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Mulher cega sobrevive a atropelamento em trilho de metrô

Mulher cega sobrevive a atropelamento em trilho de metrô

Uma passageira cega caiu sobre os trilhos da estação Trianon-Masp, da linha 2-verde do metrô de São Paulo, logo após desembarcar, por volta de 8h30 desta quinta-feira (1º), e precisou ser levada com ferimentos leves para o Hospital das Clínicas. O trem que vinha a seguir passou em cima dela.

A companhia estadual afirma que lamenta o ocorrido, prestou auxílio à passageira e apura as causas do acidente.

Magda de Souza Paiva, 45, que tem deficiência visual total, contou que foi com o marido, Marcos Souza Paiva, 44, até a estação Sé, onde ele a deixou com um funcionário do Metrô, como faz todos os dias, e ambos seguiram para o trabalho -ele trabalha na região central e ela, na avenida Paulista. O casal mora na Mooca, na zona leste.

A mulher, em seguida, foi até a estação Paraíso, onde foi auxiliada por um novo funcionário até o embarque em um outro trem para a Trianon-Masp, próxima ao seu trabalho como assessora parlamentar da senadora Mara Gabrilli (PSDB), candidata a vice-presidente na chapa de Simone Tebet (MDB).

“Eu ouvi o moço avisando na central de controle do Paraíso para a estação Trianon, mas não havia ninguém esperando”, afirmou a passageira, na manhã desta sexta-feira (2) à reportagem.

O Metrô confirmou que há um protocolo que determina o atendimento a pessoas com deficiência visual que não tenham total autonomia de deslocamento para o embarque e desembarque com segurança.

“Isso é até comum, porque o quadro de funcionários do metrô está reduzido e provavelmente ontem [quinta] estavam ocupados com alguma outra coisa, talvez atendendo outra pessoa cega”, afirmou Magda, que disse que ao sair do trem tentou encontrar a escada rolante sozinha, já que passa por ali todos os dias e sabe o caminho. “Mas eu me perdi e caí na via.”

A passageira contou que não se deu conta de onde havia caído e ficou com vergonha. Quando foi tentar sair, disse, outros passageiros começaram a gritar para ela se abaixar. “Eu deitei e pensei ‘o metrô está vindo e vou morrer'”, afirmou. “O trem realmente passou e freou quando já estava em cima de mim. Fiquei embaixo do trem.”

Após a composição frear, lembrou, começaram novos gritos para ela não se levantar até que a energia elétrica fosse desligada. “Fiquei deitada quietinha, chorando.”

De acordo com a passageira, o resgate levou entre 20 e 30 minutos. O Metrô disse que funcionários da própria estação socorreram a mulher, sem ferimentos graves, e a encaminharam até o Hospital das Clínicas.

Da ambulância, ela ligou para o marido e avisou o que havia acontecido. “Só acreditei porque foi ela quem me falou, quando ouvi a voz dela”, disse Marcos Paiva.

“Nasci de novo. Está todo mundo dizendo que o dia 1º de setembro virou meu novo dia de aniversário”, comentou passageira, aliviada. “Mas nunca mais ando sem ajuda lá.”

Em nota, o Metrô afirma que lamenta o ocorrido e que presta auxílio à passageira que caiu na via. “A causa do acidente está em apuração.” Segundo a companhia, o funcionário que falhou no atendimento foi punido.

Magda pretende registrar boletim de ocorrência. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o caso já foi registrado pela Delpon (Delegacia do Metropolitano), que requisitou as imagens do sistema de monitoramento da estação.

Para a passageira, é importante que o Metrô contrate mais funcionários e instale portas antes do vão em todas as estações, como já ocorre nas da linha 4-amarela, por exemplo, para evitar acidentes como o dela. “Não há mais nem aquele programa de funcionário aprendiz que ajudava os cegos”, diz.

Em nota sobre o caso, o Sindicato dos Metroviários disse que a falta de funcionários se arrasta há anos.

Rodrigo Kobori, diretor jurídico, afirmou que há cerca de dez anos havia cerca de 10 mil funcionários no Metrô paulistano. Hoje, segundo ele, são cerca de 7.000.

“Algumas estações menores, como a Trianon, tem dois ou três funcionários e nem todas têm seguranças para ajudar”, disse. “Há mais de 700 metroviários inscritos em programas de demissão que devem sair”, afirmou.

O Metrô diz que que atende 2.000 pessoas com deficiência todos os dias, conta com estações acessíveis, que já foi premiado por seu relacionamento com esse público e não admite qualquer desvio do protocolo de auxílio.

“A operação do Metrô conta com 3.400 funcionários. Esse quadro é projetado para atender a demanda diária de passageiros que era de 3,7 milhões de passageiros antes da pandemia e agora é 32% menor”, afirmou a companhia, em nota.

Sobre portas de plataforma, a empresa diz que está colocando o equipamento nas estações das linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha.

A meta é ainda este ano colocar as portas em sete estações da Linha 3-Vermelha. As primeiras a receberem serão Bresser-Mooca e Belém, que já têm suas plataformas sendo adequadas para a instalação dos equipamentos.

Também serão instaladas nas estações Corinthians-Itaquera e Palmeiras-Barra Funda, onde os equipamentos importados já chegaram ao Brasil para serem instalados. Depois será a vez das estações Pedro 2º, Carrão-Assaí Atacadista e Guilhermina-Esperança.

“O Metrô tem contrato para a colocação das portas nas demais estações das linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha. A instalação será feita gradativamente nos próximos anos até 2024”, afirmou.

“Nessa gestão, o Metrô instalou portas de plataforma em todas as 17 estações da linha 5-lilás [privatizada]”, disse trecho da nota.

“”Esse tipo de porta também está presente nas novas estações construídas Sacomã, Tamanduateí, Vila Prudente [linha 2-verde] e todas das linhas 4-amarela [privatizada] e 15-prata -, e nas estações Vila Madalena [linha 2-verde] e Vila Matilde [linha 3-vermelha], além de Tucuruvi e Jabaquara [Linha 1-azul] que ganharam as portas neste ano.”