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Livro aponta principais motivos da derrota de Bolsonaro

Livro aponta principais motivos da derrota de Bolsonaro Livro aponta principais motivos da derrota de Bolsonaro Livro aponta principais motivos da derrota de Bolsonaro Livro aponta principais motivos da derrota de Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "perdeu para ele mesmo" a eleição presidencial de 2022 porque pecou por um excesso de bolsonarismo Foto: Alan Santos/PR
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "perdeu para ele mesmo" a eleição presidencial de 2022 porque pecou por um excesso de bolsonarismo Foto: Alan Santos/PR

 

PATRÍCIA CAMPOS MELLO

SÃO PAULO. SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “perdeu para ele mesmo” a eleição presidencial de 2022 porque pecou por um excesso de bolsonarismo e se limitou a cultivar seus mais fiéis eleitores. Mas Bolsonaro perdeu por muito pouco para o presidente Lula (PT) –menos de dois pontos percentuais dos votos válidos, a menor margem desde a redemocratização. E esse mesmo bolsonarismo que lhe custou votos se mantém uma potência para 2026.

Essas são algumas das conclusões do livro “Voto a Voto – Os Cinco Principais Motivos que Levaram Bolsonaro a Perder (por Pouco) a Eleição”, da jornalista Maria Carolina Trevisan e do economista Maurício Moura, professor da Universidade George Washington.

As razões são conhecidas, mas o livro mostra, com pesquisas quantitativas e qualitativas, como cada um desses aspectos impactou as chances de reeleição do ex-mandatário.

A gestão da pandemia, a crise econômica, o contexto internacional de desgaste da antipolítica, a resistência das mulheres e a presença de um candidato de oposição forte fadaram o ex-presidente à derrota.

Em especial, a péssima atuação na Covid –o negacionismo científico, a postura antivacinas e a falta de empatia com os doentes, além de falhas logísticas– teve muito peso.

“A pandemia foi muito importante para a piora na avaliação do governo, tanto que um dado quantitativo muito forte é que a avaliação da gestão do governo federal do Bolsonaro em resposta à pandemia sempre foi pior do que a avaliação geral do governo. A gestão da pandemia trouxe a avaliação para baixo”, diz Moura.

Outro erro grave, segundo os autores, foi deixar o auxílio emergencial ser descontinuado em 2021, sem perspectiva de quando, e se, seria retomado (acabou voltando). “O trauma causado pelo fim abrupto dessa política social causou uma memória ruim nos beneficiários que demoliu sua popularidade. Isso, junto com a inflação de alimentos e combustíveis constante no ano eleitoral de 2022, enterrou a sua possibilidade de vitória”, diz o livro.

O excesso de bolsonarismo do ex-mandatário também desempenhou um papel. “Se tivesse gastado mais tempo, discurso e energia em temas relevantes para o país como economia e menos com temas irrelevantes como voto impresso, cloroquina, urna eletrônica, institutos de pesquisa, jornalistas e o seu ‘desempenho sexual’, o desfecho poderia ter sido outro.”

Os autores apontam que, desde o início da campanha, as pesquisas já prenunciavam que Bolsonaro teria uma tarefa custosa. A partir de compilação de resultados eleitorais de dezenas de pleitos estaduais de 1998 a 2018 no Brasil, os autores afirmam que um nível de aprovação inferior a 40% coloca o governante em posição bastante vulnerável para vencer uma reeleição.

Bolsonaro, ao longo de seu mandato, tinha dois indicadores muito ruins –mais de 50% dos eleitores achavam que ele não merecia continuar na presidência e aproximadamente metade dos eleitores avaliavam o governo como ruim ou péssimo.

Trevisan e Moura ouvem cientistas políticos e examinam pesquisas para tentar vislumbrar o futuro do bolsonarismo e suas chances nas urnas daqui para a frente. O diagnóstico é auspicioso para os apoiadores do ex-presidente. Uma pesquisa exclusiva do Instituto Ideia, com 1.500 entrevistas, mostrou que em fevereiro de 2023 cerca de 41% dos eleitores “votariam com certeza” em Bolsonaro –na região Sul eram 50,3% e, no Centro-Oeste, 47,2%.

Segundo Moura, a resiliência do bolsonarismo hoje vem de três pilares: o antipetismo, os valores mais conservadores em relação a religião e segurança pública, e os diversos políticos que foram eleitos com a bandeira bolsonarista.

Segundo Trevisan, o bolsonarismo, mesmo com seu principal líder inelegível (até 2030), continua forte. “Está enraizado e tem um núcleo ativo. Segue se baseando nos mesmos mecanismos que o fizeram crescer: espalha fake news e sabe usar o ambiente digital, fomenta uma base radical fiel que se reconhece, cria um ambiente de caos e se vende como única solução, opera no militarismo e nas pautas morais, e elegeu representantes para o Parlamento brasileiro.”
Boa parte da fidelidade dos eleitores de Bolsonaro está ligada ao negacionismo eleitoral: 63% dos votantes bolsonaristas, ou 32,3% do total de eleitores, acreditam que Bolsonaro perdeu principalmente porque houve fraude.

A tese é mais forte entre aqueles com maior escolaridade (66,5%) e eleitores das regiões Sudeste (64,5%) e Norte (64,9%).
Segundo pesquisa de Moura, os potenciais herdeiros do bolsonarismo, hoje, são o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o governador de Minas, Romeu Zema, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

“Se a eleição fosse hoje teríamos um cenário muito semelhante ao que tivemos no segundo turno de 2022, um país dividido em que a vitória de um lado ou de outro seria na margem”, diz. “Temos acompanhado no Brasil e outros países como os eleitos saem do pleito com o país dividido e têm muita dificuldade de aumentar sua popularidade; hoje, no mundo, pouquíssimos chefes de estado têm mais de 60% de aprovação, a maioria fica entre 40% e 50%.”

VOTO A VOTO: OS CINCO PRINCIPAIS MOTIVOS QUE LEVARAM BOLSONARO A PERDER (POR POUCO) A ELEIÇÃO
Preço: R$ 65
Autoria: Maria Carolina Trevisan e Maurício Moura
Editora: Editora Telha (172 páginas)