EXPLOSÕES EM BRASÍLIA

Moraes diz que atentado não é fato isolado e descarta anistia

Entenda as causas por trás do atentado e a ligação com o chamado 'gabinete do ódio' na gestão de Bolsonaro.

Alexandre de Moraes, ministro do STF
Alexandre de Moraes, ministro do STF

Em sua primeira manifestação pública após as explosões na praça dos Três Poderes, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes afirmou na manhã desta quinta-feira (14) que o ocorrido não é um ato isolado e começou com o chamado “gabinete do ódio” na gestão Jair Bolsonaro (PL).

Ele afirmou ainda não acreditar em pacificação no país sem que haja punição a criminosos, se colocando abertamente contra a mobilização de bolsonaristas pela anistia a golpistas que participaram do 8 de janeiro de 2023.

“Nós não podemos ignorar o que ocorreu ontem. O que aconteceu ontem não é um fato isolado do contexto. (…) mas o contexto se iniciou lá atrás, quando o ‘gabinete do ódio’ começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o STF, principalmente contra a autonomia do Judiciário”, disse Moares.


“Isso foi se avolumando sob o falso manto de criminosas utilizações da liberdade de expressão. Ofender, ameaçar, coagir, em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso é crime. E isso foi se avolumando e resultou no 8 de janeiro.”

O “gabinete do ódio” citado por Moraes é o nome dado ao núcleo de auxiliares próximos de Bolsonaro que, segundo as investigações da Polícia Federal, teria o objetivo de espalhar notícias falsas e ataques a adversários durante a gestão do ex-presidente.

As declarações foram dadas durante evento no Conselho Nacional do Ministério Público. Moraes chegou por volta de 9h20 à sede do Ministério Público do Distrito Federal, onde ocorreu o evento. A segurança do local foi reforçada pela Polícia Militar e por seguranças do Supremo.

O evento seria inicialmente restrito aos integrantes do Ministério Público. A pedido de Moraes, as falas iniciais foram abertas à imprensa. O ministro dedicou os dez minutos iniciais de seu discurso para comentar o atentado à bomba na quarta.

Na saída, Moraes não respondeu aos questionamentos da imprensa. Ele tirou fotos com o público, composto em maioria por membros do MP, e deixou o prédio pela portaria principal.

A investigação do caso está no Supremo Tribunal Federal. Internamente, ministros avaliam que a relatoria caberá a Moraes, já que ele comanda os episódios relativos aos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, admitiu a possibilidade de Moraes assumir a investigação sobre as explosões, caso haja conexão com ataques do 8 de janeiro de 2023.

“Vou receber o inquérito. Se houver conexão com algum inquérito em curso, será distribuído por prevenção”, afirmou Barroso, ao ser questionado sobre a possibilidade de o inquérito ser anexado.

Em sua manifestação na manhã desta quinta, Moraes se colocou contra a anistia ao 8 de janeiro, que é objeto de um projeto em tramitação na Câmara dos Deputados.
“Só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos. (…) A impunidade vai gerar mais agressividade, como gerou ontem, porque as pessoas acham que podem vir a Brasília, entrar no STF para explodir o STF”, disse Moraes.
Sem citar o nome de Bolsonaro, ele voltou a apontar para a gestão do ex-presidente. “Foram instigada por pessoas, algumas com altos cargos na República. Foram instigadas a atacar. Foram instigadas a tal ponto que usem bombas para isso.”

Moraes acrescentou a defesa de união entre Judiciário, Ministério Público e Congresso Nacional. “É necessário não só que nos unamos na defesa constante pela democracia, na responsabilização total de todos aqueles que atentaram contra a democracia, porque a impunidade gera eventos como ontem. Impunidade vai gerar mais agressividade.”

O ministro do STF afirmou ainda, em sua fala nesta quinta, que outras duas bombas estouraram quando a Polícia Federal entrou na casa de Francisco Wanderley Luiz. “Por sorte e competência da Polícia Federal, eles usaram aquele robozinho antibomba para abrir as portas, senão poderia ter ocorrido algo mais fatal.”

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, falou brevemente antes de Moraes, dizendo se solidarizar com o STF “pelos desatinos que ocorreram ontem”.

O homem que se explodiu na praça dos Três Poderes, em Brasília, e que detonou o próprio carro a cerca de 300 metros da Esplanada dos Ministérios já foi candidato a vereador pelo PL em Santa Catarina e esteve no STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto.

Quem era o homem-bomba

Francisco Wanderley Luiz, 59, é chaveiro e disputou a eleição de 2020 com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), mas não foi eleito. Antes de morrer, publicou uma série de mensagens sobre o ataque, misturando declarações de cunho político e religioso.

O corpo de Francisco seguiu na praça dos Três Poderes no começo da manhã e foi removido pouco após as 9h. O Bope dizia esperar garantir a desativação de todos os artefatos suspeitos próximos ao corpo dele para retirá-lo do local.

De madrugada, um imóvel em Ceilândia, região administrativa de Brasília, foi alvo de buscas e de varredura por ser ligado a Francisco. O boletim de ocorrência sobre a explosão no STF indica o local como “possível endereço” dele.

Como alguns artefatos suspeitos foram encontrados, o GBE (Grupo Especializado em Bombas e Explosivos) da Polícia Federal foi acionado, com agentes e equipamentos utilizados em casos de ameaças de bomba.

Às 3h, duas pequenas explosões foram ouvidas, seguidas de fumaça vindo do imóvel. Normalmente, essas explosões controladas são utilizadas para inviabilizar o possível artefato explosivo.

Um segurança do STF, Natanael Carmelo, foi testemunha do momento da explosão, segundo boletim de ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal.
Em depoimento, o segurança disse que “o indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua”.

CÉZAR FEITOZA E RANIER BRAGON/BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)