Paulo Cupertino Matias, 54, foi condenado a 98 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais do artista. O júri durou dois dias e terminou nesta sexta-feira (30) no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
O crime aconteceu em junho de 2019, no bairro de Pedreira, na zona sul de São Paulo. Rafael, que atuou na novela “Chiquititas” e em comerciais, namorava a filha de Cupertino à época. Ele tinha 22 anos. Ao ser morto ele estava na companhia do pai, João Alcisio Miguel, 52, e da mãe, Miriam Selma Miguel, 50.
Segundo os depoimentos, os três foram até a casa de Isabela Tibcherani, no dia 9 de junho daquele ano, para conversar com o pai dela sobre o namoro. As vítimas foram recebidas pela mãe e pela jovem.
Logo depois, Cupertino teria chegado com uma arma e, em seguida, atirado contra as três vítimas, que aguardavam no portão da casa. Todos morreram no local.
Cupertino está preso desde maio de 2022, quando foi encontrado por policiais escondido em um hotel em Interlagos, na mesma região do crime, ao ser detido por policiais civis do 98º DP (Jardim Miriam).
Acusados de ajudarem na fuga do amigo, Wanderley Senhora e Eduardo José Machado foram absolvidos. Em depoimento na quinta, eles negaram as acusações. A Promotoria não se opôs à absolvição dos dois.
O júri foi formado por quatro homens e três mulheres. O réu não presenciou a leitura da sentença, e uma das advogadas dele, Camila Motta, afirmou que a defesa seguirá se manifestando apenas nos autos do processo.
Familiares de Rafael Miguel choraram, se abraçaram e agradeceram aos promotores.
Fernando Viggiano, advogado da família Rafael Miguel, comemorou a condenação de Cupertino. “O júri deu um recado para a sociedade, o que ocasiona a conduta de um criminoso que chegou a figurar na lista dos mais procurados da América Latina. Foi uma pena justa, 98 anos por assassinato triplo. Então, é uma pena justa.”
Já o promotor Thiago Alcocer Marin disse estar feliz por ter tirado um peso das costas.
“Que essa sentença de hoje seja o espelho para todas as outras sentenças. Foi uma sentença extremamente justa, uma sentença impecável. Que seja um norte para a gente acabar com essa cultura da pena mínima no Brasil.”
Na sessão desta sexta, o promotor Marin pediu uma pena exemplar para o réu. Ele afirmou que Rafael Miguel foi “assassinado de forma covarde”. Segundo ele, foram 12 tiros, sendo 7 em Rafael, 3 em João Alcisio e 2 em Miriam.
Já Mirian Nunes Souza, uma das advogadas de defesa, sustentou que o Ministério Público não tem provas de que ele cometeu o crime. “Meu cliente não é assassino. Meu cliente não matou as três vítimas. As testemunhas acham que ele matou, porque ele não se conformava com o namoro da filha”, disse.
Na véspera, o próprio Cupertino disse que não tinha conhecimento de Rafael nem teria motivos para matá-lo ou a seus pais. “Impossível eu ter cometido esse crime”, afirmou ao entrar no plenário. “Eu nunca tive acesso ao Rafael, à dona Miriam, ao seu João. Eu não matei o senhor Rafael.”
O promotor Marin mostrou fotos do local do crime. A intenção era ressaltar que, próximo aos corpos e no bolso de uma das vítima, havia pertences, o que refutaria uma tese de latrocínio (roubo seguido de morte). Alguns dos parentes choraram nesse momento.
Rogério Leão Zagallo, promotor que acompanhava Marin, disse ainda que o carro das vítimas não foi levado.
Depoimentos e Julgamento
MÃE E FILHA RELATARAM AGRESSIVIDADE
Na quinta, a primeira a prestar depoimento foi Isabela Tibcherani Matias, filha de Cupertino e namorada de Rafael, que pediu ao juiz para que o pai não estivesse presente na sala durante sua fala.
Ela disse que o relacionamento com o jovem era difícil pelas proibições impostas pelo pai e relatou diversos episódios em que ela e a mãe foram agredidas por ele.
Ela contou que no dia do crime encontrou-se com Rafael em uma praça próxima de casa para conversarem. Depois, seguiu com os pais de Rafael até a casa deles. Na sequência, ela entrou novamente no carro dos pais do jovem e seguiram todos para a sua residência.
A intenção, segundo ela, era deixá-la em casa em segurança e conversar com a sua mãe, já que os pais de Rafael tinham conhecimento das proibições que ela vivia.
A jovem contou ter se assustado ao ver seu pai abrir o portão da casa, pois ele não morava mais lá já tinha outra família. Ele então a puxou pelo braço e mandou que ela entrasse na residência.
Rafael e a mãe, que estavam mais próximos, tentaram conversar com Cupertino. “Conversar nada”, teria dito o réu, segundo a filha. “Após essa fala, eu ouvi os disparos. Foi uma sequência muito longa”, acrescentou.
Isabela disse ter saído de casa e visto os corpos e Rafael e dos pais na rua. A filha ainda relatou momentos em que foi agredida pelo pai e o classificou como machista e misógino. Ela também disse que toma medicação até hoje e seu irmão, que tinha 13 anos na época do crime, é deprimido.
Vanessa Tibcherani de Camargo, ex-mulher de Cupertino, também participou do julgamento. Ela abriu seu depoimento afirmando que Cupertino “assassinou as três pessoas a sangue frio” e chamou Rafael de “menino do bem, de família”.
Segundo ela, no dia do crime, Cupertino, assim que chegou em casa, perguntou sobre a filha e ficou nervoso ao não encontrá-la. Então, teria seguido até uma padaria e depois retornado para casa. Vanessa disse ter ouvido o ex-marido falar de forma exaltada. Pouco tempo depois, ouviu os disparos.
Anulação do Primeiro Júri
Cupertino chegou a se sentar no banco dos réus em outubro passado. Poucas horas depois de o júri ser iniciado, porém, ele resolveu destituir a sua defesa.
O acusado dos assassinatos alegou quebra de confiança, o que impediu o prosseguimento do julgamento e resultou na anulação dos trabalhos e dos depoimentos já realizados.
PAULO EDUARDO DIAS