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Lula tenta celebrar pacificação com militares no 7 de Setembro

Auxiliares palacianos dizem ainda que a ideia do desfile de 7 de setembro será mostrar o respeito do Alto Comando das Forças ao poder civil do governo.
FOTO: Ricardo Stuckert / PR
Auxiliares palacianos dizem ainda que a ideia do desfile de 7 de setembro será mostrar o respeito do Alto Comando das Forças ao poder civil do governo. FOTO: Ricardo Stuckert / PR

MARIANNA HOLANDA E RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) chega ao seu primeiro desfile do feriado da Independência de seu terceiro mandato com a missão de fazer da data um símbolo da pacificação com os militares e de normalização institucional.

Jair Bolsonaro (PL) capturou o 7 de Setembro nos últimos anos ao imprimir um caráter golpista e eleitoral às celebrações. Para os bolsonaristas, a data era simbólica não só pela Independência, mas também porque o dia 6 de setembro é aniversário da facada sofrida pelo ex-presidente em Juiz de Fora em 2018.

Dessa forma, neste ano o tradicional desfile na Esplanada, previsto para a manhã desta quinta-feira (7) em Brasília, deve ser carregado de significado.

Primeiro, pela esperada forte presença de integrantes do Alto Comando das Forças Armadas na solenidade presidida por Lula. A cena, de acordo com auxiliares do Planalto, deve simbolizar a pacificação da relação do petista com os militares após a crise com os fardados no início do mandato.

Segundo, pela ausência de manifestantes bolsonaristas, que dominaram o 7 de Setembro em Brasília nos últimos quatro anos.

Apoiadores do ex-presidente têm se organizado nas redes, mas na contramão de anos anteriores. Ora o recado é para ficarem em casa, ora para irem de preto às solenidades comemorativas.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) puxou uma mobilização por doações de sangue na véspera do feriado em suas redes sociais.

“[É para] A gente mostrar que as cores verde e amarela estão no nosso coração e a melhor forma que a gente tem de demonstrar nosso amor à pátria é fazendo isso [doação de sangue]. E aqueles que quiserem ficar em casa no 7 de setembro já vão ter sentimento de missão cumprida”, disse.

A iniciativa é uma forma de tentar manter unida a militância numa data importante para o bolsonarismo, mas ao mesmo tempo esvaziar o desfile organizado por Lula. O senador deve comparecer a um culto evangélico em Brasília ao lado do colega Magno Malta (PL-ES). Há a possibilidade de o próprio Bolsonaro marcar presença.

Flávio disse ainda que o governo atual “jogou a bandeira no lixo desde sempre”, enquanto o ex-presidente “resgatou essa bandeira enaltecendo o patriotismo na nossa população”.
Bolsonaro, por sua vez, disse nas redes sociais para que seus apoiadores curtam com a família o feriado, “onde quer que estejam” -o que foi interpretado como recado velado para não irem aos desfiles.

As cores verde e amarelo já cobrem há dias os postes da Esplanada e os cartazes de propaganda para o desfile que acontecerá a poucos metros das sedes dos três Poderes –depredadas por apoiadores de Bolsonaro no 8 de janeiro.

Além da atenção maior à segurança para evitar qualquer ameaça de ataques como os do começo do ano, o governo Lula busca agora trazer ares de normalidade ao feriado nacional.
Em relação aos militares, o desfile também será uma forma de enaltecer as Forças Armadas e o conceito de soberania.

No gramado da Esplanada, há uma exposição de equipamentos militares, como embarcações, carros de combate e aeronaves. Ela será inaugurada logo após o desfile e funcionará até 10 de setembro.

Como antecipou a Folha, o slogan escolhido pelo governo Lula 3 para o feriado é “democracia, soberania e união”. A ideia é recuperar os símbolos patrióticos e tentar desassociá-los do ex-presidente. Ainda durante a campanha eleitoral, o PT já vinha buscando descaracterizar a bandeira nacional como uma representação “bolsonarista”.

Na terça (5), Lula disse que os militares se apoderaram das festividades do Dia da Independência no Brasil ao longo da história, em particular após as duas décadas da ditadura militar no país (1964-1985).

“Todo o país do mundo tem na festa da Independência uma grande festa. O que aconteceu no Brasil é que, como nós tivemos por 23 anos um regime autoritário, a verdade é que os militares se apoderaram do 7 de Setembro. Deixou de ser uma coisa da sociedade como um todo”, afirmou o presidente.

“O que nós estamos querendo fazer agora, com a participação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é voltar a fazer um 7 de Setembro de todos. O 7 de Setembro é do militar, do professor, do médico, do dentista, do advogado, do vendedor de cachorro-quente, do pequeno e médio empreendedor individual”, completou.

A declaração do presidente foi dada durante a gravação do Conversa com o Presidente, a sua transmissão semanal na internet.

Auxiliares palacianos dizem ainda que a ideia do desfile de 7 de setembro será mostrar o respeito do Alto Comando das Forças ao poder civil do governo. A expectativa é de que oficiais quatro estrelas compareçam em peso à cerimônia com suas famílias.

De acordo com aliados de Lula, a imagem deve transmitir uma mensagem de legalismo das tropas, após sucessões de crises de confiança no governo Lula 3 com a caserna.

O desfile deste ano terá na Esplanada cerca de 2.000 militares e estudantes do Distrito Federal. A expectativa de público é de 30 mil pessoas. A Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), comandada pelo ministro Paulo Pimenta (PT), organizou todo o desfile e centralizou os conceitos.

O desfile foi dividido em quatro momentos temáticos: “Paz e Soberania”, com militares das Forças Armadas que participaram de missões de paz das Nações Unidas e integrantes da FEB (Força Expedicionária Brasileira); “Ciência e Tecnologia”, que terá alunos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e do IME (Instituto Militar de Engenharia); “Saúde e Vacinação”, com o personagem Zé Gotinha e integrantes dos serviços de saúde das três Forças; e “Defesa da Amazônia”, com soldados de origem indígena.