CÚPULA

Lula defende multilateralismo sem rompimento no Brics

Presidente Lula defende papel do Brics como instrumento de multilateralismo e busca fortalecer o Sul Global.

O presidente Lula (PT) defendeu, em discurso na cúpula dos Brics nesta quarta (23), que o bloco deve ser um instrumento do multilateralismo sem que isso signifique um rompimento com outros países.
O presidente Lula (PT) defendeu, em discurso na cúpula dos Brics nesta quarta (23), que o bloco deve ser um instrumento do multilateralismo sem que isso signifique um rompimento com outros países. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Lula (PT) defendeu, em discurso na cúpula dos Brics nesta quarta (23), que o bloco deve ser um instrumento do multilateralismo sem que isso signifique um rompimento com outros países.

O petista falou por meio de videoconferência, já que não compareceu à cidade russa de Kazan por recomendação médica, após bater a cabeça numa queda. O chanceler Mauro Vieira o representou.

“Muitos insistem em dividir o mundo entre amigos e inimigos. Mas os mais vulneráveis não estão interessados em dicotomias simplistas. O que eles querem é comida farta, trabalho digno e escolas e hospitais públicos de acesso universal e de qualidade”, afirmou.

A diplomacia brasileira tem tentado evitar que o Brics, expandido de 4 para 9 membros na reunião do ano passado na África do Sul, seja engolido como um instrumento de pressão política da China e de sua aliada Rússia.

Isso se refletiu até na escolha de termos. Lula, assim como outros presentes, falou em reforçar o chamado Sul Global, denominação algo esotérica que coloca no mesmo escaninho países com agendas diferentes do antigo mundo emergente.

Putin defende meios de ‘pagamentos alternativos’

Putin, por sua vez, insiste em dizer “Sul Global e Leste Global”, para reforçar geograficamente a noção de que Rússia e China estão representadas. Isso dito, ele retomou as usuais críticas aos países ricos foi semelhante ao falar do tema da desdolarização, um desejo frequente dos países do bloco, ainda que por motivos diferentes.

O anfitrião, Valdimir Putin, defende por exemplo a criação de mecanismos de trocas em moedas locais dos membros do Brics porque está cortado do sistema financeiro global desde que invadiu a Ucrânia, em 2022.

“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, disse.

“Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, completou, sem citar o fato de que o dólar responde por talvez 70% do comércio mundial e que o sistema internacional de trocas é de difícil manejo.

O petista repetiu críticas que já fez a Israel, lembrando a frase do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que afirmou na ONU que “Gaza se tornou um cemitério de crianças”. Não vai ganhar nenhum ponto para Lula no Estado judeu, mas o fato é que o Brasil e sua posição histórica pró-palestinos já reduziu a zero seu prestígio por lá.

“Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, afirmou.

Defendeu o diálogo na mesma linha que havia sido adotada pelo seu colega chinês, Xi Jinping. O Brasil e a China são signatários de uma proposta de cúpula de paz sobre
o tema.

Ele também falou em taxação de ricos, um de seus temas prediletos recentemente, e no “apartheid” na distribuição global de vacinas e medicamentos, à luz da pandemia de Covid-19.

IGOR GIELOW/KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS)