“As cidades precisam ser protagonistas na resposta global à crise climática, à desigualdade social e aos desafios do desenvolvimento sustentável”, defendeu ontem, 23, o ministro das Cidades, Jader Filho, ao abrir os debates entre as nações durante o Fórum de Urbanização do Brics, realizado em Brasília. O grupo é formado por onze países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã e serve como foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas.
No encontro para debater sobre urbanização sustentável, habitação e financiamento climático, estiveram presentes, além do Brasil, representantes da Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia e Indonésia (que passou a integrar o grupo em janeiro de 2025), além dos países parceiros Cuba, Bolívia e Nigéria, que atualmente têm o status de nações convidadas para cooperação ampliada com o agrupamento.
Na presidência do encontro, Jader Filho reforçou a necessidade de avançar em um modelo de governança multinível para o desenvolvimento de cidades mais inclusivas, resilientes e sustentáveis, com foco na redução das desigualdades sociais e dos riscos de desastres. “Não há justiça climática sem justiça urbana e social”, disse o ministro.
“Precisamos priorizar o financiamento climático para cidades e comunidades mais vulneráveis. O investimento público deve ser sustentável em todas as etapas e a infraestrutura local precisa tornar as cidades mais resilientes”, destacou ao reforçar a urgência de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, pela expansão urbana desordenada e pelo aumento das desigualdades sociais nas cidades.
“Aqui tratamos de uma afirmação política: as cidades precisam ser protagonistas na resposta global à crise climática, à desigualdade social e aos desafios do desenvolvimento sustentável. Permitam-me ser direto: não há justiça climática sem justiça urbana e social”, assegurou o ministro.
Ao citar os impactos diretos da crise climática nas cidades brasileiras, especialmente na Amazônia, Jader Filho lembrou que as inundações, as ondas de calor, o déficit de moradia, o saneamento insuficiente e os riscos de desastres, recaem sobre os territórios urbanos onde vivem as populações mais vulneráveis.
“Por isso, defendemos e estamos construindo no Brasil – e queremos compartilhar com o Brics – uma estratégia de desenvolvimento urbano que coloca as cidades no centro da ação climática. A presidência brasileira do Brics tem buscado dar centralidade à agenda urbana como peça estratégica fundamental para o enfrentamento da crise climática e da desigualdade”, acrescentou.
Ao longo do dia, os ministros e representantes dos países-membros e parceiros do Brics participaram de três sessões temáticas que abordaram os principais desafios urbanos enfrentados pelas nações do grupo: habitação e agenda urbana: prioridades estratégicas diante da crise climática global; indicadores de avaliação da sustentabilidade dos investimentos públicos; e o financiamento da resiliência climática urbana (infraestruturas e serviços urbanos).
Sobre o tema habitação, os participantes debateram formas alternativas de provisão habitacional, mecanismos para mobilização de recursos públicos, promoção de parcerias público-privadas e a modelagem de programas de financiamento para melhorias habitacionais. Na sessão temática que tratou da sustentabilidade dos investimentos públicos nas cidades, os participantes defenderam o alinhamento dos projetos à Agenda 2030, ao Acordo de Paris, ao Marco de Sendai e à Nova Agenda Urbana. A discussão buscou identificar os principais desafios e oportunidades para fortalecer a mobilização de recursos destinados ao desenvolvimento urbano sustentável e à resiliência climática.
O terceiro painel expôs soluções para ampliar a infraestrutura e os serviços urbanos resilientes ao clima nos países do Brics, com atenção especial às comunidades vulneráveis. Foram abordados modelos inovadores de financiamento e governança, com foco na combinação de recursos públicos e privados para ampliar a inclusão e a sustentabilidade nas cidades.
Os temas vão compor a agenda climática urbana da COP30, a ser realizada em novembro deste ano em Belém. Ao final do evento, os países apresentaram um documento conjunto que sintetiza os encaminhamentos do Brics no campo do desenvolvimento urbano sustentável e da justiça climática, que será levado à Cúpula do Brics, que ocorre nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro com a possibilidade de participação do presidente da Rússia, Vladimir Putin.