da cena, mas se afastaram ao captar o tom tenso da situação. Até a publicação desta matéria, nem Gilmar nem Fux emitiram nota oficial sobre o episódio.
Ofensas entre integrantes da Suprema Corte são incomuns — especialmente escancaradas. Já houve casos célebres no passado: em 2018, por exemplo, durante uma sessão Luís Roberto Barroso chamou Gilmar de “pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia”.
O que está em jogo
Esse embate — ainda que “interno” — revela fissuras profundas dentro do STF. Quando os ministros se confrontam pessoalmente, não é apenas um desentendimento privado: é um sinal de que convicções institucionais, posições judiciais e trajetória política acabam se encontrando — e colidindo.
Enquanto isso, o futuro desse recurso de Moro permanece incerto — e a discussão interrompida. Resta saber se o episódio será apenas mais um efêmero bate-boca de bastidores ou se provocará reverberações duradouras na Corte.
Editado por Fábio Nóvoa