Diego Monteiro
Nos principais bairros de Belém, durante os preparativos para a Páscoa, ganha vida uma tradição diferente e antiga: a malhação de Judas. Esta expressão cultural tem início na Sexta-feira Santa e persiste até o Sábado de Aleluia. Trata-se de um ato simbólico no qual bonecos representando Judas, o discípulo que traiu Jesus, são malhados por milhares de pessoas… adultos, jovens e crianças.
Porém, antes do dia do evento, uma força-tarefa é montada e diversas associações entram em ação para planejar a programação e, sobretudo, para confeccionar os bonecos que serão expostos nas ruas. Um exemplo disso é a Associação dos Malhadores de Judas da Rua Conceição com a 14 de Março (AMJUC14M), do bairro da Cremação, que há 54 anos mantém viva essa tradição.
E para garantir que tudo fique pronto, entram em cena as mãos habilidosas de Alberto Jesus Cantanhede, 75, presidente da AMJUC14M, que anualmente monta os “Judas” no quintal da própria casa. “Posso dizer que esse é o processo inicial da festa, quando reunimos os materiais e moldamos os bonecos, com papéis, tecidos e objetos recicláveis, além das roupas que penchichamos”.
Alberto ressalta que esse momento vai além de uma tradição religiosa, é um dia de convívio comunitário, onde as pessoas se reúnem para celebrar a fé, fortalecer laços de solidariedade e compartilhar alegria e diversão. Além disso, a prática também tem um aspecto simbólico, representando a vitória do bem sobre o mal e a renovação espiritual que a Páscoa representa para os fiéis.
Brincadeira
Embora a prática tenha raízes religiosas, com o passar do tempo, esse momento também incorporou elementos culturais e políticos. É comum, por exemplo, que em muitos bairros da cidade a figura de Judas seja vestida com trajes que representam figuras públicas controversas ou símbolos de problemas sociais, transformando a Malhação em uma forma de expressão, mas também de protesto.
Ana Maria Ribeiro, 69, secretária da AMJUC14M, destaca que a malhação de Judas também é uma forma de repensar nas escolhas dos representantes que estão atualmente na gestão para não cometer o mesmo erro no futuro. “Esse ano não será diferente. Se a gente for parar para analisar, muitos dos que confiamos nos votos não estão fazendo nada, e isso só reforça a indignação de todos”, explica.
“O nosso bairro [Cremação] vive isso, por isso a existência de tantas associações que promovem a malhação do Judas. Não é por acaso que os dois dias de evento já fazem parte da programação cultural da Prefeitura de Belém e, entre todos os grupos, conseguimos reunir mais de 20 mil pessoas na avenida Fernando Guilhon, advindos das diferentes regiões de Belém, afirma.
Neste ano, o primeiro dia da festividade será numa sexta-feira, 29 de abril, com apresentações artísticas de bandas locais, que interpretam sucessos da música paraense. No sábado, 30, diversas brincadeiras são oferecidas para as crianças, como corrida de saco e dança das cadeiras, acompanhadas pela distribuição de brindes. Também, é neste dia que acontece a tradicional malhação de Judas. Com a realização da festa, dona Ana garante que “as almas dos moradores ficam aliviadas”, pois é desta forma que “todas as frustrações são descontadas no Judas”, pontua.