O Brasil pode ajudar a recolocar clima no topo da agenda global, segundo o embaixador André Corrêa do Lago, escolhido presidente da 30ª edição da Conferência das Partes, marcada para ocorrer em novembro na capital paraense. A fala foi registrada nesta segunda-feira, 31, em São Paulo a uma plateia de investidores e empresários do setor de florestas e soluções baseadas na natureza.
No entendimento do presidente da COP30, em meio ao cenário global com guerra na Ucrânia e crise diplomática que eclodiu nos Estados Unidos, um dos objetivos do evento deve ser o de recolocar o combate à mudança climática no topo da agenda internacional. A programação foi realizada pelo Nature Investment Lab, um projeto que promove investimentos em soluções baseadas na natureza.
Ele reforçou seu discurso de apoio ao multilateralismo como caminho para resolver impasses, mas reconheceu que a conjuntura atual não favorece esse modelo de diálogo.
“Antes, na hierarquia, o clima estava como uma coisa superior, flutuando acima acima das outras, mas essa dupla crise, tanto da eleição do novo presidente americano quanto da percepção de vários países sobre a necessidade de aumentar os armamentos, deslocou o clima. É como se ele fosse uma questão secundária, e nós sabemos que não é”, defendeu o diplomata.
De imediato
Corrêa do Lago alerta para o fato de que a questão climática passou a ser tratada muito mais do ponto de vista da “segurança energética” (garantir fornecimento de energia independentemente de suas emissões de CO2) do que da “transição energética” (a adoção de tecnologias limpas para cessar as emissões).
“Quando as pessoas me perguntam que resultado eu gostaria que a COP tivesse, eu digo que já fiz uma lista de 120 resultados, mas um deles que está ganhando, quando a gente fala do fortalecimento do multilateralistmo, seria também é a devolução da prioridade desse tema na agenda internacional”, pontua.
Muito a ser feito
O presidente da Conferência reconhece que o desafio não é pequeno. O cenário de negociação do Acordo de Paris para o clima, que desacelerou após a guerra na Ucrânia afetar o mercado de energia na Europa, praticamente se paralisou com o anúncio do presidente americano, Donald Trump, de que vai sair do tratado.
Para impulsionar a agenda climática diante desse impasse, Corrêa do Lago aposta em parte em conversas diplomáticas fora do âmbito da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), que chancela o Acordo de Paris.
Brasil à frente
Um dos elementos que o governo brasileiro pretende usar para pensar a COP30 fora da caixa é a proposta de criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Esse mecanismo, que já está em fase avançada de negociação, poderia colocar mais de US$ 125 milhões na mesa global para financiar a retenção do carbono das árvores no solo.
A ideia, diz o embaixador, é que mesmo fora do âmbito da ONU, o tipo de mecanismo do fundo ajude a destravar a questão do financiamento climático dos países em desenvolvimento, um tema que avançou menos do que o necessário dentro do Acordo de Paris.
Durante sua apresentação no seminário, Corrêa do Lago reconheceu que proteção das florestas é uma parte minoritária das negociações climáticas, que precisam avançar na agenda de eliminação da energia fóssil.
“O Brasil pode tem força para colocar o tema de florestas como um tema importante no combate às mudanças do clima, mas sempre levando em consideração que não é isso que vai resolver mudanças do clima. Os fósseis são o grande problema, porque em torno de 70% das emissões estão relacionadas aos fósseis”, declarou.