O presidente Lula (PT) disse em confraternização com ministros nesta sexta-feira (20) que ficou feliz com a prisão do general Braga Netto por ela representar uma ação contra a impunidade, segundo relatos.
Além disso, a detenção de um militar de alta patente seria uma demonstração de que não só os pobres são punidos no país, disse o chefe do Executivo.
Ainda de acordo com participantes, o presidente lembrou ter sido arquitetado um plano para assassinato do presidente, seu vice e de “Xandão”, em alusão a Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Lula pediu que todos os ministros estejam presentes em Brasília no dia 8 de janeiro, data da depredação das sedes dos Três Poderes. Ele disse que o ato de vandalismo praticado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não pode cair no esquecimento.
O presidente também informou que pretende convidar autoridades de outros países para movimentos em defesa da democracia não só no Brasil, como também no mundo.
Lula havia defendido dias antes que o general Braga Netto tenha direito à presunção de inocência. Durante entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no último domingo (15), ele afirmou, porém, que deve haver punição se os envolvidos forem considerados culpados.
“Eu vou demonstrar para vocês que eu tenho mais paciência e sou democrático. Eu acho que ele tem todo o direito à presunção de inocência. O que eu não tive, eu quero que eles tenham: todo o direito e todo o respeito para que a lei seja cumprida. Mas, se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente”, declarou.
A prisão de Braga Netto, que ocorreu no dia anterior, no sábado (14), criou um fato inédito na história do país. Nunca antes um militar do mais alto posto do Exército havia sido detido por decisão do Judiciário, em processo conduzido por civis.
Em seu breve discurso na reunião ministerial, o presidente falou sobre a gravidade das acusações contra o militar e defendeu que ele deve pagar por elas. Em entrevista ao Fantástico no último domingo (15), Lula falou do direito à presunção de inocência, mas disse que, se confirmado, devem ser “punidos severamente” os autores do suposto atentado.
A prisão de Braga Netto ocorreu no sábado anterior à entrevista de Lula, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O chefe da PGR (Procuradoria-Geral da República), Paulo Gonet, escreveu nos autos que a representação da Polícia Federal traz “provas suficientes de autoria e materialidade dos crimes graves cometidos pelos requeridos”. Ele sustenta que somente a prisão preventiva de Braga Netto seria suficiente para mitigar riscos à ordem pública e à aplicação da lei penal.
As suspeitas relacionadas à tentativa de interferir nas investigações vêm sendo acumuladas desde setembro de 2023, quando o tenente-coronel Mauro Cid teve homologado seu acordo de colaboração premiada no STF.
O presidente Lula reuniu nesta sexta-feira ministros e líderes do governo no Congresso no Palácio da Alvorada numa mistura de reunião com confraternização de fim de ano, em meio à pressão de deputados por mais espaço no governo. O encontro durou cerca de duas horas.
Há expectativa de que, no início do próximo ano, ocorra uma reforma ministerial. Apesar de não ter falado sobre isso na reunião, Lula reforçou a possibilidade de mudança na comunicação, ao convidar o marqueteiro Sidônio Palmeira para o encontro ele é cotado para substituir Paulo Pimenta na secretaria. O publicitário deverá se reunir com o presidente no fim de semana.
A presença de Sidônio no almoço foi recebida como uma espécie de aviso prévio para Pimenta, que deverá ser remanejado para outra função no governo. No momento em que falava da agenda internacional, incluindo a realização do G20, Lula dirigiu-se ao titular da Secretaria-geral da Presidência, Márcio Macedo, para afirmar que a versão social da conferência, a cargo do ministro, tinha deixado a desejar.
Essa crítica pública foi entendida como um recado de que Macêdo poderá ser substituído. Sua pasta é apontada como um possível destino de Pimenta.
CATIA SEABRA E MARIANNA HOLANDA/BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)